62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 3. Enfermagem Médico-Cirúrgica
CONHECIMENTOS UTILIZADOS PELO ENFERMEIRO NO PROCESSO DE CUIDAR NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
Bertha Cruz Enders 1
Priscila Brigolini Porfírio Ferreira 2
1. Universidade Federal do Rio Grande do Norte
2. Hospital Pasteur, Rio de Janeiro, RJ
INTRODUÇÃO:

Dentre os vários cenários do processo de cuidar do enfermeiro,  a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um ambiente de trabalho onde a rotina e normas de assistência são imprescindíveis à recuperação e ao restabelecimento do ser cuidado que se encontra em estado crítico. A assistência de enfermagem concretiza-se, portanto, em meio a um contexto  carregado de fatores estressantes de vida e morte, com características de um trabalho tecnificado, rotinizado, concentrado no diagnóstico e tratamento, e liderado pelo médico.  Contudo, a assistência de enfermagem na UTI é factível no cuidado direto ao paciente, através de ações de baixa, média e alta complexidade que requerem julgamentos clínicos. Sugere-se que neste processo se insere um conhecimento muito maior do que se visualiza ou se registra. Assim, pressupõe-se que o cuidar realizado na UTI, como em outros contextos, vem acompanhado de conhecimentos a ser desvelados que permitem  compreender os elementos que sustentam as ações e as formas de enfrentar problemas. Com base nessas considerações, realizou-se este estudo com os objetivos de: 1) Identificar os conhecimentos inseridos no cuidado do enfermeiro em UTI e 2) Refletir sobre os conhecimentos que orientam a tomada de decisão do enfermeiro no cuidar em UTI.

METODOLOGIA:

Estudo qualitativo realizado nos meses de julho e agosto 2007 em uma UTI de 7 leitos pertencente a  um hospital público do Estado do Rio Grande do Norte. Utilizou-se o método de Investigação Reflexiva (IR) que operacionaliza os conceitos da Ciência-ação para a realidade da prática profissional através da reflexão crítica da vivência prática. A reflexão permite descobrir a coerência, consistência ou inconsistência, entre as intenções profissionais e a ação realizada, identificando  fontes de influências na prática específica. Participaram todos os 8 enfermeiros que atuavam no local no período do estudo.  Aprovado pelo  Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN, a coleta de dados foi realizada por meio de observação não participativa e entrevista semi-estruturada, com as observações registradas em notas de observação. Toda ação do profissional realizada com o paciente era acompanhada e observada utilizando um guia de observação.  Na entrevista direcionava-se o enfermeiro a refletir sobre as ações realizadas e os conhecimentos utilizados, fazendo uma reflexão comparativa entre os indicadores observados e os relatados. A análise consistiu de uma reflexão crítica as congruências e incongruências dos conhecimentos usados até chegar aos padrões que os enfermeiros utilizam para implementar as ações.

RESULTADOS:

Seis categorias de conhecimentos utilizados pelos enfermeiros no transcurso do cuidar foram identificados:  Avaliação e prescrição; Promoção de bem-estar e conforto;  Semiotécnica; Comunicação; Prevenção de infecção hospitalar; e Religiosidade no trabalho. São conhecimentos de tipo científico, filosófico, tácito, popular, religioso, empírico, pessoal, ético e estético, com predomínio do científico. Os enfermeiros superam a sua formação para a assistência especializad quando usam conhecimentos diversos. No processo de cuidar, os enfermeiros fazem inferências científicas sobre o estado geral do assistido a partir de conhecimentos pessoais advindos da experiência e das apreensões previas. A comunicação que se instala por meio dos procedimentos, do olhar, do toque e do dialogo, transmitem ao enfermeiro os indícios sobre a situação. Para possibilitar sua análise prévia e desencadear uma ação específica, o enfermeiro lança mão de conhecimentos de seu "eu", ou seja, do conhecimento pessoal desenvolvido no âmbito pessoal e familiar, adquirido no meio sócio-cultural e lapidado pela construção moral. Os conhecimentos são implementados pela  intelectualidade e outros processos subjetivos, intuitivos e criativos, tornando esses processos  em  instrumentos de trabalho.

CONCLUSÃO:

Compreende-se que todos os elementos apontados pelos enfermeiros no que tange ao saber adquirido por eles, sugerem a existência de conhecimentos utilizados no pensar e no agir. Os enfermeiros interagem no ambiente de cuidados críticos através de uma observação diferenciada, de experiências acumuladas, de raciocínio clínico e lógico, de aspectos afetivos e intuitivos, através de conhecimentos explícitos e tácitos. Destarte, visando o cuidado, os enfermeiros utilizam as técnicas, principalmente os princípios científicos adquiridos na formação como especialistas, em conjunto com o saber individual advindo de suas experiências, embora não de forma sistematizada e consciente. São conhecimentos  adquiridos  previamente ou  construídos propriamente durante as ações, caracterizando-se, assim, como conhecimentos da prática,  passíveis de serem explorados e convertidos em teorizações. A partir dessa apreensão, ressalta-se o quanto  a  construção do saber em enfermagem necessita de estudos de forma a tornar públicos e conhecidos os conhecimentos contidos no fazer desses profissionais criativos e intuitos. Esses estudos podem dar origem a novas tecnologias, contribuindo assim, para o desenvolvimento de enfermagem como ciência.

Palavras-chave: conhecimento, cuidado, UTI.