62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 12. Neurociências e Comportamento - 1. Neurociências e Comportamento
EFEITO DE FIGURAS EMOCIONAIS SOBRE UM TESTE IMEDIATO DE RECONHECIMENTO DE PALAVRAS
Cleanto Rogério Rego Fernandes 1
Angélica Paula da Trindade 2
Camila Nascimento do Rêgo 1
Wilkson Darthayan Câmara Lima Alves de Sena 2
Raphael Bender Chagas Leite 1
Fabíola da Silva Albuquerque 3
1. Depto. de Fisiologia, Centro de Biociências, UFRN
2. Depto. de Psicologia, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, UFRN
3. Orientadora - Laboratório de Estudos da Memória, Depto. de Fisiologia, UFRN
INTRODUÇÃO:

A literatura aponta que a memória pode se beneficiar do estado de alerta induzido por um estímulo emocional, possivelmente através do efeito modulador sobre os mecanismos atencionais. As figuras do Sistema Internacional de Figuras Afetivas (IAPS) formam um instrumento afetivo padronizado já adaptado para uso no Brasil e têm sido utilizadas com o objetivo de induzir estados de humor ou desencadear estados emocionais. O efeito da emoção sobre a memória tem sido alvo de muitos estudos, que se justificam não só pelo avanço que proporcionam na compreensão desses fenômenos e da relação que existe entre si, mas também por subsidiarem aplicações em diversos ramos como educação, psicoterapia e área forense.  Pesquisadores identificaram que itens apresentados após cenas com maior valência emocional têm melhor desempenho na recuperação. Nesse sentido, nosso objetivo foi avaliar o efeito da apresentação de cenas neutras, agradáveis ou desagradáveis sobre o desempenho da memória imediata de reconhecimento de palavras comparando com a situação em que não houve a apresentação das cenas.

METODOLOGIA:

Participaram do estudo 36 estudantes universitários com idade entre18 e 25 anos, sendo 17 homens e 19 mulheres. O teste de memória imediata consistiu na apresentação visual de uma lista de 15 palavras neutras (fase de treino), seguida de uma tarefa de reconhecimento (fase de teste), na qual as 15 palavras estudadas foram misturadas a outras 15 palavras (distratores) e o participante deveria discriminar entre os itens vistos no treino e os distratores. Metade dos sujeitos respondeu ao teste sem ter visto uma figura antes, enquanto a outra metade foi dividida em três grupos de seis indivíduos cada. Num desses grupos os sujeitos viram uma figura neutra; no outro, uma figura agradável; e no outro, uma figura desagradável. Cada um dos participantes observou a cena por 5 segundos e avaliou-a em relação ao grau de alerta em uma escala de 1 a 5, em seguida realizou o teste de reconhecimento. Posteriormente, esses sujeitos observaram cenas de conteúdos diferentes para registrar sua avaliação sobre elas.

RESULTADOS:
As respostas da avaliação das figuras foram submetidas a uma análise de variância de duas vias (tipo de figura e gênero) e identificamos um efeito do tipo de figura [F(2,102)=57,188; p<0,001], sendo aquelas desagradáveis as que receberam maior avaliação, seguidas pelas agradáveis e pelas neutras. Esses resultados são consistentes com os relatados na padronização e validação do IAPS, demonstrando sua adequação como instrumento para indução de estados emocionais. Comparando o desempenho no teste de reconhecimento conforme o grupo, não encontramos diferença significativa [F(3,35)=1,582; p<0,213]. Contudo, realizamos testes T entre os grupos e identificamos diferença significativa entre o desempenho após uma figura agradável, comparado a uma figura neutra [p<0,016], além de uma tendência para melhor desempenho após uma figura agradável, comparado com a condição sem figura. Provavelmente, a valência emocional positiva das cenas agradáveis promoveu um aumento da atenção. Muitos estudos demonstram que estímulos desagradáveis apresentam maior efeito sobre a memória do que os agradáveis, por serem mais alertantes. Entretanto, esse efeito geralmente é observado em testes de longo prazo.
CONCLUSÃO:

A apresentação de uma figura com valência emocional agradável e que induziu alerta promoveu uma melhor recuperação de palavras neutras em um teste de reconhecimento de curto prazo, o que parece estar relacionado a um aumento da atenção durante a codificação promovida pelo estímulo com valência emocional. Apesar de terem sido consideradas mais alertantes, as figuras desagradáveis não apresentaram nenhum efeito significativo sobre o reconhecimento imediato das palavras. Vários estudos relatam uma melhor recuperação de estímulos neutros associados a estímulos negativos e altamente alertantes em testes de evocação de longo prazo. Ao que parece, o alerta atua na consolidação dos conteúdos para a memória de longo prazo, antes que um efeito durante a codificação, como observado para a valência emocional.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Palavras-chave: memória, alerta emocional, IAPS.