62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 2. Comportamento Animal
AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DE PISTAS DE COR E FORMA SOBRE A DETECÇÃO DE ALVOS CRÍPTICOS, CONSPÍCUOS E CAMUFLADOS EM GRUPOS DE SAGUIS (Callithrix jacchus) CATIVOS
Priscilla Kelly da Silva Barros 1
Daniel Marques de Almeida Pessoa 2
1. Depto de Fisiologia. Pós-Graduação em Psicobiologia - UFRN
2. Prof. Dr. /Orientador Depto de Fisiologia - UFRN
INTRODUÇÃO:

     Para um animal apresentar visão de cores se faz necessário que sua retina seja composta por, no mínimo, duas classes diferentes de células fotorreceptoras, além de substrato neural para integrar informações provenientes dessas células. Primatas do Novo Mundo, incluindo Callithrix jacchus, possuem uma condição visual polimórfica, com a presença de fêmeas tricromatas e dicromatas, bem como machos dicromatas. Duas hipóteses, em função da alimentação, tem sido sugeridas: 1) tricromatas teriam vantagem na detecção de frutos maduros ou folhas jovens contra um background (e.g. folhagem); 2) dicromatas seriam capazes de detectar itens camuflados, podendo utilizar outras pistas visuais como brilho, textura e forma. Estudos relacionados a diferenças entre machos e fêmeas vem sendo cada vez mais desenvolvidos através de tarefas que envolvam forrageio. O objetivo desse estudo é avaliar o desempenho de machos e fêmeas cativos de Callithrix jacchus em tarefas que envolvam a detecção visual de itens alimentares.

METODOLOGIA:

     As observações foram realizadas em 4 semanas no Núcleo de Primatologia da UFRN, utilizando 2 grupos familiares de sagüi (Callithrix jacchus), totalizando 5 fêmeas e 7 machos. Os itens alimentares a serem detectados em meio ao substrato (cubos de madeira colorida) eram pedaços de gomas comestíveis em forma de cubo ou esfera. As cinco situações apresentadas na tarefa alimentar foram: S1 (alvo de cor conspícua); S2 (alvo críptico); S3 (alvo de cor e forma conspícua); S4 (alvo de forma conspícua) e S5 (alvo camuflado). Para todas as situações foram colocados 6 alvos alimentares em apenas dois dos quatro potes plásticos apresentados aos animais. Um desses potes apresentava três alvos situados sobre o substrato (condição visível) e o outro pote apresentava três alvos enterrados sob o substrato (condição escondido). Também foram estabelecidos dois arranjos (um mais agrupado e um mais disperso) com os 4 potes plásticos na gaiola dos indivíduos. No total foram realizadas quatro repetições por situação, duas para a condição dispersa e duas para a agrupada. Cada sessão experimental teve duração máxima de 10 minutos, medindo a duração da tarefa e registrando o tempo em que cada alvo foi tocado, assim como qual membro do grupo o fez.

           

RESULTADOS:

     Os resultados mostraram que fêmeas e machos apresentaram desempenho diferenciado em algumas situações. Alvos conspícuos, com informação de cor e/ou forma, foram melhor detectados por fêmeas, tanto para número de itens como para latência, o que evidência a importância dessas pistas visuais bem como a interação entre elas. Considerando as latências de alvos detectados em cada situação, independentemente da condição e arranjo, encontrou-se uma diferença significativa entre sexos nas situações S1, S3 e S4, onde fêmeas obtiveram um melhor desempenho. Tal resultado pode ter ocorrido devido ao fato de que nessas situações temos algum tipo de informação (cor ou forma), enquanto que na situação S2 (ausência de pistas de cor e forma) dicromatas e tricromatas poderiam ser capazes de detectar os alimentos de forma similar. Para a situação S5, fêmeas tiveram uma redução do seu desempenho, equiparando-se aos machos dicromatas. Para tricromatas a camuflagem pode representar uma cena confusa de várias cores, já para dicromatas esse ruído cromático tende a diminuir. Fêmeas de forma geral se mostraram mais responsivas, realizando em menor tempo as tarefas apresentadas. De fato possuem uma maior motivação para busca de recursos alimentares.

CONCLUSÃO:

     Para as condições testadas nesse estudo podemos inferir que machos e fêmeas apresentam desempenhos distintos com relação à detecção de alvos alimentares para as situações que envolvem um maior contraste de cor ou forma. Para demais situações, os desempenhos de machos e fêmeas são similares. As diferentes pistas visuais parecem ser importantes para a detecção de alvos alimentares, bem como a interação entre elas, particularmente a cor e a forma. De forma geral, nota-se que fêmeas foram mais responsivas para a realização das tarefas alimentares, o que poderia está associado a vários fatores, inclusive ao seu fenótipo visual.

Palavras-chave: Visão de cores, Callithrix jacchus, Forrageio.