62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 12. Neurociências e Comportamento - 1. Neurociências e Comportamento
O USO DA FUNÇÃO DE SENSIBILIDADE AO CONTRASTE PARA AVALIAR A PERCEPÇÃO VISUAL DE VOLUNTÁRIOS COM ESQUIZOFRENIA
Olívia Dayse Leite Ferreira 1
Renata Maria Toscano Barreto Lyra Nogueira 1, 2
Rosália Carme Lima Freire 1
Maria José Nunes Gadelha 1
Cibele Siebra Soares 1
Natanael Antonio dos Santos 3
1. Psicologia, Laboratório de Percepção Neurociências e Comportamento (LPNeC), UFPB
2. Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo - USP
3. Prof. Dr./Orientador Depto. de Psicologia, LPNeC - UFPB
INTRODUÇÃO:
A esquizofrenia é um transtorno neuropsiquiátrico cuja etiologia multifatorial pode estar associada a fatores bioquímicos, genéticos, comportamentais, cognitivos e psicossociais. De todas as psicoses, a esquizofrenia tem o mais severo impacto na qualidade de vida e capacidade laboral dos pacientes. Esta pesquisa partiu de estudos empíricos que relatam que pacientes com esquizofrenia apresentam vários prejuízos no processamento da informação, não apenas nos níveis cognitivos, mas também nos níveis perceptuais. Neste sentido, o presente trabalho teve por objetivo caracterizar a resposta do sistema visual humano de voluntários portadores de esquizofrenia medicados, utilizando a curva de sensibilidade ao contraste (FSC) fotópica para estímulos de frequências espaciais com grades senoidais verticais, através do método psicofísico da escolha forçada (2AF). A FSC pode ser definida como o inverso da curva de limiar de contraste (1/FSC), que estima a quantidade mínima de contraste necessária para se perceber um objeto no espaço. A redução ou a elevação da intensidade de contraste necessária para se detectar um estímulo é um sinal de alteração dos mecanismos ou vias sensórias que processam contraste decorrente de insultos internos ou externos.
METODOLOGIA:
Participaram 19 voluntários de ambos os sexos com acuidade visual normal ou corrigida e faixa etária entre 20-47 anos, sendo nove portadores de esquizofrenia devidamente medicados (Grupo Experimental - GE), e dez isentos de patologia (Grupo Controle - GC). Foram medidas curvas de FSC para estímulos de grade senoidal vertical com frequências de 0,25; 2,0; 4,0 e 8,0 cpg (ciclos por grau de ângulo visual). Os estímulos foram apresentados sucessivos e aleatoriamente em um monitor LG de 19 polegadas, com luminância média (42,6 cd/m2). As medidas foram realizadas binocularmente a 150 cm da tela do monitor, com o método psicofísico da escolha forçada entre duas alternativas temporais (2AF), no qual o participante tinha que escolher entre dois estímulos aquele que continha a frequência teste (grade senoidal), o outro era sempre um círculo cinza homogêneo. Então, cada estímulo era apresentado por 2 s, com intervalo entre estímulos de 1 s e com intervalo entre tentativas, ou par de estímulos, de 3 s. Os voluntários foram orientados a pressionar o botão esquerdo do mouse quando o estímulo de teste fosse apresentado primeiro, e o botão direito do mouse quando fosse apresentado depois do estímulo neutro.
RESULTADOS:
Os valores de limiar de contraste dos voluntários foram agrupados em planilhas, de acordo com a condição, grupo controle e grupo com esquizofrenia e feito o tratamento estatístico adequado. Os resultados (Anova) demonstrou diferenças significantes entre os grupos [F (8; 948) = 41, 4543; p < 0, 001] e o Teste Unequal N HSD mostrou diferenças significantes entre o GC e GE em todas as frequências de grade senoidal vertical (p < 0,001), no entanto o prejuízo na sensibilidade destes participantes foi mais proeminente nas frequências de 2,0 e 4,0 cpg. Estes dados indicam prejuízos no processamento visual de contraste associados à esquizofrenia, sugerindo que esse transtorno altera o sistema visual de forma difusa, principalmente no que se refere às vias parvocelular e magnocelular.
CONCLUSÃO:
O presente estudo teve por objetivo caracterizar o processamento visual de voluntários com esquizofrenia. Pode-se concluir em termos gerais que a esquizofrenia afeta o processamento visual de contraste, indo de encontro com aquelas pesquisas que sugerem prejuízos visuais associados a esse transtorno, tanto no processamento de frequências espaciais médias/baixas (via magnocelular) como no de frequencias espaciais médias/altas (via parvocelular). Estudos desta natureza podem contribuir para maiores conhecimentos teóricos e comportamentais da esquizofrenia ou até com um melhor tratamento e qualidade de vida para os pacientes se não de imediato, mas quem sabe futuramente.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Sensibilidade ao contraste, Esquizofrenia, Frequências espaciais.