62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 2. Microbiologia Aplicada
CONTAMINAÇÃO POR Staphylococcus aureus EM LEITE IN NATURA
Francisco Angelo Gurgel da Rocha 1
Jéssica Anarellis Barbosa dos Santos 1
1. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte - IFR
INTRODUÇÃO:
O leite é consumido pelas comunidades humanas desde a domesticação de animais. Considerado recurso nutricional básico pela Organização Mundial da Saúde, é rico em proteínas, açúcares, gorduras, vitaminas, água e sais minerais, o que o torna um excelente meio de cultura, favorável à proliferação microbiana. Dado o seu baixo custo de produção, facilidade de acesso e baixo preço final ao consumidor, é tradicionalmente consumido pela população nordestina. Produzido e comercializado sob condições higiênico-sanitárias deficientes, o produto pode ser contaminado por microrganismos em quaisquer das etapas da sua cadeia produtiva. Dentre os microrganismos patogênicos potencialmente presentes, destacamos o Staphylococcus aureus, espécie capaz de produzir sob ampla faixa de condições físico-químicas, enterotoxinas termoestáveis, capazes de permanecerem ativas mesmo após o aquecimento a 100ºC por 30 minutos. A ingestão de alimentos contaminados por tais toxinas pode gerar quadros de Enterotoxicose Estafilocócica, com gravidade variável. Com período de incubação que varia entre trinta minutos a oito horas, os principais sintomas da intoxicação são náuseas, vômitos, cãibras abdominais dolorosas, diarréias e sudorese. Podem ainda ocorrer dores de cabeça, calafrios, hipotensão e febre, quando a quantidade de toxina ingerida é elevada. Em geral a doença não é fatal, mas pode resultar em óbito no caso de indivíduos debilitados. Apesar do risco potencial à saúde humana, a legislação pertinente não estabelece limites legais para a presença do microrganismo no leite in natura. No município de Acari - RN, o produto é comercializado em pontos de venda caracterizados por condições sanitárias inadequadas, distribuídos em sua zona urbana. É também verificada a venda a domicílio, sob condições ainda mais precárias. Não existe fiscalização por parte das autoridades competentes, o que abre a possibilidade da veiculação do S. aureus e/ou suas toxinas no leite in natura disponível aos consumidores. O quadro descrito configura risco potencial à Saúde Pública, justificando a implantação de projetos que visem o dimensionamento deste risco e forneçam subsídios para estudos e intervenções posteriores. O presente trabalho objetivou quantificar a contaminação por S. aureus no leite in natura comercializado na zona urbana do município de Acari - RN, caracterizando-o como adequado ou não ao consumo humano.
METODOLOGIA:
Foram coletadas dez amostras nos quatro pontos de venda da zona urbana da cidade. As amostras foram coletadas em frascos estéreis hermeticamente fechados, posteriormente acondicionados em caixas isotérmicas contendo gelo. O material foi encaminhado ao Laboratório de Alimentos do IFRN/ Campus Currais Novos para a realização das análises. Foram realizadas diluições decimais seriadas em solução salina peptonada, de 10-1 a 10-6. As diluições foram semeadas em duplicata pelo método spread plate em placas de Petri contendo 15 mL de ágar Baird-Parker, suplementado com emulsão salina de gema de ovo e telurito de potássio a 1%, objetivando a seleção de colônias típicas (negras, circulares, pequenas, lisas, convexas, com bordas perfeitas). As placas foram incubadas na posição invertida a 35-37ºC/24±2h, após o que as colônias típicas foram contadas e registradas. Os resultados foram expressos em UFC/mL.
RESULTADOS:
Contagens elevadas de S. aureus foram observadas em 90% dos casos, indicando baixas condições higiênico-sanitárias em uma ou mais etapas da cadeia produtiva do leite analisado. Em uma das amostras, o limite de 106 UFC/mL foi excedido. A partir deste, o nível de toxina produzida passa a representar risco à humanos. Contudo, as demais amostras apresentaram populações que variavam entre 3,1x103 a 6,1x105. Dadas as condições de armazenamento e comercialização inadequadas e favoráveis à rápida proliferação do S. aureus observadas in loco, é possível que o limite citado fosse excedido em poucas horas, resultando em níveis danosos de enterotoxina. O consumo do leite contaminado poderia resultar em intoxicações de gravidade variável, em dependência do grau de suscetibilidade do indivíduo, da concentração de enterotoxina no produto e da quantidade de leite ingerida.
CONCLUSÃO:
Noventa por cento das amostras apresentaram altos níveis de contaminação pelo S. aureus. Com base nos resultados obtidos, concluiu-se que o leite in natura comercializado no município Acari - RN é impróprio para o consumo humano.
Instituição de Fomento: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte - IFRN.
Palavras-chave: Staphylococcus aureus, Acari, Seridó.