A referida pesquisa surgiu a partir de um projeto de Iniciação científica intitulada "Um olhar sobre a prática pedagógica como reflexo da formação de professores", a experiência de base deste estudo, deu-se no curso de formação de professores realizado na Parceria Universidade do Estado do Amazonas (UEA) em convênio com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), realizado no período de 2004 a 2008. O objetivo deste estudo é analisar a Educação do Campo como um referencial para a formação do educador voltado para uma perspectiva da Educação Popular. Para compreender a formação docente na ótica da Educação do Campo precisamos voltar nosso olhar a construção dos Movimentos Sociais de caráter popular retomando a idéia da Educação do Campo enquanto um projeto de educação humanista e revolucionária, que possui em suas bases os fundamentos contidos na teoria freiriana, que busca um entendimento da sociedade, dos sujeitos oprimidos e dos opressores refletindo na realidade educacional, o modelo de educação bancária alienante e destacando as possibilidades de construção de um processo educacional de caráter libertador.

A condução teórico-metodológica da investigação parte de uma perspectiva dialética numa abordagem qualitativa centrada na análise de conteúdo de entrevistas estruturadas e textos monográficos. Para concretização do estudo efetivou-se um levantamento bibliográfico dos pressupostos teóricos que norteiam o entendimento da Educação do Campo. Buscamos fundamentação em Arroyo (1986-2004), Caldart (2000-2002-2004), Freire (1987-1992-2001-2003) Molina (2004) entre outros.

De acordo com a análise prévia dos dados, verificamos que é importante pensarmos a formação do (a) professor (a) para a construção da Educação do Campo na medida em que está profundamente ligada ao processo de construção do desenvolvimento sustentável das comunidades de áreas de assentamento e, ao mesmo tempo, na conquista de espaços no campo político e para tal se faz necessário o fortalecimento de políticas públicas voltadas à Educação do Campo na construção de uma Escola pautada nos princípios de autonomia dos povos do campo respeitando sua diversidade na efetividade e na qualidade do ensino. Assim, a formação do professor deve ser vista como um processo, em que a Escola se constitui em um espaço privilegiado em que professores pode desenvolver uma prática investigadora de caminhos com novas metodologias para a realização de um trabalho coletivo que busca fortalecer a autonomia nos espaços educativos. Ensinar é, pois, acima de tudo, um aprender constante. As questões sobre o que ensinar devem nos conduzir a reflexões mais profundas sobre as finalidades da educação, sobre nossos valores e intenções.

Neste estudo estabelecemos uma discussão acerca da relação entre os Movimentos Sociais e a Educação do Campo, destacando a questão da formação do professor discutida e construída por esses movimentos sociais na direção do que define a Resolução CNE/CEB nº. 1, de 3 de abril de 2002 que trata das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica na Escola do Campo sob a ótica do direito, implicando no respeito às diferenças, tratando a qualidade da educação escolar na perspectiva uma prática docente fortalecedora de um processo de inclusão social. As discussões tecidas na presente pesquisa apontam para o fato de que os desafios na busca da profissionalização do professor passam primeiro, pela qualificação pedagógica. Portanto, a construção coletiva do conhecimento agrega valores como comprometimento e pertencimento fortalecendo a democracia que esperamos e pela qual lutamos. Deve-se ressaltar, ainda, que a identidade da Educação do Campo está intimamente ligada à opção pelo fortalecimento das organizações e movimentos gestados pelos setores populares que, trabalhando coletivamente, buscam o desenvolvimento de condições objetivas e subjetivas, possibilitando a construção de um sujeito capaz de alcançar sua emancipação através da construção de um saber de classe.