62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde
MEMÓRIAS DO HOLOCAUSTO: A PSICOTERAPIA ATRAVÉS DO CINEMA
Lucélia de Almeida Andrade 1
Ianny Felinto Medeiros 1
Inácia Hosana Feitosa 1
Roberta Magna Silva Siqueira 1
Gilvan de Melo Santos 1
1. UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
INTRODUÇÃO:
O estudo da memória vem sendo bastante ampliado no meio acadêmico. Seja como investimento na busca de identidades, outro registro histórico, resultado de discursos e práticas discursivas, meio de transformação social ou ainda estratégia simbólica para transcender compulsões de repetição e a melancolia. Percebe-se que a memória é um "arquivo imperfeito". Assim, instâncias, como a política, a mídia e a arte, têm investido na possibilidade de manipulação ou de ressignificação desta. O cinema, além de provocar efeitos mobilizadores em relação aos acontecimentos do passado, tem sido também um fármaco, na tentativa de aliviar dores e curar feridas traumáticas, como o holocausto. A pesquisa que se enuncia teve o objetivo de analisar estratégias mnemônicas, abrangendo seus elementos simbólicos, discursivos e psicoterapêuticos, apresentados nos filmes A Lista de Scindler (1993) e A vida é bela (1997), identificando o filme como instrumento psicoterapêutico capaz de ressignificar ou curar traumas psicológicos, quando assimilada por um suposto espectador. Este estudo assume um caráter ético-social de revitalizador da memória dos campos de concentração, bem como provoca discussões acerca do fenômeno psicossocial da memória, possibilitando a argumentação sobre o caráter científico do cinema.
METODOLOGIA:
O corpus da pesquisa é constituído pelos filmes A lista de Schindler (1993), direção de Steven Spielberg, e A vida é bela (1997), de Roberto Benigni. Entretanto, fizemos inferências aos filmes Sclindler, o documentário (1983), de John Blair e Holocausto, a libertação de Auschwitz (1985). A escolha de tais filmes se deu pela variedade de estilos e repercussões internacionais acerca de suas produções. Como técnica de coleta de dados buscou-se, a partir da seqüência estudada, às vezes, decupada em planos ou takes, identificar as performances das personagens, discursos relacionados a estas, a estrutura mítica do enredo, a estrutura antropológica recorrente, alegorias referentes ao objeto de estudo, signos que isotopicamente configuram-se como metonímias do nomadismo ou eufemismo das estruturas; enfim, indícios de investimentos mnemônicos aplicados nos filmes. Identificados esses objetos, realizou-se a análises dos dados. Neste estudo, optamos pela análise das estruturas mnemônicas trabalhadas nas produções, incluindo os seus elementos simbólicos, discursivos e psicoterapêuticos. Entretanto, destacando um estudo que envolve a diegese fílmica, não será omitida a relação entre ela e o contexto onde a obra foi localizada cultural e socialmente.
RESULTADOS:
O filme é psicoterápico por provocar sentimentos e/ou dinâmicas de comportamento, através do processo de identificação entre personagens e espectadores, bem como através da representação do herói na tela, que, estendendo o plano performático representado nas referidas obras cinematográficas, ressignificam arquétipos e imagens arquetípicas, capazes de dinamizar a psique de quem as assiste. Em ambos os filmes estudados há que destacar a relação entre o herói e a tríade trágica: sofrimento, culpa e morte. No filme A Lista de Scindler as estruturas antropológicas recorrentes são a esquizomórfica ou heróica e a sintética ou dramática, onde na primeira o herói enfrenta a tríade trágica, e na segunda ele as transcende, tal como a caminhada final de judeus libertados por Schindler. Em relação ao filme A vida é bela pode-se perceber a estrutura antifrásica ou mística, onde o herói assimila a tríade trágica, brincando ou jogando com o drama do holocausto. Os filmes constituem dispositivos para formação de memória acerca do holocausto, funcionando como "memória protética", ou seja, uma memória substituta daquela tida como oficial.
CONCLUSÃO:
A influência sobre o espectador é uma das características essenciais do cinema. Os estudos de Eisenstein apontam para a suposição de certa analogia entre o psiquismo do espectador e os processos formais do filme. Ao longo de tais incursões o pensamento do autor da psique humana (AUMONT, 1995). As referidas variações vão desde o sistema estímulo - resposta, no qual o filme seria o estímulo para a obtenção de uma determinada resposta, até representações mais globais em que a obra cinematográfica levaria a um êxtase fílmico, uma relação mais afetiva, "saída de si" do espectador. Assim, a obra cinematográfica é psicoterápica por provocar sentimentos e/ou dinâmicas de comportamento, e, nesse sentido, constitui um instrumento para ressignificações de acontecimentos considerados traumáticos, como é o caso das vítimas do holocausto ou de ocorrências que a este se assemelhem, representados nas referidas obras.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPQ
Palavras-chave: Memória, Cinema, Holocausto.