62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
DO FACTUAL AO FICCIONAL E VICE-VERSA: SOBRE O TRÂNSITO INFORMACIONAL NA AMBIÊNCIA MIDIÁTICA
Welkson Pires da Silva 1
Wellington Pereira 2
1. Programa de Pós-Graduação em Sociologia, UFPE
2. Prof. Dr./ Orientador - Programa de Pós-Graduação em Sociologia, UFPB
INTRODUÇÃO:
Contemporaneamente vemos surgir um fenômeno: o embaralhamento discursivo entre as variadas realidades. Os antigos processos diferenciadores que separavam os discursos em factuais (reais) e ficcionais (irreais) perderam força frente a emergência da imagem midiática, cujo poder de tornar crível quaisquer enunciados apagou tal oposição. Ao estruturarem espetacularmente a informação, os media geraram uma nivelação/convergência discursiva, apresentando sob feições similares as distintas perspectivas acerca do mundo. Mais que isso, por organizarem-se segundo a lógica do entretenimento-informação, o produto que nos oferecem é um amálgama factual-ficcional. Em relação à conjuntura brasileira, essa situação fica evidente quando percebemos que o jornalismo nos apresenta reportagens com aparência de ficção e, em sentido inverso, a telenovela ganha ares factuais. Com isso, vê-se uma aproximação que gera um diálogo: são freqüentes os casos em que temáticas abordadas no âmbito novelesco pautam os veículos jornalísticos e vice-versa. A partir dessa constatação, podemos dizer que nosso objetivo principal é analisar o processo de interação midiático-discursiva entre os campos ficcional e factual, percebendo, a partir daí, a estruturação do trânsito informacional na ambiência midiática.
METODOLOGIA:
Visando compreender a interação entre as instâncias factual e ficcional na ambiência midiática, consideramos de fundamental importância, a priori, a problematização de dois conceitos-chave: realidade e ficção. Nesse sentido, a Sociologia do Conhecimento, segundo Berger e Luckmann, mostrou-se o aporte teórico mais indicado. No que concerne a percepção da mídia enquanto um ambiente que funciona segundo a lógica do espetáculo, onde os variados discursos convergem num amálgama factual-ficcional, seguimos uma Sociologia da Mídia com base no pensamento de Morin. A fim de demonstrar empiricamente a interação acima apontada, desenvolvemos uma pesquisa exploratória acerca da incidência das temáticas desenvolvidas pela telenovela Mulheres Apaixonadas (ficção), sobre o jornalismo impresso (facto) - focalizamos as matérias veiculadas pelas revistas semanais Veja e Istoé e pelo jornal diário Folha de São Paulo no mesmo período de transmissão da telenovela apontada. E, em via contrária, verificamos, através de referências no âmbito dessa telenovela e de entrevistas concedidas por seu autor, Manoel Carlos, até que ponto o cotidiano apresentado nos jornais pautou as discussões no âmbito de tal narrativa. Estando tais dados coletados, procedemos então à sua análise qualitativa de conteúdo.
RESULTADOS:
Primeiramente, verificamos que realidade e ficção têm a mesma condição basilar: são constructos sociais calcados no mundo concreto. Se ambas compartilham a mesma natureza, o único critério que nos pareceu definir tal oposição foi o da verdade, enquanto retórica do poder: a realidade (oficial) é definida por aquele que se encontra em status de dominância. Seguidamente, observamos que na atual conjuntura essa situação vem sendo modificada: há um deslocamento que vai da consideração de uma única realidade dominante em direção à constatação da multiplicidade de realidades possíveis. A mídia exerceu um papel fundamental nesse contexto, pois ampliou a visão de mundo dos indivíduos. E mais, ela modificou a formatação discursiva de campos outrora sedimentados: a imagem midiática nos oferece uma ficção com ares de real (factualização da telenovela) e uma realidade com ares de ficção (ficcionalização do jornalismo). Isso gerou uma aproximação entre tais campos - agora, simplesmente, realidades midiáticas - e, em conseqüência, um diálogo - trânsito informacional. Tal funcionamento aprofundou nossa compreensão da mídia como uma estrutura reticular, condição primeira à formação da ambiência midiática: espaço físico e discursivo constituído a partir do imbricamento entre os variados media.
CONCLUSÃO:
Com a comprovação empírica da interação midiático-discursiva entre as instâncias factual e ficcional e uma conseqüente compreensão dos processos aí subjacentes, verificamos o quão produtivas foram as opções teórico-metodológicas adotadas para o desenvolvimento desta pesquisa. Com isso, chegamos a seguinte constatação: uma sociologia da mídia que enfoque as realidades midiáticas pressupõe uma sociologia do conhecimento. Tendo em vista que essa se preocupa com aquilo que os indivíduos conhecem enquanto realidade. Estamos cientes, contudo, ao final deste processo, da importância de uma sistemática observação da concreta interação entre as realidades que a mídia oferece e os indivíduos presentes do outro lado da tela. Evidente que em determinados momentos, nos quais foi necessária uma alusão a essa interação, valemo-nos das diversas constatações empíricas obtidas pelos teóricos que nos nortearam o pensamento. Pois, para o nosso objetivo, uma pesquisa de recepção se mostraria inteiramente descabida. Embora, acreditamos que ela deva ser realizada num outro momento, para que possamos apreender, em pormenores, as modificações geradas na maneira como os indivíduos percebem e representam realidades a partir da convivência com os discursos midiáticos.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Telenovela, Jornalismo, Trânsito Informacional.