62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho
OS PROFISSIONAIS DA IGREJA E O TRABALHO PARA O DESENVOLVIMENTO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA NO CEARÁ  
Joannes Paulus Silva Forte 2, 1, 3
1. Curso de Ciências Sociais, Universidade Estadual Vale do Acaraú - UEVA
2. Depto. de Ciências Sociais, Universidade Federal do Ceará - UFC
3. Curso de Direito, Faculdade Luciano Feijão - FLF
INTRODUÇÃO:

O objetivo desta pesquisa foi analisar o trabalho dos profissionais da Igreja Católica chamados "Agentes de Cáritas" para o desenvolvimento de experiências de "Economia Popular Solidária" (EPS), engendradas pela Cáritas Brasileira, organismo vinculado à CNBB, no estado do Ceará. As questões centrais que nortearam a pesquisa foram: como a Igreja chega aos seus "filhos" por meio dos agentes de Cáritas? Quem são e de onde vêm? Como desenvolvem o trabalho para o fomento da EPS no Ceará? Quais os sentidos e os significados atribuídos por eles ao seu ofício? Como a lição cristã é interpretada pelos agentes no fomento da EPS a fim de efetivar a noção utópica de "Reino de Deus" no mundo pragmático dos homens? Qual o sentido da "solidariedade" da Cáritas e de seus agentes? No decorrer da pesquisa, estas indagações levaram ao conhecimento científico sobre a relação entre a Igreja Católica, via Cáritas, e o desenvolvimento da Economia Solidária no Brasil por meio do trabalho dos "Agentes de Cáritas" junto às populações pobres. A relevância deste trabalho reside na construção do conhecimento científico sobre o desenvolvimento da Economia Solidária, a qual tem como um de seus maiores objetivos o combate à pobreza e as formas perversas de inclusão.

METODOLOGIA:

A perspectiva metodológica adotada para o desenvolvimento da pesquisa deslocou-se de uma lógica puramente instrumental, concentrada nos dados quantitativos e na busca de mecanismos ajustadores, para outra em que a compreensão dos fenômenos exige a consideração das especificidades culturais como parte ativa desses processos e experiências. Quanto às técnicas e aos procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa, do ano de 2004 a 2008, lancei mão da observação flutuante, da análise de documentos institucionais, de matérias de jornais locais e consultas a websites. Além das observações in loco nos escritórios e no campo de atuação dos profissionais da Igreja, realizei entrevistas semi-estruturadas com treze agentes da Cáritas, no intuito de elucidar a relação entre economia solidária e Igreja Católica por meio do trabalho desenvolvido por esses protagonistas do "serviço social" da Igreja.

 

 

RESULTADOS:

A pesquisa revelou que, além de militante cristão, o agente de Cáritas é uma categoria de trabalhador formal que revela muitas contradições. O método de trabalho dos agentes se baseia na "solidariedade" para a "emancipação", tendo como recurso a "educação" para a "cultura da solidariedade". Orientados pela chamada "solidariedade libertadora", eles atuam, técnica e politicamente, no desenvolvimento de atividades econômicas associativistas com os "pobres", escolhidos preferencialmente pela Igreja Católica nas Conferências Episcopais de Medellín (1969) e Puebla (1979). Os agentes buscam formar os trabalhadores dos chamados "grupos produtivos solidários" a partir da moral solidária, tida como fundamental para a construção de uma sociedade baseada na lição cristã junto com os "excluídos/as", traduzida pela noção utópica de "Reino de Deus na terra". No entanto, a EPS, uma categoria do movimento da economia solidária, foi criada fundamentalmente por uma razão secular, qual seja: tornar as vidas das pessoas "pobres" possíveis, combatendo a pobreza e a chamada "exclusão social". Para o entendimento da EPS, foi necessário considerar a dinâmica das crises do capitalismo, cuja história está intrinsecamente relacionada aos processos de trabalho e às transformações sociais.

CONCLUSÃO:

Concluí-se que, por meio dos Agentes de Cáritas, a Igreja Católica tem agido com o fim de conduzir os homens à economia solidária. A evangelização da Igreja segue por meio de ações como o desenvolvimento da EPS no Ceará, de modo a colaborar com a manutenção do tecido social por meio de sua "opção preferencial pelos pobres", combatendo a pobreza e as formas perversas de inclusão.Com a análise do trabalho dos Agentes de Cáritas, profissionais da Igreja Católica, evidencia-se o movimento que vem sendo chamado de economia solidária, evocado, ora como uma alternativa, ora como uma possibilidade histórica, ao sistema capitalista, o que nos leva a pensar sobre questões motrizes para os caminhos de nossa sociedade, cujas respostas ainda não são deste tempo. Enfim, com a palavra a história...

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Igreja Católica, Economia Solidária, Agentes de Cáritas.