62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 3. Psicologia Clínica
AS OFICINAS TERAPÊUTICAS COMO RECURSO NA DESINSTITUCIONALIZAÇÃO E NA INCLUSÃO SOCIAL
Jackeline Sibelle Freires Aires 1
Marília Moura de Castro 1
Priscylla Cavalcanti Guedes 2
Ana Carolina Amorim da Paz 3
Vaneide Delmiro Neves 4
Zaeth Aguiar do Nascimento 5
1. Bolsista de Iniciação Científica CNPq - UFPB
2. Aluna de Iniciação Científica - UFPB
3. Psicóloga do CAPS I / Cabedelo/PB
4. Psicóloga / Coordenadora Técnica do CAPS I / Cabedelo
5. Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Psicologia - UFPB
INTRODUÇÃO:

As novas formas de tratamento no campo da saúde mental buscam evitar internações indiscriminadas, possibilitando tratamentos que incluam os sujeitos no corpo social e nos atos da sociabilidade. Para a psicanálise, o Sujeito se produz como efeito do trabalho clínico, trabalho este que pode se desenvolver nas atividades de grupo e nas oficinas de arte que ocorrem nos novos dispositivos clínicos de saúde mental. O presente trabalho foi realizado no CAPS I da Cidade de Cabedelo-PB. Esse serviço atua como referência ao tratamento de pacientes psiquiátricos e se insere nas novas modalidades de atendimento à saúde mental. Nesse serviço, investigou-se o trabalho desenvolvido nas oficinas terapêuticas objetivando identificar em que medida ele tem contribuído para a o estabelecimento do laço social dos usuários e para o processo de desinstitucionalização.

METODOLOGIA:

Ao longo de um ano, uma vez por semana, um pesquisador acompanhou as oficinas realizadas no serviço. O número de participantes em cada oficina foi em torno de 15 sujeitos. Para esta pesquisa, dois usuários foram acompanhados e o caso clínico de cada um, construído; eles foram escolhidos com base em sua história clínica que incluía internações. O acompanhamento envolvia a observação e escuta analítica. Utilizamos folhas de registro para anotar os discursos que eles proferiam e a relação deste com o material que foi produzido durante a oficina. As oficinas realizadas envolveram música, pintura e argila e diversos materiais foram utilizados, como papel, lápis, tinta, revistas, jogos, telas para pintura, argila, pincel, tesoura, massa de modelar e livros. Os usuários também podiam fazer uso de outras formas de expressão não incluídas na programação do dia. As oficinas ocorriam em uma sala com mesa, cadeiras, armários e duravam em torno de 50 minutos, mas também foi possível acompanhar os usuários fora da sala. Além do acompanhamento, foram realizadas entrevistas estruturadas com o terapeuta de referência dos usuários perspectiva de recolher elementos da história clínica do sujeito bem como avaliar os avanços quanto à inserção social e a melhoria no laço social.

RESULTADOS:
Nas oficinas observadas ao longo de 1 ano, constatamos que alguns usuários que não aderiam às atividades ofertadas como as oficinas, passaram a participar das mesmas, mesmo não elaborando um objeto concreto, mas pela via da palavra. Um dos sujeitos observados, J., não participava das oficinas mantendo-se geralmente isolado. Contudo, ao ser convidado a participar das oficinas livres demonstrou interesse pelas conversas que circulam nas mesmas. Sua presença tornou-se constante e por algumas vezes elaborou um trabalho, geralmente um desenho. Podemos dizer que J. é um dos usuários que encontrou na oficina livre um espaço para falar de si, do seu cotidiano, seu sofrimento psíquico e do seu tratamento, criando um vínculo com o outro. C. era descrito pela equipe como um usuário refratário, não participava das atividades oferecidas, ficando com o violão, mesmo sem saber tocá-lo. Os usuários reclamavam do barulho que C. fazia com o violão. Apesar da não participação de C. nos acolhimentos e nas oficinas, com o tempo ele começou a circular pelas mesmas. Em uma oficina de argila com uma ceramista, C. manteve-se participativo, dirigiu-se aos usuários e aos técnicos. A produção subjetiva pela via da escultura conferiu a C. uma posição de autor de um objeto concreto e favoreceu o laço social.
CONCLUSÃO:
Os resultados relatados nessa pesquisa demonstram que as oficinas terapêuticas favorecem a construção de um laço social, permitindo que o sujeito seja incluído pela via sua singularidade. Esta estratégia pode evitar que muitos deles acabem recorrendo à hospitalização como única via de tratamento. Como espaço de socialização e produção subjetiva, as oficinas atingem o objetivo da inclusão desses sujeitos no corpo social, favorecendo o processo de desinstitucionalização. É importante salientar que, além do objetivo proposto, a pesquisa dentro dos serviços substitutivos de saúde mental tem acompanhado os desafios e as interrogações a respeito da desinstitucionalização, entre eles, como evitar novas formas de cronificação dos serviços e a superlotação dos mesmos; como trabalhar em equipe multidisciplinar; como provocar mudanças no imaginário social na forma de encarar a loucura. Nesse sentido, é fundamental a continuidade de pesquisas nesse cenário para que esses desafios sejam trabalhados de forma a torná-los não um obstáculo, mas sim um instrumento de avanço.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Saúde Mental, Reforma psiquiátrica, Oficinas terapêuticas.