62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 12. Neurociências e Comportamento - 1. Neurociências e Comportamento
ENVELHECIMENTO VISUAL HUMANO: ASPECTOS COMPORTAMENTAIS E NEURAIS
Maria José Nunes Gadelha 1
Cibele Siebra Soares 1
Michael Jackson Oliveira Andrade 1
Rosália Carmen de Lima Freire 1
Natanael Antonio dos Santos 1
1. Departamento de Psicologia, Universidade Federal da Paraíba - UFPB
INTRODUÇÃO:
O percurso da vida humana é marcado por mudanças físicas, biológicas e neurais que determinam as capacidades neurofisiológicas de cada indivíduo. Com o avanço da idade, o sistema nervoso, assim como os demais sistemas, sofre mudanças morfológicas e funcionais, que podem alterar as funções cognitivas e comportamentais. Uma ferramenta bastante utilizada para analisar tanto aspectos comportamentais como neurais do Sistema Visual (SV) é a Função de Sensibilidade ao Contraste (FSC), o inverso do limiar de contraste (1/FSC). Assim, o presente trabalho procurou relacionar a perda das capacidades visuais ao processo de envelhecimento do sistema nervoso, principalmente às alterações comportamentais. O estudo dessas mudanças pode fornecer dados relevantes tanto no âmbito da psicologia sensorial quanto na caracterização dos mecanismos neurofisiológicos subjacentes ao envelhecimento humano.
METODOLOGIA:
Participaram desta pesquisa 32 voluntários com idade entre seis e 65 anos (18 homens e 14 mulheres), distribuídos em seis grupos, de acordo com a faixa etária: G1 (06-12 anos, n = 05); G2 (13-17 anos, n = 08); G3 (20-29 anos, n = 08); G4 (30-40 anos, n = 04); G5 (50-59 anos, n = 03) e G6 (60-67 anos, n = 04). Para mensurar o limiar de contraste de cada participante, utilizou-se o método psicofísico da escolha forçada com duas alternativas temporais para estímulos de grades verticais estáticas, com frequências de 0,25; 1; 2 e 8 ciclos por grau de ângulo visual (cpg). Os estímulos foram apresentados em um monitor de vídeo colorido LG/RCT (Cathodic Ray Tube), com tela plana de 19 polegadas, conectado ao hardware Bits++ (Cambridge Research Systems, Rochester, Kent, England). O ambiente experimental tinha dimensões de 2,5 por 2,0 metros, e era iluminado por uma lâmpada florescente Philips de 20W. O procedimento consistiu na apresentação dos estímulos a 150 cm da telado do monitor, no qual o participante teve que escolher, entre dois estímulos - estímulo neutro e estímulo teste - qual continha a frequência de teste. As sessões experimentais tinham duração de aproximadamente 5 a 10 minutos e cada frequência foi medida duas vezes, aleatoriamente, em dias diferentes.
RESULTADOS:
Para a estimativa da sensibilidade ao contraste, foram utilizados os valores da grande média dos limiares de contraste. As análises dos resultados feitas com a ANOVA one way mostraram um efeito principal entre idade e frequência espacial com F (20; 1165) = 18,32. Já as análises feitas com post-hoc Unequal N HSD,apontaram diferenças significantes entre a FSC do G1 e do G2 em todas as frequências testadas (p < 0,001 para 0,25 cpg; p < 0,001 para 1 cpg; p < 0,05 para 2 cpg e p < 0,001 para 8 cpg); entre a FSC do G2 e G3, em todas as frequências testadas (p < 0,001 para 0,25 cpg; p < 0,05 para 1 cpg; p < 0,05 para 2 cpg e p < 0,05 para 8 cpg) e entre a FSC do G3 e G6, nas frequências de 1 (p < 0,001), 2 (p < 0,001) e 8 cpg (p < 0,001). No geral, os resultados mostraram que a sensibilidade ao contraste para as frequências baixas atinge seu pico no início da fase adulta (G1), sofrendo alterações significantes apenas a partir dos 60 anos. Por outro lado, a sensibilidade ao contraste para as frequências altas atinge o pico na adolescência (G2), sofrendo alterações significativas já no início da idade adulta (G3), apresentando perdas gradativas até o final dos 60 anos, quando o prejuízo é bem maior.
CONCLUSÃO:
Este estudo discutiu as implicações do envelhecimento na sensibilidade ao contraste, de modo que foi possível identificar eventuais alterações no córtex visual ao longo da vida. Assim, foi possível constatar que a sensibilidade ao contraste passa por grandes mudanças durante as fases de desenvolvimento, maturação e envelhecimento do SV, com possíveis alterações tanto nos limiares de contraste de cada frequência espacial, como na forma da curva de sensibilidade ao contraste, com transferência do pico de sensibilidade das frequências altas na adolescência para as frequências baixas na vida adulta e com diferentes cursos durante o desenvolvimento para cada frequência espacial. Neste sentido, existe a possibilidade da FSC ser utilizada futuramente como ferramenta de prática diagnóstica, trazendo uma contribuição clínica muito importante que poderá ser usada na identificação de disfunções óticas e neurais encontradas ainda no período inicial de diversas patologias, desde a infância até idades mais avançadas.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Envelhecimento visual humano, Função de sensibilidade ao contraste, Método psicofísico.