O Trabalho de cadastramentos de sítios arqueológicos no litoral do Piauí foi realizado pelo Núcleo de Estudos Históricos e Geográficos- NEGH, no período de Fevereiro de 1995 a Setembro de 1996, como parte do "Projeto de Pesquisas Arqueológicas no litoral Piauí-Maranhão". Desta iniciativa foram encontrados 33 sítios arqueológicos entre Cajueiro da Praia (PI) e Tutóia (MA), sendo que 28 sítios foram cadastrados no território do Piauí. Os estudos contextuais avaliados nesse projeto e os critérios estabelecidos para a classificação dos sítios foram documentados segundo a terminologia e denominação de Sambaquis. No entanto, a literatura arqueológica e as características geoambientais observadas na atualidade permitem contrapor a realidade dessa classificação. A pesquisa sobre esses registros arqueológicos são os testemunhos atualmente mais antigos da ocupação humana no litoral e o objetivo considerado na execução deste trabalho pretende fornecer uma caracterização regional para novas análises desses assentamentos pré-históricos.  

Para o presente trabalho foram utilizadas três etapas. Primeiro foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre a literatura de sambaquis brasileiros, geomorfologia costeira e dinâmica artefatual na formação do registro arqueológico em regiões dunares.  O levantamento também se valeu da pesquisa de fontes como as fichas cadastrais de sítios arqueológicos do IPHAN-PI e as Cartas geológicas do CPRM. A segunda etapa correspondeu à pesquisa de campo através da visitação e georreferenciamento de 15 sítios já cadastrados na região, de coordenadas 2º 55'00'' Sul e 41º30'00''- 41º19'50'' Oeste utilizando GPS Garmin. A cobertura fotográfica deu-se com câmera Fujifilm, no período de Maio a Dezembro de 2009. Esse trabalho permitiu a identificação da contextualização regional dos sítios denominados como Sambaquis e observações sobre o domínio paisagístico da região de ocorrência arqueológica. A terceira etapa foi realizada em gabinete com a organização das fotos e dados coletados em cada sítio para uma avaliação das características geoambientais e arqueológicas do contexto encontrado em comparação com o levantamento da literatura arqueológica sobre a pesquisa de sambaquis. 

Os sítios litorâneos do Piauí avaliados nessa pesquisa foram contextualizados na planície costeira  e planície litorânea situados em zonas de transição nas proximidades de mares, rios, lagos e manguezais, que são fontes de uma abundante variedade de recursos alimentares. Os assentamentos são caracterizados pela concentração de restos alimentares em superfície formados por material malacológico composto de gastrópodes, bivalves e moluscos abundantes na região. Os vestígios da cultura material também são encontrados em superfície, constituídos pela presença de material cerâmico em abundância e em menor quantidade de instrumentos líticos polidos e refugos de lascamento, de origem mineral exógena à região encontrada. A formação desses registros arqueológicos compreende extensões de áreas com alturas e dimensões aproximativas devido à dinâmica geoambiental atuante no ecossistema costeiro que provoca a destruição das camadas estratigráficas superiores, deixando o material em superfície espalhado e disperso, descaracterizando seu contexto original. A modificação no ambiente é provocada pela ação eólica e movimentação das dunas que promovem alterações nos sítios com o encobrimento e descobrimento das ocorrências pelos sedimentos dunares. 

A partir dos resultados obtidos com a contextualização regional atual e a avaliação dos sítios no litoral piauiense, tendo em vista as pesquisas realizadas sobre sambaquis no litoral brasileiro, é possível contestar a ocorrência de ocupações sambaquieiras nesse Estado. Existem registros desses assentamentos pela faixa litorânea do Rio Grande do Sul até a Bahia e do Maranhão até o Litoral do Pará, incluindo o Baixo Amazonas, sendo que na maioria dos Estados nordestinos não há pesquisas sobre sambaquis. O intuito desse trabalho em compreender os aspectos regionais e o processo de formação dos sítios no litoral do Piauí pode oferecer importantes subsídios para compreensão do processo de ocupação e povoamento dessa porção do território brasileiro. Os sítios arqueológicos pesquisados devem então ser classificados e estudados como sítios dunares ou sítios a céu aberto de acordo com os critérios observados e apontados nas fichas cadastrais do IPHAN.  As abordagens usuais da presença de povos sambaquieiros no território estudado têm que passar por uma revisão na literatura arqueológica para não apontar divergências quanto ao contexto presente.