62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 8. Comunicação
O JORNALISMO CULTURAL POTIGUAR A PARTIR DO CADERNO "MUITO"
Tobias Arruda Queiroz 1
1. Aluno do Programa do mestrado em Estudos de Mídia - UFRN
INTRODUÇÃO:
Este trabalho é fruto de uma pesquisa desenvolvida em 2003 entre os meses de outubro e dezembro na editoria de cultura do jornal Diário de Natal. Nas doze edições analisadas procuramos classificar quantitavamente os gêneros jornalísticos publicados no caderno e, a partir de teóricos direcionamos o nosso estudo com o intuito de compreender a prática do jornalismo cultural potiguar, principalmente no que concerne a crítica cultural. A escolha do caderno "Muito", do Diário de Natal surgiu em decorrência dele ser, até então, o único caderno diário publicado aos domingos no Estado. As edições dominicais no jornalismo impresso apresentam uma maior tiragem e teoricamente há um tempo mais confortável para os jornalistas produzirem matérias. E por que estudar a crítica? Porque assim como o público, o meio artístico também sente a carência do olhar crítico. Pois "o que se deve exigir de um crítico é o seu poder de argumentação indo às características intrínsecas da obra e situando-a na perspectiva artística e histórica.(...) Cabe ao crítico, primeiro, tentar compreender a obra, colocar-se no lugar do outro, suspender seus preceitos, para então sedimentar as idéias e, mesmo que exprimindo dúvidas, chegar a uma avaliação" (PIZA, 2003).
METODOLOGIA:
Este trabalho se debruçou numa seleção de doze edições dominicais publicadas entre os meses de outubro e dezembro de 2003. Acreditamos que este número é representantivo, mesmo estando ciente de que esteja concentrado num curto período de espaço. De qualquer forma visualizamos que o período da pesquisa seja substancial no todo, pois a análise perpassou por 23% das edições publicadas aos domingos no ano de 2003. Num segundo momento da pesquisa classificamos os gêneros jornalísticos e após a análise quantitativa e classificativa comparamos os resultados a conceitos teóricos sobre o jornalismo cultural, desta forma, localizamos hipóteses sobre a prática jornalística exercida pela editoria de cultura no jornal Diário de Natal.
RESULTADOS:
Se no quesito crítica o jornalismo cultural do caderno "Muito" não se fez tão presente e consistente quanto poderia, do ponto de vista quantitativo não se pode afirmar o mesmo. Existe uma variedade e diversidade de assuntos. No entanto, a maioria soa deficitária, principalmente, por conta das limitações impostas pelo mero agendismo e o não-planejamento (conseqüência da tão citada justificativa da falta de tempo) para elaborar um material mais aprofundado. Das doze edições, encontramos oito distintos assuntos e dezessete matérias. Destas há um ligeiro predomínio quantitativo de publicações de assuntos ligado a literatura e ao teatro. As duas artes foram publicadas três vezes cada, no período de três meses. Se acrescentarmos também as matérias de cunho histórico, porém teatral, dos dias 19 de outubro ("100 anos de Memória") e 02 de novembro ("Cenas do Teatro Natalense") à lista das três factuais matérias publicadas sobre as artes cênicas durante o período analisado, sobe para cinco matérias. Ou seja, 41,67% dos assuntos abordados pelo caderno "Muito", transita pelas ramificações do teatro. O assunto predominou, sobretudo, decorrente - entre outros - pelo exarcebado agendismo do caderno.
CONCLUSÃO:
A sensação que o leitor tem ao procurar textos reflexivos/críticas culturais nos jornais potiguares aos domingos sobre as manifestações artísticas no Rio Grande do Norte é de vazio. O que observamos no material analisado é, de certa forma, preocupante. O Diário de Natal ainda não absorveu força que o jornalismo digital exerce, embora paradoxalmente tenha absorvido a entrada de outras mídias, como o DVD e o CD. Atualmente o jornalismo cultural exercido pelo e-zines é um diferencial que a priori deveria encontrar lugar no "Muito". Provavelmente o caderno sofra o que aconteceu com o seu principal concorrente "Viver", da Tribuna do Norte. Segundo entrevista com a editora do "Viver" Cinthia Lopes, em 24 de dezembro de 2004, o problema da falta de críticos está diretamente ligado à falta de espaço editorial. Enquanto o "Viver" teve uma redução das páginas (de 6 para 4), perdeu vários críticos e articulistas e deixou de circular aos domingos, o "Muito" sofre pelo excesso de colunismo social. O espaço destinado ao embate das idéias num caderno de cultura é reduzido consideravelmente às colunas sociais. Carente de análises críticas e presa ao agendismo o que pode ocorrer com o "Muito", se não houver mudanças ou adaptações, é a provável exclusão deste caderno em sua edição dominical.
Palavras-chave: Jornalismo cultural, Crítica, Diario de Natal.