62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
TRABALHADOR RURAL E SAÚDE: DIAGNÓSTICO DA PRÁTICA E MANEJO DE AGROQUÍMICO EM DUAS COMUNIDADES DOS MUNICÍPIOS DE CHAPADINHA E MATA ROMA, MARANHÃO
Tainara dos Santos da Costa 1
Sinval Garcia Pereira 2
Antonio José Temistocles de Lima 3
Ana Paula Rodrigues Carvalho 1
1. Curso de Ciências Biológicas - UFMA
2. Prof. MSC./Orientador - Curso de Ciências Biológicas - UFMA
3. Curso de Zootecnia - UFMA
INTRODUÇÃO:

A Região do Baixo Parnaíba, onde os municípios de Chapadinha e Mata Roma estão inseridos, tem passado por grandes transformações, as quais são influenciadas por dois fatores: o desenvolvimento tecnológico da agricultura e o apoio do Governo Federal aos agricultores familiares. À medida que a agricultura vai se tornando mais especializada e competitiva, agroquímicos são utilizados com maior freqüência e em maior quantidade. Esta ação acarreta uma série de problemas que ameaçam a saúde humana - especialmente a do trabalhador rural - e, num contexto mais amplo, o ambiente. Assim, faz-se necessário que condições diárias de trabalho rural considerem a saúde e a segurança como componentes importantes, pois o trabalhador passa a maior parte de sua vida no campo. Além disso, o uso indiscriminado de agroquímico incide também sobre o ambiente, uma vez que o alcance do lençol freático e do leito dos rios, córregos e nascentes provoca a poluição dos mananciais. Nesse sentido, este trabalho objetivou diagnosticar as relações entre as práticas do uso de agroquímico e os riscos em relação à saúde e ao ambiente no contexto da agricultura familiar na zona rural de Chapadinha e Mata Roma.

METODOLOGIA:

A pesquisa foi realizada em duas comunidades rurais dos municípios de Mata Roma e Chapadinha, Maranhão: Cidade Nova (financiada pelo PRONAF) e Mangabeira (não recebe auxílio do Governo Federal). O levantamento de dados foi feito por meio da aplicação de questionário aos produtores sobre o tema abordado. Foram considerados apenas os trabalhadores rurais maiores de quinze anos que desenvolvam atividades agrícolas relacionadas ao manejo de agroquímicos nas lavouras. O questionário serviu para a caracterização do uso de agroquímicos no campo e os indicadores econômicos (financiados ou não pelo PRONAF), foram os mais considerados. Além destes, também serviram como referência aspectos sócio-demográficos e tecnológicos.

RESULTADOS:

Verificou-se que a comunidade Cidade Nova (Mata Roma) recebe o apoio do Governo Federal por meio do PRONAF, enquanto a comunidade Mangabeira (Chapadinha) não recebe nenhum financiamento. Na Cidade Nova, metade dos indivíduos tem idade superior a quarenta anos e ensino fundamental completo. Entretanto, em Mangabeira, a maioria tem idade inferior a quarenta anos e ensino fundamental incompleto. Constata-se assim que, apesar de alfabetizadas, os trabalhadores não têm o hábito de ler o receituário do produto antes do preparo e aplicação. Os trabalhadores da Cidade Nova recebem orientação técnico-profissional ocasionalmente. Já os trabalhadores da Mangabeira são orientados apenas por vendedores do produto. Considerando como EPI completo o uso de chapéu, máscara, macacão, avental, luva e bota, observou-se que a comunidade Cidade Nova possui EPI completo, embora alguns indivíduos não os utilizem. Já a comunidade Mangabeira carece de EPI. Em relação à intoxicação, os dados revelaram que trinta por cento dos indivíduos já sofreram intoxicação por agroquímico na Mangabeira, enquanto nenhum caso foi constatado na Cidade Nova. Além disso, verificou-se que grande parte dos indivíduos não devolve as embalagens vazias do produto, largando-as no campo, o que aumenta o risco de contaminação.

CONCLUSÃO:

O percentual reduzido de indivíduos que lê os rótulos das embalagens deve-se ao baixo nível de escolaridade. Os textos dos receituários não são corretamente interpretados em razão do teor técnico das informações. Esse fator dificulta o entendimento quanto ao uso, cuidados e efeitos sobre a saúde e o ambiente. Embora um número razoável de indivíduos tenha relatado que utiliza EPI na comunidade Cidade Nova, estes nem sempre são apropriados ou suficientes para a proteção aos agroquímicos, como no caso da utilização exclusiva de botas e chapéus, relatada pelos indivíduos da comunidade Mangabeira. Observou-se que o perfil dos trabalhadores estudados aponta para uma população constantemente exposta aos agroquímicos, pois se encontra despreparada para a manipulação dessas substâncias devido à falta de apoio técnico freqüente. O conjunto desses fatores, principalmente o nível de escolaridade, aumenta os riscos aos quais estão submetidos esses trabalhadores. Os resultados da pesquisa revelam, portanto, a influência que o uso inadequado de agroquímicos exerce sobre a contaminação ambiental e a saúde humana. Daí a necessidade de medidas concretas que visem minimizar o impacto desses produtos no meio rural.

Palavras-chave: Agroquímicos, Saúde do trabalhador, Ambiente.