62ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 8. Teatro e Ópera |
O ATOR E SEU "CORPO SEM ÓRGÃOS" - UMA VISÃO DA POÉTICA ARTAUDIANA EM UM PROCESSO DE CRIAÇÃO QUE ENVOLVE O TRABALHO CORPORAL DO ATOR E A MÍTICA HINDU |
Sandro Souza Silva 1 Teodora de Araújo Alves 2 |
1. Departamento de Artes / UFRN 2. Profª Drª / Orientadora - Departamento de Artes / UFRN |
INTRODUÇÃO: |
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METODOLOGIA: |
Coloco-me enquanto ator-pesquisador trazendo uma experiência de cinco anos de trabalho no grupo Família Marmota de Teatro, onde realizei práticas contínuas de preparação de ator com base principalmente na Antropologia Teatral. A partir destas minhas experiências, e de outras práticas e workshops que participei durante a pesquisa, realizo um processo de criação solo em teatro, focado no meu trabalho de preparação e de construção cênica, usando como referência dramatúrgica o poema "Para Acabar Com o Juízo de Deus" e a coleção "Caitanya Caritamrta" que conta as histórias do "santo" bengali Caitanya Mahaprabhu. O processo é registrado em vídeo e fotos, e foi realizado em uma perspectiva cênico-investigativo, ou seja, levando em consideração a prática e a reflexão a partir de uma pesquisa bibliográfica do termo "corpo sem órgãos" principalmente em Artaud e Deleuze e Guattari. |
RESULTADOS: |
O corpo do ator já é abordado em diversas concepções de teatro, principalmente no século XX. A possibilidade de resgatar a idéia do "corpo sem órgãos" de Artaud em um processo de criação em teatro permitiu a abordagem deste corpo de forma bastante ampla e peculiar. O que posso com meu corpo quando o coloco em uma esfera mítico-ritual e como comunicar isso a um espectador? E a esfera sócio-cultural e sócio-política, afetam meu corpo? Sou apenas um, ou vários corpos em possibilidades? Estas questões, aparentemente vagas e complexas, são discutidas a partir dessa leitura do "corpo sem órgãos" e sob a perspectiva do corpo "liminar", em passagem, em mutação, em transformação, e o que ele pode oferecer ao teatro e à construção da cena. Ao permitir esta abordagem em minha criação cênico-corporal posso perceber a multiplicidade de possibilidades e ao mesmo tempo de cuidados que devo atentar em meu corpo. Um "corpo sem órgãos" pode levar a caminhos destrutivos, de anulação, mas pode também apontar caminhos imanentes e plenos. O espetáculo solo resultante da pesquisa ainda esta em processo de montagem, mas já permitiu essa reflexão acerca de processos criativos em teatro que abordam o corpo como foco da criação. |
CONCLUSÃO: |
Traçando um paralelo com as possibilidades que o termo "corpo sem órgãos" abre de inter-relações, já que propõe a possibilidade de nos repensamos enquanto sujeitos de intensidades, propus uma montagem solo onde trabalho o corpo nesta perspectiva. Para isso escolhi como principal viés dramatúrgico a personagem hindu Caitanya Mahaprabhu, que traz marcado em seu corpo as intensidades de alguém entregue ao amor puro pela divindade em que acredita, uma corporeidade repleta de transes, êxtases e narrativas transcendentais. Este corpo hindu, desta personagem, com suas histórias marcadas por transformações corporais, se une a idéia do "corpo sem órgãos" e age no corpo do ator, apto a trabalhar com seus impulsos e suas ações a partir de um processo de preparação físico-cinestésico que, no meu caso, é apoiado principalmente em estudos da Antropologia Teatral. A busca por tentar encontrar uma leitura do "corpo sem órgãos" me levou a pensar este processo criativo, mesclando técnicas, textos, sentimentos e lidando com as possibilidades de outras lógicas sensoriais e sociais, outras abordagens para entender a construção da cena, mais voltada ao ritual e ao corpo do ator inserido nesta atmosfera. |
Palavras-chave: Processos criativos, "Corpo sem órgãos", Mítica hindu. |