62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística
CONVERSAS ENTRE SURDOS: ESCOLHAS LEXICAIS E DESENVOLVIMENTO TÓPICO EM LÍNGUA DE SINAIS
Dannytza serra Gomes 1
Sandra Maia Farias Vasconcelos 1
1. Universidade federal do Ceará
INTRODUÇÃO:
A oficialização da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) em abril de 2002 pela Lei n. 10.436, de 24 de abril de 2002, apresenta um grande impacto nos caminhos trilhados pelos surdos até então, sem, no entanto, deixar de gerar conflitos e polêmicas entre profissionais que trabalham com surdos e surdos oralizados, que não se sentem parte de uma comunidade surda e não conseguem enxergar o valor dessa vitória para a comunidade surda. Pois a Língua de Sinais (doravante LS) ainda é considerada por muitos como gestos simbólicos. O reconhecimento da LS como língua natural promove alterações nas pesquisas e nas práticas até então utilizadas. Demonstrando dessa forma a necessidade de se estudar a língua em uma amplitude que vá além da modalidade oral e escrita e alcance uma estrutura que vá além dessas, passando a considerar essa linguagem de sinais como fenômenos linguísticos. Sendo uma língua, a linguagem de sinais possui as mesmas características de uma língua oral, em termos de organização estrutural e de prática social. Desse modo, os surdos encetam conversas, desenvolvem diálogos e obedecem às mesmas estratégias dos ouvintes durante a interação. Na língua oral é constante a presença de recorrência vocabular, retomadas, recursos verbais caracterizados como marcadores conversacionais. Nosso questionamento inicial organizou-se no sentido de identificar e analisar se na língua de sinais esse processo ocorre de maneira similar. Assim, a nossa proposta de encetar um estudo que aborde, identifique e analise as escolhas de sinais específicos por sujeitos surdos parece oportuna, visto que essas escolhas estão marcadas por aspectos cinésicos e não verbais, aspectos esses que motivaram este estudo. Com base nesses aspectos buscaremos responder as seguintes questões: Quais as escolhas vocabulares utilizadas pelo sujeito surdo para criar e desenvolver condições adequadas de interação? Quais as estratégias de inserção, de reformulação e de retomada do tópico discursivo no ato comunicativo realizados em língua de sinais? ? Algumas reflexões iniciais, realizadas a partir do contato diário com sujeitos surdos, permitiram formular inicialmente a hipótese de que a inserção do tópico discursivo se dá pela relevância temática do assunto tratado e é realizada pelo uso de gestos e de sinais, pois os surdos fazem uso da datilologia, da soletração ritmada e do sinal para fazer a retomada do tópico discursivo, isso ocorre através da inter-relação entre os atos lingüísticos e os cinésicos. Os objetivos desta pesquisa foram elaborados a partir de leituras que tratam da dificuldade enfrentada pelo sujeito surdo de se fazer "ouvir" através da língua de sinais, pois o surdo tem sido excluído da sociedade desde o início dos tempos. Por não compreender a forma de comunicação do surdo, ou seja, a linguagem gestual, o ouvinte muitas vezes impossibilita o acesso do surdo ao caminho para a aprendizagem da Língua Portuguesa, em sua modalidade oral. Para tanto, partimos de um estudo teórico sobre as línguas de sinais e o estudo da conversação, que podia confluir para o alcance de nossos objetivos, organizando, em linhas gerais, o conjunto de autores que nos serviu de referência.
METODOLOGIA:
A metodologia utilizada nesta pesquisa busca atender as especificidades das línguas de sinais, sendo os dados colhidos através de entrevistas realizadas utilizando a língua brasileira de sinais. As perguntas apresentavam um tópico discursivo pré-elaborado para proporcionar maior conforto aos informantes selecionados. A pesquisa foi realizada com 9 sujeitos surdos, distribuídos entre os três níveis de escolaridade, sendo Ensino Fundamental, Médio e Superior. As entrevistas foram filmadas, para em seguida serem interpretadas e transcritas e, finalmente, analisadas.
RESULTADOS:
Os resultados encontrados apontam para a necessidade de desmistificação da ideia de que a língua de sinais tem apenas a função de representação icônica do português, pois a escolha do sinal se dá pela opção que o falante desta língua dispõe e pela sua adequação com o contexto em que o sinal ocorre. E, da mesma forma que acontece com os ouvintes, a competência lingüística do sujeito surdo pode auxiliar em sua desenvoltura conversacional. Uma vez que a renovação lexical das línguas de sinais ocorre de forma semelhante à língua portuguesa. Sobre o desenvolvimento do tópico discursivo vale salientar que a progressão textual se dá través de elementos linguísticos estabelecidos por elementos textuais e relações semânticas e/ou pragmático- discursivas. Segundo Koch (2002), um desses elementos, a progressão temática, garante a continuidade de sentido no texto. Isto acontece por meio de usos lexicais pertencentes a um mesmo campo semântico, pois, através desse uso, são ativados os esquemas mentais dos quais esses itens são representantes.
CONCLUSÃO:
Em nosso estudo percebemos que a ideia de sequenciação temática pode ou não ser mantida. Assim, esperamos que a Linguística acompanhe com interesse os avanços e as transformações pelas quais passamos constantemente e reconheça os estudos sobre as línguas de sinais como estudos que contribuem para mudanças sociais, históricas e lingüísticas.
Instituição de Fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES
Palavras-chave: Língua de sinais, Escolha lexical, Desenvolvimento temático.