62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 1. Anatomia Vegetal
CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DAS PINAS FOLIARES DE Bactris dahlgreniana Glassman (ARECACEAE).
Evandro José Linhares Ferreira 1
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA/Núcleo de Pesquisa do Acre
INTRODUÇÃO:
Os caracteres anatômicos de folhas de palmeiras são de valor diagnóstico não apenas a nível genérico, mas também ao nível específico. Alguns autores sugerem que 50-60 caracteres anatômicos das folhas podem ter importância taxonômica, evolutiva ou biológica. O presente trabalho apresenta uma contribuição ao estudo anatômico das folhas da pupunha brava (Bactris dahlgreniana Glassman), considerada como a provável progenitora da pupunha cultivada (B. gasipaes Kunth), a única palmeira neotropical domesticada. A pupunha brava ocorre em florestas primárias e secundárias ou áreas abertas antropizadas, em áreas de terra firme, e é amplamente distribuída ao longo da zona de transição Amazônia-Andes e Amazônia-Cerrado, na Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Brasil. No Brasil ela ocorre desde o Acre até o leste do Pará. É uma palmeira espinhosa, capaz de atingir até 17 m de altura e geralmente solitária. Apresenta 7-16 folhas pinadas, arqueadas, com até 3,5 m de comprimento e 136-157 pinas lineares em cada lado da raque. As pinas, arranjadas em grupos irregulares e dispostas em vários planos, conferem aspecto plumoso às folhas. Os frutos maduros são avermelhados ou alaranjados, subglobosos, com 1,3-1,5 cm de comprimento e 0,9-1,3 cm de diâmetro, com polpa rala, amilácea e oleosa.
METODOLOGIA:
As amostras usadas neste estudo foram retiradas de 3 exsicatas do herbário NY (E. Ferreira 133, 334; A. Henderson 1665). De cada uma, retirou-se 3-5 amostras de 4-5 cm de comprimento da porção mediana de folíolos da região central das folhas. As amostras, com nervura central (NC) e as margens foliares (MF), foram mantidas glicerina-álcool (70%). A reidratação durou 12-24 horas e incluiu vácuo (12 p.s.i.), 3 lavagens em água deionizada (15 min. cada) e fixação em FAA. Para o clareamento das folhas, seções de 2-3 cm com a NC e uma das MF foram colocadas em NaOH 5% na estufa (60°C) até o clareamento. No preparo de epiderme, amostras de 1 cm² foram mantidas em solução de Jeffrey (Ácido Nítrico 10% : Ácido crómico 10% + 10 g tetróxido de cromo) por 4-5 dias. As folhas clareadas e as epidermes foram coradas com Safranina (0,5%) e montadas com Kleermount. Para os cortes transversais, amostras com 1-2 cm, incluindo a NC e uma das MF, foram desidratadas (série alcoólica-etílica ascendente até álcool 100%), emblocadas em parafina e seccionadas em micrótomo rotativo (SPENCER). As secções foram coradas com solução aquosa de Safranina (1%) durante 12 horas e Astra Blue (0,5%) durante 1 hora, e montadas com Kleermount. As lâminas obtidas foram examinadas e fotografadas em microscópio ótico.
RESULTADOS:
Nervura central: proeminente acima; fibras internas em 2-3 camadas próximas da lâmina; 2-3 feixes vasculares grandes e 3-4 menores de parênquima. Células de expansão: adjacentes e inconspícuas. Pêlos: base depressa, uniseriados, cutinizados e clavados, comuns sobre os feixes vasculares. Epiderme: paredes celulares não sinuosas; células adaxiais intercostais organizadas em filas distintas; células abaxiais menores e irregulares. Estômatos: nível epidermal, raros na face adaxial, numerosos e espalhados na face abaxial; células subsidiárias terminais arqueadas sobre as células-guardas. Hipoderme: 1-camada bem definida, comprimida acima e abaixo das nervuras maiores. Clorênquima: 1-2 camadas bem diferenciadas, mesófilo esponjoso bem diferenciado, 4-5 camadas. Fibras não vasculares: feixes cilíndricos, 1-camada, no nível das nervuras. Nervuras primárias: ovóides, proeminentes abaixo, áreas fibrosas tocando a hipoderme, bainha externa apenas lateral, interna completa e delimitada por 2-3 camadas fibrosas. Nervuras secundárias: ovóides, pouco proeminentes abaixo. Nervuras terciárias e quaternárias: arredondadas, não proeminentes. Floema: veias indistintas nas grandes nervuras. Nervuras transversais: largas e curtas, formando um padrão irregular.
CONCLUSÃO:
Anatomicamente a descrição da folha de B. dahlgreniana aqui apresentada sugere que a mesma possui caracteres similares aos encontrados nas folhas de B. gasipaes: feixes de fibras não vasculares em uma camada e no mesmo nível das nervuras menores, parênquima esponjoso bem definido, em 4-5 camadas, nervura central adaxialmente muito proeminente e nervuras transversais sem um padrão definido de distribuição. Este resultado reforça a hipótese de ancestralidade entre as mesmas. Vale ressaltar que esta proposta foi sempre baseada em dados morfológicos em razão da grande similaridade fenotípica entre as duas espécies. Finalmente, ao contrário do que se esperava, fibroesclereídes não foram encontrados em nenhuma das três amostras de pupunha brava examinadas. Anatomicamente, a presença dessas estruturas era uma das características que segregavam os gêneros Bactris e Guilielma. A sinonimização deste último gênero sob Bactris, baseada em caracteres morfológicos é, portanto, aqui suportada por dado anatômico.
Instituição de Fomento: CAPES
Palavras-chave: Pupunha brava, anatomia foliar, descrição.