62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Arquitetura e Urbanismo - 1. Fundamentos de Arquitetura e Urbanismo
DE COLONIAL A FUTURISTA: AS REPRESENTAÇÕES DA CIDADE DO NATAL NA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XX
Italo Dantas de Araújo Maia 1
George Alexandre Ferreira Dantas 2
1. Departamento de Arquitetura - UFRN
2. Prof. Dr. /Orientador - Departamento de Arquitetura - UFRN
INTRODUÇÃO:
Os caminhos que guiaram a humanidade em direção à modernidade assumiram significados ora materiais, ora espirituais, conforme defendido por Berman (1986). É dentro desse segundo "sentido" que se inclui este estudo, que tem a intenção de discutir o papel das elites intelectual e econômica natalenses dentro do processo de circulação de um novo ideário urbanístico na capital potiguar, oriundo, inicialmente, das grandes cidades européias. À parte das intervenções urbanísticas modernizantes ocorridas na Natal do início do século XX, nosso objetivo é, antes disto, desvendar o pensamento vigente na época sobre a cidade, auxiliando na compreensão dos imaginários e mecanismos que incitaram a modernização da capital potiguar. Nossos objetos de estudo são três textos da época (todos de 1909): "Impressões do Rio", "Natal daqui a cinqüenta anos" e "Costumes locais", com ênfase no primeiro pela possibilidade oferecida de novas interpretações da cidade. A relevância deste trabalho está na leitura comparada destes documentos, explicitando que, em oposição ao senso comum, estas transformações não foram conduzidas por um discurso uniforme e constante, mas sim por meio do embate de várias representações, que, por fim, iria consolidar a imagem de Natal como cidade moderna.
METODOLOGIA:
Realização de revisão bibliográfica inerente ao tema e reunião de fontes primárias referentes à primeira década do século XX, especificamente no ano de 1909, destacando-se neste momento o jornal "A República", do qual selecionamos textos que expusessem novos ideários urbanísticos que se desejavam implantar em Natal (a ação das elites como difusora de novos saberes). Em seguida efetuou-se a "leitura" destes materiais a partir dos conceitos propostos por Chartier ("A história cultural: entre práticas e representações", 1990), assumindo-se a subjetividade destes relatos, buscando-se identificar e dissecar as representações da cidade neles existentes. Sendo assim, o estudo abarca três grandes representações: o desmonte da cidade colonial, em "Costumes locais" de Eloy de Souza; a cidade do futuro, concebida por Manoel Dantas em "Natal daqui a cinqüenta anos", e, por fim, a "metrópole" em reconstrução, no texto de Honório Carrilho, "Impressões do Rio", uma série de artigos publicados em "A República", descrevendo aos natalenses um Rio de Janeiro em meio a grandes transformações físico-espaciais e sociais; este último texto foi o que motivou o início desta pesquisa, por nele verificarmos sutis representações de uma cidade moderna endereçadas a uma cidade que se pretendia moderna: Natal.
RESULTADOS:
"Impressões do Rio", apesar de sequer citar Natal em suas linhas, possui um importante significado no processo de formação dessa nova imagem para nossa cidade. O narrador é um morador da capital potiguar, preocupado em apresentar aos seus conterrâneos um modelo urbano e de urbanidade a ser seguido. O mesmo papel tem o texto de Manoel Dantas, "Natal daqui a cinqüenta anos", que, diferentemente de "Impressões...", toma como exemplo uma cidade inexistente, uma Natal, em suas palavras, "metrópole do oriente da América", cosmopolita, ou ainda "desperta de seu sono três vezes secular", como diria Eloy de Souza em referência ao período colonial. A utopia/alegoria de Manoel Dantas expressa o desejo modernizador das elites locais e o modelo de cidade almejado. Sobre as transformações sociais nos costumes e práticas vigentes, é evidente nos três textos um tom progressista, como se assumindo a imperativa necessidade dessas para a modernização da cidade e do país. O texto de Eloy de Souza é o que, nesta leitura, demonstra uma maior clareza sobre a compreensão da dualidade destruição/desenvolvimento, típica do processo modernizador, lamentando, em alguns momentos, o abandono de velhos costumes e tradições, sem, entretanto, opor-se a estas mudanças, tidas como inevitáveis.
CONCLUSÃO:
A cidade aqui (e nos textos de "A República") discutida passava por diversas transformações; uma delas tinha um caráter político iminente. Tratava-se de um esforço em desfazer-se de um passado colonial para deixar florescer uma cidade republicana, com novos modos de viver. Era um sistema oligárquico, e em Natal não poderia ser diferente. O grupo político dos Albuquerque Maranhão governou o Rio Grande do Norte de 1889 a 1913, e, como auto-afirmação, construiu na capital novos espaços de civilidade: escolas, teatro, praças largas e arborizadas e novos espaços de moradia, a exemplo do bairro Cidade Nova, desenhado numa rígida malha em xadrez. Não poderíamos desconsiderar nesse processo a importância dos discursos utilizados na construção da imagem dessa cidade, os atores envolvidos e seus significados. Apesar de não se constituírem em projetos com a intenção de serem edificados, essas novas idéias - expressas em artigos como "Impressões do Rio" - difundiram-se na sociedade local, contribuindo na formação de um ideário pró-modernização. Tais representações foram interpretadas pelos autores do trabalho a fim de obter-se um panorama do que era - ou deveria ser - a cidade na visão destes intelectuais, auxiliando na posterior leitura das transformações subseqüentes ocorridas em Natal.
Instituição de Fomento: Pró-Reitoria de Graduação/ UFRN
Palavras-chave: Modernização, Natal, Representações.