62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
AS PRÁTICAS AVALIATIVAS E SUAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO ESPAÇO ESCOLAR: ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA
Sergio Luiz Lopes 1
Alipio de Souza Filho 1
1. Departamento de Ciencias Sociais/Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFR
INTRODUÇÃO:

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa, eminentemente exploratória e de caráter historiográfico, busca descrever o uso da nota como processo implementado pela instituição escolar, na perspectiva de mapear a forma como a escola foi introjetando esse instrumento de avaliação ao longo dos tempos. Partindo da constatação de que a escola a todo instante se preocupa com o processo de "notas", percebemos que o espaço escolar consegue naturalizar tal processo a partir do habitus instituído. Temos claro que, ao mesmo  tempo que  fazemos um estudo acerca de como a nota instalou-se no espaço escolar, debruçando-nos sobre a estrutura da constituição das práticas pedagógicas avaliativas nesse espaço, para compreender como ela exerce tão eficientemente seus efeitos. Na perspectiva de aproximar o saber pedagógico de uma compreensão socioantropológica dos fenômenos sociais, uma  tentativa de traçar a história da nota na escola e as representações desse recurso de avaliação - adquire relevância dentro dos estudos educacionais também pelo fato de  buscar desvendar como o processo de atribuição de notas de fato se instalou nos currículos escolares.

METODOLOGIA:

METODOLOGIA

 

Para a concretização da pesquisa, foi feito, a priori, um levantamento bibliográfico abordando aspectos relativos à temática, para a construção de referencial teórico. A escola está situada na zona sul de Natal-RN; funciona em três turnos: pela manhã, com o ensino fundamental (5ª a 8ª série); à tarde e à noite, com o ensino médio. A escola atende, ao todo, a 2400 alunos, sendo 1200 do ensino fundamental e 1200 do ensino médio. Observamos aulas de alguns dos professores da escola, bem como reuniões e encontros pedagógicos, o qual contou com a presença de todos os professores. A coleta de dados não foi feita apenas por meio de entrevistas gravadas; nas aulas observadas, utilizamos um diário de campo, no qual anotamos as falas de professores e alunos. Esse diário de campo foi de suma importância para as análises que realizamos, pois, para isso, utilizamos os depoimentos e as falas mais completas que tratavam do nosso objeto de estudo - a nota. Realizamos entrevistas gravadas com professores do ensino médio das mais diferentes áreas do conhecimento; utilizamos um questionário, semi-estruturado, composto por perguntas detalhadas, que serviam como roteiro para a efetivação da pesquisa. Desse modo o questionário foi organizado em dez questões.

RESULTADOS:

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Percebemos que a obtenção das notas em muitos momentos ocorre por coação; está baseada no uso da punição, como ameaça ou como prática efetiva. A obtenção de notas por coação acaba por propiciar a formação de indivíduos dependentes, uma vez que se acostumam a sempre receber ordens de fora, não desenvolvendo os seus valores. Normalmente, o ensino na base do condicionamento, que funciona principalmente para a obtenção de notas, resulta em um dos mecanismos coação. Os regimentos escolares começam tratando de como são as punições a serem dadas, no caso de "infrações", e de como deve funcionar o processo de avaliação, o que foi aprendido, ao que parece, com as leis existentes na sociedade. Nas aulas que observamos, vimos a confirmação de que o processo avaliativo está relacionado a punições. De maneira naturalizada, o habitus da nota na escola - pelo menos é o que aponta no campo empírico de nosso trabalho - resulta em uma cultura capaz de gerar distorções durante o processo avaliativo. A prática avaliativa implementada na escola é concebida como uma prática social contraditória, que se efetiva como disputa de interesses capazes de "estigmatizar, sobretudo punir" (DEMO, 1999, p.1-2). Assim, o processo avaliativo permanece com ranços do passado.

CONCLUSÃO:

CONCLUSÕES

Analisamos alguns equívocos que ocorrem no processo avaliativo: "o equívoco mais comum é o professor usar a avaliação somente para dar notas, classificando o aluno em 'melhor ou pior', dependendo do que memorizou."Vê-se, então, que a avaliação tradicional, além de classificar o aluno, gera a exclusão (reprovação, hierarquização), embutida ao longo do processo avaliativo (conceitos, notas etc.), pois, utilizando-se de princípios positivistas, dá ênfase, na classificação de desempenho, a listas e provas com resultados quantitativos e numéricos. Nela, o mais importante é o produto.           Isso nos remete a experiências vividas ao longo de nosso estudo, nas quais os alunos viam a nota como tendo uma relação utilitária com o trabalho escolar, empenhando-se nos trabalhos de acordo com a "pontuação" que pudessem obter. Embora desgastantes, várias vezes ouvíamos, diante de qualquer proposta de trabalho, as seguintes indagações: "Este trabalho vale nota? quanto?" "Se eu não fizer, como fica minha situação?" Há, notadamente, uma lógica de mercado presente não apenas na coisificação do conhecimento, mas também, sobretudo, na interação individual existente no imaginário dos alunos.   

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Universidade Federal do rio Grande do Norte (UFRN)
Palavras-chave: Práticas Avaliativas, Naturalização da nota, Ensino e aprendizagem.