62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística
AS FUNÇÕES DA REMISSÃO AO DISCURSO DO OUTRO NA ESCRITA DO GÊNERO ACADÊMICO
Sulemi Fabiano Campos 1, 2
Luana Danielle do Nascimento Silva de Medeiros 1, 3
Thayse Santos Arimatéia 1, 3
1. Departamento de Letras, CCHLA, UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE/ UFRN
2. Profª. Drª./ Orientadora
3. Aluna / IC
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho visa a responder à seguinte pergunta de pesquisa: Quais as funções da remissão do discurso do outro na escrita do gênero acadêmico? Tem como objetivos: 1) descrever as funções da remissão ao discurso do outro na escrita do gênero acadêmico e 2) mapear a ocorrência de citações e paráfrases. A relevância desta pesquisa consiste em fazer um levantamento de dados a partir das análises dos textos produzidos pelos alunos recém-chegados a universidade e pelos alunos que já estão no término da graduação para diagnosticar em que medida os alunos vão se apropriando da escrita do gênero acadêmico no que se refere à apropriação dos conceitos de área.
METODOLOGIA:
O corpus investigado é constituído de textos produzidos na disciplina de Leitura e Produção de Textos I e relatórios de final de curso produzidos na disciplina Estágio Supervisionado de Formação de Professores IV do semestre 2009.2 nos quais se busca verificar a remissão ao discurso do outro na escrita dos gêneros acadêmicos. A seleção dos textos foi feita juntamente com a professora orientadora da disciplina. Em hipótese alguma, a identidade dos informantes foi mencionada. Os textos sistematizados para a pesquisa receberam as categorias como A1, A2, A3, e assim, sucessivamente. A pesquisa fundamentou-se nas propostas teóricas da Análise do Discurso, especificamente nos conceitos do discurso de outrem e gênero do discurso de M. Bakhtin (2000;1999); heterogeneidade discursiva marcada e não marcada de Authier-Revuz (1990) e paráfrase lingüística de Fuchs (1985).
RESULTADOS:
Os resultados parciais desta pesquisa apontam que os alunos iniciantes da graduação utilizam citações de vários autores no mesmo texto, mas não conseguem estabelecer uma conexão entre os conceitos citados. Há a predominância de uma escrita parafrástica de equivalência formal entre frases, conforme explica Fuchs (1985). Ressalta-se que, no início da graduação, os alunos, por não terem ainda domínio da fundamentação teórica, fazem a remissão explícita ao discurso de outrem, conforme aponta Authier-Revuz (1990) na discussão sobre a presença de heterogeneidade marcada na construção dos textos. Isso é considerado aceitável pelo fato de o aluno ter acabado de entrar na universidade e, aparentemente, ter a preocupação de fundamentar seu discurso com a teoria estudada. Já os alunos no final do curso de graduação não marcam no texto as citações retiradas dos autores, ao invés de eles remeterem ao discurso do outro - sob forma de uma paráfrase de reformulação - a maioria dos textos não demonstra indícios de absorção das teorias estudadas, que supostamente deveriam ter apropriado no decorrer do curso, resultando na escrita de relatórios predominantemente descritivos sem a remissão explícita ao discurso de outrem.
CONCLUSÃO:
Percebe-se na escrita dos alunos uma ausência de reflexões mais aguçadas, elaboração de ideias a partir da retomada dos conceitos utilizados. Os textos, em sua maioria, ancoram-se no recurso do tipo "recorta e cola". Com base nessas considerações preliminares, conclui-se que a produção escrita, tal qual vem sendo praticada na graduação, tem de ser reavaliada. Mesmo entendendo que a paráfrase é um recurso utilizado para a criação de um texto, isso não pode justificar uma acomodação trazida pela banalização do ato de parafrasear, como o de sempre retomar o texto do outro como forma de produzir. Ou seja, sabe-se que para elaborar um texto é preciso se basear em alguma ideia já produzida, e isto é totalmente aceitável. Contudo, se manter girando em torno do que foi dito faz com que o aluno se mantenha no plano do que já foi produzido, uma escrita com base somente na paráfrase como reprodução, resultando na escrita sustentada pela remissão explícita ao discurso do outro ou textos meramente descritivos.
Instituição de Fomento: Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ PROGRAMA DE BOLSAS REUNI
Palavras-chave: gênero acadêmico, heterogeneidade discursiva, paráfrase.