Pela sua magnitude, transcendência, vulnerabilidade e factibilidade de controle, as Doenças Sexualmente Transmissíveis - DSTs devem ser priorizadas enquanto agravos em saúde pública. São causadas por vários tipos de agentes. O principal meio de transmissão ocorre por contato sexual sem o uso de preservativo, quando um dos parceiros se encontra infectado. É sabido que as DSTs facilitam a transmissão do HIV, por isso passaram a ter redobrada importância nos últimos anos, principalmente no que se refere à vigilância epidemiológica, à capacitação de profissionais para a atenção adequada e à disponibilidade de medicamentos.

A pesquisa teve como objetivo geral: estudar as DSTs no município de Tefé/AM, no ano de 2008, através das teorias de gênero, saúde e direitos reprodutivos. Com objetivos específicos de: verificar as ocorrências de DSTs no ano de 2008 no município de Tefé e entrevistar três gerações de mulheres; uma adolescente, sua mãe e avó, através da história oral. A pesquisa é relevante, pois em Tefé não se encontram estudos específicos que abordem a temática de gênero, saúde reprodutiva, sexualidade e direitos humanos da mulher.

A pesquisa dividiu-se em quantitativa e qualitativa. Na pesquisa quantitativa foi feito o registro de ocorrências de Doenças Sexualmente Transmissíveis no ano de 2008, no posto de Saúde São Miguel do município de Tefé/AM.

Na abordagem qualitativa escolheu-se a técnica de história oral. Para as entrevistas, utilizou-se recursos áudios-visuais. Nas entrevistas procuramos evitar perguntas objetivas, que normalmente levam as pessoas a responderem sim ou não e optamos pelas perguntas abertas que as levam a se expressarem com mais informações.

As três gerações de mulheres escolhidas moram na comunidade de Nogueira (próxima 14 km em linha reta de Tefé - separada por um lago), e são usuárias do serviço de saúde em Tefé. Para isso devem utilizar sempre, como transporte as catraias - pequenas lanchas com suporte para sete pessoas e, sem segurança principalmente nas tempestades. O local e hora para a realização das entrevistas foi escolhido pelas colaboradoras, sendo grande a receptividade e a acolhida das mesmas.

Em Tefé o Programa de DSTs/AIDS - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, foi implantado desde 2004. Em 2008, o posto de saúde notificou 483 casos de DSTs: Condiloma, 21%; Gardinerella, 21%; Herpes, 3%; Tricomoníase, 1%; Corrimento Cervical (corr.), 36%; Corr. uretral, 1%; Gonorréia, 2%; Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), 1%; Gestante Sífilis, 3%; Gestante HIV, 2%; Cândida, 1%; Sífilis, 4%; Doença Inflamatória Pélvica (DIP), 1%; Neoplasma Intra - Epitelial Cervical (NIC I), 2%; AIDS, 1%. Já em 2009, foram registrados 106 casos de HIV/AIDS em ambos os sexos.

Com as entrevistas podemos verificar que existe um desconhecimento sobre DSTs. As três gerações desconhecem camisinha feminina. Mãe e filha atribuem o uso ou não da camisinha masculina ao parceiro. As desigualdades nas relações de gênero é gritante. Neste caso as mulheres são as mais vulneráveis às injustiças, cedem sempre às vontades do companheiro para evitarem transtornos, confrontos e principalmente o medo de perder o parceiro. Este tipo de comportamento, além de desigualdades nas estruturas familiares fragmenta o direito reprodutivo feminino, assegurado pelos Direitos Humanos. O município de Tefé tem carência de profissionais capacitados na área de ginecologia no serviço público. A comunidade de Nogueira em que vivem as três gerações de mulheres possui um posto de saúde improvisado, com condições precárias que inviabiliza o atendimento adequado à população.

As Doenças Sexualmente Transmissíveis ainda precisam ser divulgadas integralmente nas populações, independentemente se estão em áreas longínquas ou próximas e na cidade. Podemos constatar com as entrevistas que o desconhecimento de DSTs é total. Em relação às estruturas que os postos tanto do município de Tefé como principalmente da comunidade em que moram as três gerações de mulheres, precisam disponibilizar à população mais políticas vigentes que assegurem seus direitos sexuais e reprodutivos. As mulheres ainda sofrem com as desigualdades nas relações de gênero dentro de suas próprias casas bem como nas multifacetas da sociedade.

No município de Tefé existe a dificuldade do atendimento adequado à população em relação à saúde sexual e também reprodutiva. O Brasil continua fiel aos princípios defendidos nas Conferências das Nações Unidas destacando-se a Conferência Internacional de População e Desenvolvimento, realizada no Cairo em 1994, princípios esses que estabeleceram os direitos sexuais e reprodutivos como direitos humanos. Na Constituição Federal é assegurado pela Lei n° 9.263 de 12 de janeiro de 1996 do Planejamento Familiar. Porém não se garante que essas conquistas estejam sendo implantadas completamente nos quatro cantos do país.