62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
VERDADES E MENTIRAS NOS INTERESSAM: REFLEXÕES SOBRE A VERDADE E A MENTIRA NO SENTIDO EXTRA-MORAL DE NIETZSCHE
Myrna Suyanny Barreto 1
Fernanda Machado de Bulhões 2
1. Aluna do mestrado de Pós-graduação de Filosofia (PPGFIL) - UFRN
2. Profa. Dra./Orientadora do Programa de Pós-graduação de Filosofia - UFRN
INTRODUÇÃO:
O que entendemos por verdade e mentira? O que pode ser considerado verdadeiro? Será que todas as verdades nos interessam? Algumas destas indagações certamente já motivaram inúmeros pensadores em diversos períodos da história da filosofia. Muitos filósofos já questionaram se é possível conhecer a realidade tal como ela é, bem como as nossas possibilidades de conhecimento. A ciência, por exemplo, faz uso de métodos para aferir a validade de argumentações utilizando como base designações consideradas válidas. Mas, afinal de contas, como temos a certeza da verdade? O filósofo Friedrich Nietzsche, no texto escrito em 1873, intitulado "Sobre a verdade e a mentira no sentido extra-moral" procura tratar sobre o papel do intelecto na totalidade do mundo, procura ainda investigar até que ponto o intelecto é verdadeiro ou capaz de apreender a realidade. Apresenta uma crítica ao conhecimento racional científico, a verdade científica, ou seja, uma crítica da verdade. Isso justifica o porquê da escolha deste texto para pensarmos a temática aqui abordada, onde buscamos compreender melhor como Nietzsche entende a verdade e a mentira, e, consequentemente, como os homens também as compreendem.
METODOLOGIA:
Para realizar a reflexão aqui proposta selecionamos como fonte primária a própria obra de Nietzsche, o texto ora mencionado, onde utilizamos as argumentações expressas na obra como fonte de reflexão e ao mesmo tempo de apontamentos, posicionamentos do próprio autor. Para fim de melhor embasamento utilizaremos fontes secundárias, textos de estudiosos que trazem comentários elucidativos, como por exemplo: FINK, Eugen. A filosofia de Nietzsche, 1983; MACHADO, Roberto. Nietzsche e a verdade, 2002; FERRAZ, Maria Cristina Franco. Nove variações sobre temas nietzschianos/ Da valorização estratégica da metáfora em Nietzsche, 2002. Com essas ferramentas podemos tecer discussões e conclusões sobre a temática proposta.
RESULTADOS:
Para Nietzsche o conhecimento é uma produção, invenção do homem. Com os nossos instintos percebemos imagens e criamos formas expressas pela linguagem e pelo conceito. A possibilidade de conhecimento a que vivenciamos teria sido uma condição social, política e moral. O homem sentindo a necessidade de viver em sociedade terá com a crença na verdade também uma necessidade. Para não ocorrer uma guerra de todos contra todos é necessário que haja um acordo, uma convenção. Fazendo uso da linguagem é designado o que é verdade e mentira. A verdade seria um mecanismo, um desejo de preservação, uma forma do homem continuar vivendo. Esse é um momento de escolhas arbitrárias, a verdade seria uma designação válida de comum acordo, sendo mentiroso quem faz uso de forma não correspondente. Para Nietzsche a verdade é resultado de uma metáfora repetida por longos períodos que passou a ser entendida como verdade canonizada. A verdade será, para ele, metáfora, criações em que os homens se esqueceram que ela assim o são. O homem não ama a verdade por si mesma, ama a possibilidade de conservação, o que há de agradável. Da mesma forma uma mentira que não traga consequências desagradáveis poderá ser bem recebida pelos homens. O que o homem não suporta é o prejuízo, seja com a verdade ou a mentira.
CONCLUSÃO:
Trazendo a reflexão para o campo atual poderíamos nos perguntar se o que consideramos verdade é realmente algo verdadeiro, ou se nos interessamos e tratamos sobre o que é verdade e mentira tomando como ponto de apoio algo que nos agrada ou que pode nos fazer viver um dia a mais? Essas questões nietzschianas nos direcionam para um campo de investigação onde ao questionarmos sobre a verdade parece ser capaz de revelar alguma não-verdade à sua base. Assim o homem seria capaz de aceitar uma verdade que fora inventada, criação antiga, pois não toma consciência que ela é uma invenção, consequentemente seria melhor não questioná-la, pois são através destas verdades que tornam possível continuar vivendo, continuar mantendo o acordo de paz. O homem então mente em rebanho, mente e é obrigado a mentir por convenção, mente sem perceber para assegurar o seu poder de verdade. Essa mentira, dita por Nietzsche, é o ato de fazer dizer por verdade o que em tempos passados foi uma convenção para preservar o homem em rebanho. Como pode o homem ter a certeza da verdade? Ele responde: apenas por esquecimento pode o homem alguma vez chegar a imaginar que detém uma verdade.
Instituição de Fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes
Palavras-chave: conhecimento, verdade, mentira.