62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira
O MAL NO "GRANDE SERTÃO: VEREDAS" - POLÊMICAS NA RECEPÇÃO CRÍTICA
Giselle Bueno 1
Edna Cristina do Prado 2
1. Doutoranda - Universidade de São Paulo - USP
2. Profa. Dra. - Universidade Federal de Alagoas - UFAL
INTRODUÇÃO:

O trabalho aqui elaborado propõe, como matéria de estudo, Grande Sertão: veredas de João Guimarães Rosa, tendo por foco a temática do mal. Tal como pode demonstrar uma descrição histórica do tratamento do problema pela crítica rosiana, as diversas leituras canônicas, como as de Sperber (1976), Rosenfield (1993), Utéza (1994) e Araújo (1996), apresentam, com freqüência surpreendente, conclusões opostas entre si. Essas diferenças seriam devidas, entre outros fatores, ao fato de que a conotação da obra-prima rosiana tem como um de seus elementos fundamentais o paradoxo, que é, então, interpretado de maneiras díspares não apenas quanto a seu conteúdo, mas também quanto a seu significado estilístico-formal.

 

METODOLOGIA:

A abordagem tem como eixo, principalmente, a interface entre Estilística e Filosofia. Não obstante, o procedimento metodológico aqui empregado adere a uma compreensão da pesquisa literária como inerentemente fundada em uma complexa e dinâmica interdisciplinaridade. Assim, as análises textuais e suas respectivas conclusões abrigam-se sob um universo teórico coerente e compatível com o tema, mas relativamente diverso e autônomo (por exemplo, são aceitas também contribuições da História, da Psicanálise, etc.).

RESULTADOS:

Eis algumas das polêmicas na hermenêutica de questões direta ou indiretamente relacionadas ao tópico do mal no Grande sertão: 1. Sperber  vê, no âmago da obra, uma afirmação da irracionalidade ou uma tendência para ela; já Rosenfield cuida que há uma travessia crucial para um ganho de racionalidade. 2. Utéza julga que a estrutura ambígua do livro demanda que se ponha a dimensão ética fora do perímetro interpretativo; contrariamente, Rosenfield e Araújo ponderam que se guarda, apesar de tudo, a necessidade da distinção entre bem e mal. 3. Utéza e Araújo divisam, no Grande sertão, um sistema de idéias que fornece uma visão sapiencial, totalizante e unificadora do mundo; Sperber e Rosenfield marcam com maior constância as fraturas e incongruências inquietantes da matutação riobaldiana. 4. Sperber, Araújo e Utéza escrevem que o mal, tal como configurado na obra rosiana, é uma ausência temporária de Bem, uma ilusão, pura inexistência; Rosenfield considera que Grande sertão se caracteriza, antes, por parodiar e perverter tal compreensão.

 

CONCLUSÃO:

A conotação do livro tem como componente cardeal o paradoxo. No entanto, ele é entendido de maneiras bastante variadas quanto a sua constituição e significado estilístico-formal. Pudemos repertoriar até aqui algumas interpretações formais dispensadas aos paradoxos riobaldianos: já se viu neles a insolubilidade das aporias; a reconciliação de elementos contrários que se anulam mutuamente de modo a sugerir totalidade indiferenciada; já se intuiu neles revelação de Sentido; já se atribuiu a eles uma atomização infinita de significados; já se aludiu à síntese hegeliana; já se considerou ali a presença da chamada dialética negativa, etc. Se muitas das justificações ou desenvolvimentos interpretativos dessas hipóteses são questionáveis, há, por outro lado, elementos estruturais do texto como um todo que estimulam miradas tão desiguais. Grande sertão empenha-se e compraz em insinuar leituras diversas, e este movimento e suas indagações são muito mais significativos e atuantes que as respostas, quaisquer que sejam elas.

 

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPQ.
Palavras-chave: "Grande sertão: veredas", João Guimarães Rosa, Mal.