62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
AVALIAÇÃO ECOTOXICOLOGICA ASSOCIADA À BALNEABILIDADE DE UM ECOSSISTEMA LACUSTRE URBANO DE FORTALEZA/CE - LAGOA SAPIRANGA
Fabíola Costa de Lima 1
Glairta de Souza Costa 2
Raimundo Bemvindo Gomes 1
Ítalo Feitosa Lopes 1
Ellen Karyne Alcântara de Alencar 1
André Ferreira Porfírio 1
1. Depto.de Química e Meio Ambiente do Instituto Federal do Ceará-IFCE
2. Depto. de Biologia - Universidade Federal do Ceará - UFC
INTRODUÇÃO:

O processo de urbanização da cidade de Fortaleza tem ocasionado a erradicação de parte de suas lagoas urbanas. Dentre os fatores responsáveis por esse processo estão a especulação imobiliária e a poluição hídrica. A poluição está associada diretamente à falta de saneamento, devido ao acúmulo de lixo e à ausência de controle urbano. A Lagoa Sapiranga é considerada um dos maiores ambientes lênticos da cidade, integrante da Reserva Ecológica Particular de Sapiranga, que é formada por manguezais, rios e lagoas, sendo considerado um dos mais ricos estuários do mundo. A referida reserva mantida pela Fundação Maria Nilva Alves, possui uma área de 60 hectares e abriga um trecho do rio Coaçu e sangradouro da lagoa da Precabura, que se encontra com o rio Cocó.

O objetivo deste estudo foi avaliar a toxicidade aguda, para o micro crustáceo Daphnia magna, na Lagoa Sapiranga, após 48 horas de exposição, sendo estabelecida a concentração nominal de cada amostra que causa a imobilidade ou a morte dos organismos, nas condições do teste. Foram avaliados também os parâmetros biológicos, para fins de balneabilidade, conforme a legislação vigente para posterior enquadramento, de acordo com os resultados obtidos.


METODOLOGIA:

As amostras foram coletadas em três pontos (Entrada do tributário principal - P1, Centro - P2 e Sangradouro - P3) com profundidade mínima de 1m.

A metodologia utilizada na realização do teste de toxicidade aguda seguiu as diretrizes da Norma 12.713:2004 da ABNT: Ecotoxicologia aquática - Toxicidade Aguda - Método de ensaio com Daphnia spp (Cladocera, Crustacea). As amostras foram acondicionadas em garrafas plásticas descontaminadas, de 2L de capacidade, mantidas em caixas isotérmicas (entre 4 e 10°C) até a chegada ao laboratório. Os organismos-teste apresentavam idade de 2 a 26 horas, obtidos de fêmeas com idade entre 10 e 30 dias. O teste foi do tipo estático, com duração de 48 horas, utilizou-se a amostra bruta e 2 diluições, com 30 organismos em cada diluição e temperatura média de 20 ± 2ºC, no escuro.

Para as variáveis biológicas as amostras foram coletadas em frascos estéreis de 250 ml, acondicionadas em caixas isotérmicas (temperatura entre 4 e 10 ºC) e encaminhadas ao laboratório para processamento imediato. Para a avaliação da qualidade sanitária seguiu-se as diretrizes de APHA et al., 2005, métodos 9221-E (Tubos múltiplos em Meio A1) para coliformes termotolerantes (CTT) e 9223-B (Substrato Cromogênico - ONPG-MUG) para Escherichia coli (E.coli).

RESULTADOS:

Os dados quantitativos de bactérias indicadoras de contaminação fecal foram obtidos através de médias geométricas das concentrações de CTT e E.coli, determinadas nos três pontos de amostragem, em cinco semanas consecutivas e em horários de maior afluência de público ao ecossistema hídrico.

No período de 07/12/2008 a 04/01/2009 as concentrações médias de CTT e E.coli (NMP/100 mL) foram de 293 e 237, respectivamente. De acordo com a legislação vigente para balneabilidade, Res. CONAMA 274/00, apesar das concentrações médias de CTT e E.coli atenderem aos padrões, observa-se que o percentual de amostras coletadas nas cinco últimas semanas que estão em conformidade (500NMP/100 mL de CTT e 400NMP/100 mL de E.coli, correspondente à classificação "muito boa") é inferior a 80%, razão pela qual a lagoa foi classificada como imprópria.

 No período de 15/03/2009 a 12/04/2009 as médias de CTT e E.coli (NMP/100 mL) foram de 2464 e 1774, respectivamente, sendo considerada imprópria.

Nos testes de toxicidade aguda do 1° período, as percentagens de imobilidade para a amostra bruta nos pontos P1, P2 e P3 foram, respectivamente de 20%, 30%, e 13,3%. No 2° período a mesma concentração não ocasionou imobilidade, podendo está associado ao elevado índice pluviométrico observado nesse período em Fortaleza.

 

CONCLUSÃO:

Considerando a Resolução CONAMA 274/00, os valores obtidos demonstram que o ecossistema lacustre encontrou-se impróprio à balneabilidade. As elevadas concentrações de E. coli (marcador, por excelência, da contaminação fecal) podem estar associadas aos lançamentos clandestinos de esgotos domésticos sem tratamento adequado.

Faz-se necessário um diagnóstico ambiental da área de influência para uma avaliação dos potenciais riscos à saúde dos usuários e ao ecossistema. Reconhecendo o aporte clandestino pontual de contaminantes a partir das galerias pluviais; e difuso por disposição inadequada de resíduos sólidos à margem, além de outras atividades potencialmente poluidoras nas áreas de influência direta.

Os resultados dos ensaios de toxicidade aguda apresentaram percentagens de imobilidade inferiores a 50%, fazendo-se necessária a realização de testes de toxicidade crônica através de um biomonitoramento, proporcionando um resultado mais preciso dos efeitos da poluição a médio e em longo prazo sobre esse ecossistema lacustre que, apesar de fazer parte de uma Reserva Ecológica Particular, não esta livre dos problemas advindos do uso e ocupação desordenada do solo e demais atividades antrópicas.

Instituição de Fomento: Laboratório Integrado de Águas de Mananciais e Residuárias - LIAMAR/IFCE e Prefeitura Municipal de Fortaleza/ACEFOR
Palavras-chave: Daphnia magna, Toxicidade Aguda, Balneabilidade.