62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
AVALIAÇÃO PRELIMINAR DA DIVERSIDADE FITOPLANCTÔNICA DO AÇUDE ORÓS (ORÓS-CE)
Herivanda Gomes de Almeida 1
Raimundo Bemvindo Gomes 1
Valquíria dos Santos Lima 1
Tatiana Dantas Rodrigues 2
Francisco Diego Araújo de Oliveira 1
Hugo Leonardo de Brito Buarque 1
1. Depto.de Química e Meio Ambiente do Instituto Federal do Ceará - IFCE
2. Depto. de Ciências Biológicas - Universidade Vale do Acaraú
INTRODUÇÃO:

Todos os ecossistemas necessitam de relação harmônica entre os fatores bióticos e abióticos. Assim os ecossistemas aquáticos não diferem nesta importância, pois necessitam de ambiente favorável ao equilíbrio da biota e microbiota existentes.

Os recursos hídricos dispõem-se de diversas formas no ambiente (lagos, lagoas, rios e reservatórios). Os açudes são ecossistemas artificiais, formados principalmente pelo represamento de rios para solucionar problemas socioeconômicos de determinada região, devendo ter condições físicas e bióticas adequadas ao uso, sobretudo quando se destina ao abastecimento humano. Muitos são os danos gerados pela construção de uma represa, desde a desocupação da área à instalação do projeto e as fontes de poluição da área inundada provoca efeitos negativos, tanto no ambiente aquático como no terrestre adjacente, principalmente para a fauna e flora. Uma das conseqüências é a eutrofização, causada pelo acúmulo de nutrientes, como nitrogênio e fósforo, favorecendo o crescimento exacerbado da comunidade fitoplânctônica e a degradação do ecossistema.

O estudo objetivou avaliar qualitativamente a comunidade fitoplanctônica do Açude Orós, para alertar sobre os riscos de florações de cianobactérias e a liberação de toxinas prejudiciais à saúde humana e de animais.

 

METODOLOGIA:

O Açude Orós, localiza-se no município do Orós, CE. Com área de 25.000 km2 pode armazenar 2,7 bilhões de m3 sendo o segundo maior reservatório do Ceará e responsável pela perenização do Rio Jaguaribe, abastecendo o médio e baixo Jaguaribe.

As coletas foram realizadas bimestralmente, durante o período de abril a novembro de 2009, em oito pontos: 7 à montante e um a jusante da barragem. Para a avaliação fitoplanctônica foram coletados 500 mL de amostra, acondicionados em frascos de vidro (âmbar), contendo 20 mL de formalina tamponada, com o auxílio de uma rede de plâncton de 30 a 50 cm de diâmetro e porosidade de 20 μm. As análises foram realizadas no Laboratório Integrado de Águas de Manaciais e Residuárias do Instituto Federal do Ceará - LIAMAR/IFCE. As identificações foram feitas em microscópico óptico binocular equipado com sistema fotográfico, avaliando-se pelo menos 3 lâminas por amostra. As técnicas de coleta foram realizadas segundo Bicudo (2006) e APHA et al. (2005) e as de identificação de algas e cianobactérias segundo Bicudo & Menezes (2006), Bourrely (1972), Komárek (1983), Streble & Krauter (1987), Komárek & Anagnostidis (1999), Santanna et al. (2006) e Cybis & Bedati (2006).

RESULTADOS:

No período de monitoramento as classes mais expressivas foram Cyanobacteria (entre 31,58% e 46,89%), Chorophyceae (entre 27,68% e 37,89%) e Bacyllariophyceae (entre 11,68% e 15,26%). As demais classes encontradas (Chrysophyceae, Chlamydophyceae, Dinophyceae, Euglenophyceae, Xanthophyceae e Zignemaphyceae) apareceram com baixa frequência, cujo somatório não atingiu os 20%.

A classe Cyanobactéria apresentou elevada freqüência e baixa diversidade durante todo o período de amostragem, principalmente entre abril e julho. Dentre os gêneros identificados destacaram-se Anabaena, Aphanocapsa, Aphanizomenon, Cylindrospermopsis, Coelomoron, Geitlerinema, Gloeothece, Microcystis, Merismopedia, Sphaerocavum, Synechocystis, Planktothrix, Planktolyngbia, Pseudanabaena, Phormidium e Oscillatoria. Espécies tóxicas, como Microcystis aeruginosa e Cylindrospermopsis racisborkii foram mais evidenciadas. A média da classe no reservatório foi de 37,9%. Os pontos 1, 3 e 7 tiveram média de 48,6%, 45,4% e 46,3%, respectivamente. Entre agosto e novembro, a classe Chlorophyceae sobressaiu-se mais pela diversidade de espécies do que pela freqüência. Monoraphidium contortum e M. irregulare foram mais freqüentes. Na classe Baccilariophyceae os gêneros que se destacaram foram Aulacoseira, Cyclotella e Navicula.

 

CONCLUSÃO:

Apesar de uma baixa diversidade de espécies de cianobactérias, muitas são potencialmente tóxicas, podendo inviabilizar a qualidade da água, principalmente a do açude em estudo que tem finalidade para o consumo humano.

Observou-se uma tendência clara a eutrofização, evidenciada pela concentração de poucas espécies.

Considerando que os ecossistemas artificiais são os sistemas que mais sofrem com a ação antrópica, principalmente os mais antigos, com um maior tempo de residência da água e localizados em regiões urbanas, observou-se que possivelmente há uma carga excessiva de nutrientes, favorecendo a concentração dessas espécies, que pode ser causada por atividades agropecuárias e extrativistas, despejo de efluentes, contribuição dos corpos lóticos que drenam para o açude, taxa de evaporação superior a precipitação, dentre outros.

Na continuidade dos estudos, sugere-se a avaliação quantitativa das espécies potencialmente tóxicas, do ecossistema para verificar se atende à legislação vigente, pois das espécies qualificadas, alguns gêneros como: Cylindrospermopsis e Microcystis são produtoras de cianotoxinas letais.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Açude, Comunidade fitoplanctônica, Cianobactéria.