62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
SABERES E PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO POPULAR ENTRE MULHERES E CRIANÇAS RIBEIRINHAS EM UMA ILHA DE BELÉM-PARÁ
Michelle Mitre 1
Marcelo Valente de Souza 1
Elizabeth Teixeira 1
1. Programa de Pós-graduação- Universidade do Estado do Pará - UEPA
INTRODUÇÃO:
A diversidade é um traço das culturas populares. Tal peculiaridade acaba por exigir dos especialistas e de nós educadores populares, inúmeras e inacabadas tipologias responsáveis por uma compreensão mais sistematizada, apresentando-se como principal fator a se opor contra a cultura dominante. Esta última tende a uniformização estendendo-se as classes médias e dominadas com padronizações e estereótipos estanques, muitas das vezes, seguidos pela cultura popular que ao se processar dialeticamente, rompe laços com a cultura dominante, multiplicando cada vez mais sua diversidade. Dessa forma, buscamos entender a cultura popular como fonte de estudos e práticas dos saberes da educação popular a partir de um projeto desenvolvido em uma ilha de Belém do Pará, junto às mulheres e crianças ribeirinhas, por meio de um programa de educação popular implantado por nós junto aos ribeirinhos. Esse trabalho significa não só um espaço educativo-político, mas também um ambiente investigativo, pois nos coloca constantemente diante de temáticas que vão ganhando relevância ao percebemos que quanto mais conhecemos o mundo cotidiano das mulheres e crianças, mas estamos fortalecidos em nossas práticas educativas.
METODOLOGIA:
O trabalho desenvolve-se a partir de uma aproximação com a comunidade, com encontros e visitas às famílias. Os encontros são semanais, sempre às quartas-feiras, na Ilha de Caratateua (Belém -Pa), reunindo 40 mulheres e 25 crianças da comunidade local. Nos encontros que acontecem em uma ONG, abordamos temas como saúde da família, arte e educação familiar, assim nós desenvolvemos trabalhos lúdicos (performances teatrais, jogos, cantigas, excursões, dinâmicas de grupo e construção de materiais alternativos), palestra, debates, roda de conversas e círculos de cultura. Os trabalhos foram planejados e discutidos em equipe antes de sua aplicação e após a observação dos mesmos em torno da problemática levantada dentro da comunidade. Após isso, foram realizados debates, rodas de conversa, entre outros, sobre cada temática abordada, e no final foi aplicado um formulário para conhecer o que o público-alvo tinha aprendido. Dessa forma, registramos os momentos por meio de fotodocumentação e construímos gráficos a partir do formulário aplicado aos participantes.
RESULTADOS:
Compreendemos que entre as mulheres e as crianças ribeirinhas há variações de culturas merecedoras de valorização para um trabalho educativo comprometido com a conscientização, emancipação e ação para a cidadania, questões estas voltadas ao multiculturalismo. Nesta ilha, encontramos uma "diversidade única", caracterizada por traços oriundos da região amazônica, sujeitos apaixonados pela natureza e problematizadores de sua condição frente às necessidades do meio social em que vivem. O trabalho desenvolvido por nós nesta localidade sinalizam para uma grande (re) significação dos conceitos, das concepções e das práticas voltadas à cultura popular. Esta, passa a ser observada ou vivenciada pelos ribeirinhos, como forma de libertação, de desenvolvimento e de progresso social, haja vista que a mesma constitui no ponto em comum em meio à diversidade de tipos e pessoas de uma determinada comunidade, no nosso caso, os moradores da ilha. Outro ponto foi em torno de uma práxis educativa convergente às experiências/vivências e saberes/fazeres/dizeres dessa comunidade. Não levamos respostas prontas, mas procuramos dinamizar os encontros para que, a partir dos conhecimentos de mundo, em um trabalho coletivo, novas configurações/representações fossem construídas.
CONCLUSÃO:
As perspectivas emergentes na nossa pesquisa reforçam a necessidade de novas alianças entre Educação Popular (EP) e a Epistemologia, além da análise dos efeitos que estes projetos educativos têm para a solução dos problemas que permeiam todo o processo de ensino-aprendizagem. Outra perspectiva a ser aprofundada é o (re) conhecimento do universo de representações, imaginários e saberes das mulheres e crianças, rompendo com as dicotomias criadas historicamente entre as expressões acadêmico/profissional e popular/espontânea presentes, muitas vezes, em nosso mundo acadêmico. Surge na EP um lócus privilegiado para sua superação, por meio da construção de um novo saber que integre o científico e o popular. A partir de outra realidade diferente da nossa, num outro contexto, com outra cultura, pudemos abraçar e perceber na prática essa superação, desenvolvendo nosso espírito crítico-reflexivo, mas dentro de uma concepção multicultural.
Palavras-chave: Educação popular, Cultura popular, Ribeirinhos.