O Programa de Educação Tutorial (PET) trabalha a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão a partir da organização em grupos de 12 alunos bolsistas, orientados por um professor tutor, em diversos cursos de graduação. No grupo PET Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, dentre as várias metodologias adotadas pelos alunos para abordarem temas que fazem questão à formação profissional, desde 2007 há uma aposta nos chamados "grupos de estudo" enquanto potência criativa ao se construir a educação tutorial na Universidade. Os bolsistas, alunos de diferentes etapas do curso, tem seus percursos acadêmicos atravessados por disciplinas obrigatórias, eletivas, pesquisas junto à iniciação científica, estágios obrigatórios e complementares, entre outros. Nesse transitar entre Universidade e comunidade emergem questões a serem estudadas e discutidas junto aos colegas, ampliando as fronteiras da formação básica curricular. Acreditamos que esse momento de estudo em grupo permite ao estudante, ao partilhar suas impressões e vivências relacionadas à temática, desenvolver também uma experiência de tutoria junto aos colegas.

Em 2009, foi proposto um grupo de estudos a partir do tema Psicologia Hospitalar, relacionado ao estágio de um bolsista do grupo PET e de grande interesse por parte da comunidade acadêmica, por ser uma área pouco contemplada no currículo do curso e comprometida em debater, junto a diferentes especialidades, questões de saúde pública e modos de cuidado. Inicialmente, os bolsistas levantaram tópicos de interesse quanto à temática, a fim de estabelecer contato com profissionais e produção científica relativa à área. Após esse primeiro momento, alunos do curso de graduação em Psicologia foram convidados a participarem dos encontros, onde um profissional convidado indicava um texto para leitura e posterior debate. O grupo era formado por cerca de 16 alunos de diferentes semestres do curso e, para os debates, os profissionais partilhavam sua experiência na realidade hospitalar, enquanto os alunos problematizavam o tema no encontro do mesmo com a sua formação.

Durante os cinco encontros, os estudantes puderam se aproximar da área da Psicologia Hospitalar, a qual era pouco explorada no currículo regular da faculdade, criando novos espaços de aprendizagem e troca. A discussão do texto, o relato do profissional e as trocas em grande grupo permitiram que se pensasse coletivamente as diferentes temáticas, tanto no sentido de uma aproximação com o espaço acadêmico, como no tensionamento deste com a realidade da saúde pública. Os alunos puderam partilhar suas experiências enquanto usuários e profissionais da saúde, abordando diferentes problemáticas sob perspectivas epistemológicas, éticas e sociais. No âmbito da educação tutorial, observa-se que cada aluno participante foi protagonista do conhecimento produzido em grupo, podendo potencializá-lo enquanto multiplicador junto aos demais colegas que não fizeram parte do grupo de estudos.

O estudo em grupo se mostra uma importante ferramenta para se pensar a educação, especialmente no molde de um conjunto de alunos orientados por um tutor. A partir de nossa experiência, concluímos que a Universidade carece de iniciativas dispostas a construir novas metodologias de ensino-aprendizagem e os grupos de estudo surgem como um modelo onde o sujeito se torna protagonista no processo de elaboração do conhecimento, a partir de discussões, relatos e leituras partilhadas. O projeto do grupo de estudos em psicologia Hospitalar segue em 2010, a partir da proposta que os alunos possam visitar as instituições as quais foram representadas por profissionais nos debates. Percebemos, assim, a construção coletiva de um modelo de extensão universitária a qual estimula o livre trânsito entre academia e comunidade, permitindo que os saberes também possam circular entre profissionais, alunos, professores e usuários dos serviços.