62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES EM SERVIÇO: UM OLHAR SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E A CONSTRUÇÃO DE NEXOS PARA VIABILIZAÇÃO DO TRABALHO COLETIVO NA ESCOLA
Ferdinando Santos de Melo 1
Flávia Augusta Santos de Melo 2
1. Professor e Coordenador Pedagógico da Rede Municipal de Ensino de Salvador-BA
2. Assistente Social e Mestranda em Educação na Universidade Federal de Sergipe
INTRODUÇÃO:

As discussões sobre formação continuada de professores na Educação Básica perpassam pela perspectiva de mudança no processo dos cursos de formação inicial, seja ela em nível normal médio, seja em nível de graduação, e de uma maior aproximação entre formação teórica e prática, constituindo a práxis necessária à realização de uma pedagogia consciente, embasada em uma atitude pensante e reflexiva.  Nessa perspectiva, essa pesquisa busca analisar a formação de professores em serviço realizada na própria escola, implementada pela Secretaria Municipal de Ensino de Salvador, materializada nas reuniões pedagógicas semanais, a partir dos discursos dos professores e coordenadores pedagógicos, tendo como ponto de partida as categorias Prática Docente e Trabalho Docente. O desenvolvimento desse estudo propiciou a existência de um debate em nível de Coordenadorias Regionais de Ensino, com reordenamentos de metodologias aplicadas pela Coordenação Pedagógica nas Unidades de Ensino pesquisadas, contribuindo para a sistematização de novos olhares aos procedimentos já empregados no processo formativo via atividade complementar.

METODOLOGIA:

Para analisar a dinâmica da formação continuada em serviço de professores na Rede Municipal de Salvador, no período 2007 a 2008, utilizamos a pesquisa exploratória, como forma de desenvolver uma investigação em consonância com os fundamentos da pesquisa avaliativa proposto por Saul (1994). No campo empírico, a pesquisa compreendeu 4 escolas municipais, no qual foram entrevistados 48 professores (do 1º ao 9º ano) e 8 coordenadores pedagógicos - 4 das séries iniciais do Ensino Fundamental e 4 coordenadores do 6º ao 9º ano, além da aplicação do grupo focal em momentos de atividade complementar e reuniões de área. O critério utilizado para a escolha dos professores entrevistados foi a freqüência dos docentes efetivos, acima de 80%, nas reuniões de 2006. Todos os coordenadores foram entrevistados, uma vez que estes são os responsáveis pela implementação e execução do processo de formação continuada de professores nos espaços institucionais pesquisados. Para a interpretação dos dados, foram transcritas as falas, com posterior análise de conteúdo, e feita a descrição detalhada do roteiro das formações semanais propostas pela equipe pedagógica das escolas, que em muito se assemelham, porém observando as nuances que se apresentam em cada realidade.

RESULTADOS:

Os modelos de formação em serviço disposto nas escolas pesquisadas trazem para o debate a concepção de Gama (2004), que diz respeito à chamada formação centrada na escola, na qual as melhorias das práticas nas dimensões individuais e coletivas deve ser resultado de um projeto único de formação, que tem como meta melhorar o trabalho pedagógico na instituição de maneira global e integrada. É indispensável considerar, como ponto de partida, o conhecimento, a experiência, as demandas e necessidades de aprendizagem próprias dos educadores. Ademais, um processo de formação continuada bem orientado, permite que o professor amplie e reoriente suas necessidades de aprendizagem e se torne cada vez mais autônomo. A rotina dos trabalhos de formação no lócus da pesquisa, de maneira geral se processa da seguinte forma: momento inicial de sensibilização com mensagens e reflexões sobre vivências anteriores, elaboração de planos e roteiros de aula semanal, e boa parte do tempo das reuniões pedagógicas sendo ocupado por problemas de ordem administrativa, o que de certa forma desmobiliza o trabalho e promove a descaracterização das atividades formativas em serviço. As entrevistas e a aplicação dos grupos focais revelaram que os docentes, gostariam que este momento de formação fosse destinado exclusivamente para a discussão pedagógica efetiva e que esta tivesse um caráter que agregasse as dimensões do ensino e da pesquisa como propostas fundamentais de formação, com a emergência no debate de temas sobre avaliação e dificuldades de aprendizagem dos alunos, currículo,metodologia do ensino, gestão, processo de ensino aprendizagem, relação professor-aluno, e sobretudo que houvesse interlocução de saberes e experiências entre as unidades de ensino municipais, com promoção de seminários de cunho científico e a valorização dessas experiências para a concretização de um profissional de ensino com um perfil de pesquisador, capaz de investigar, criticar, propor e ressignificar sua prática. Já os Coordenadores Pedagógicos trouxeram em suas falas, as implicações do agir na mediação entre trabalho docente e gestão escolar, com impactos na autonomia da realização de seu trabalho profissional.

 

 

CONCLUSÃO:

Os resultados da pesquisa levaram a um redesenho discreto, na forma como a Secretaria Municipal de Salvador vinha alocando a formação continuada docente em serviço em suas escolas. Com vislumbre das primeiras iniciativas, já em janeiro de 2009, as duas Coordenadorias Regionais de Ensino, onde as 4 escolas pesquisadas estão vinculadas, propôs a realização de encontros de formação para Coordenadores, com o intuito de problematizar o debate acerca das inquietações apresentadas pelos professores, num momento pré-jornada pedagógica, no sentido de construir uma agenda coletiva para o ano que se iniciava.    Nesse entendimento, podemos depreender que perceber a escola como local privilegiado de formação continuada é o grande desafio. Portanto, as propostas implementadas devem atender plenamente o que preconiza o Art. 61, Inciso I, da LDB, que legitima: a formação de profissionais da educação, permeada pela associação entre teoria e prática, inclusive mediante a capacitação em serviço. Defendemos aqui, o aporte propositivo trazido por Mello(2000) relativo aos modelos de formação permanente possíveis de serem implementados nas escolas: ter como eixo norteador a demanda concreta e contextualizada dos professores que participam da formação e reconhecer que as tarefas de formação permanente são um instrumento fundante para garantir o desenvolvimento profissional dos educadores.

Palavras-chave: Formação de professores, Prática pedagógica, Trabalho coletivo na escola.