62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
A ABORDAGEM LÚDICA DE CONCEITOS CIENTÍFICOS COM CRIANÇAS DE COMUNIDADES CARENTES ATENDIDAS NO ÂMBITO DO PROJETO BIBLIOSESC: A EXPERIÊNCIA INICIAL DO "BRINCANDO COM FÍSICA".
Andres Salomon Cohen Sebilia 1, 2
Ana Carolina de Souza Gonzalez 1
Claire da Cunha Beraldo 1
Filippe Moraes Signorelli 1
Fátima Vieira Brasileiro 2
1. Departamento Nacional do SESC (Gerência de Educação e Ação Social), RJ.
2. Departamento Nacional do SESC (Projeto Ação Comunitária Cidade de Deus), RJ.
INTRODUÇÃO:

O rápido avanço tecnológico pelo qual o mundo passa, além de alterar o cotidiano das pessoas, implica em mudanças culturais e trazem novas exigências educacionais. As críticas sobre a prática pedagógica baseada fundamentalmente na memorização, sem compreensão, não é recente e seus efeitos danosos sobre o processo educativo são enfatizados na literatura. Desde 1987 o SESCiência  vem auxiliando a  missão de disseminar as Ciências de maneira lúdica e desmitificada, fazendo com que crianças, jovens e adultos tenham contato com os conteúdos científicos a partir de estratégias na área da educação não-formal. Iniciativas do Departamento Nacional do Serviço Social do Comércio (SESC-DN), o Projeto "Brincando com Física" (PBF) é uma parceria do SESCiência com o BiblioSESC - uma unidade móvel de biblioteca que oferece empréstimo gratuito de livros e percorre comunidades vizinhas à sede do SESC-DN, a partir das ações de responsabilidade social implementadas pelo Projeto Ação Comunitária Cidade de Deus. Com os objetivos de incentivar o empréstimo e a leitura de livros de Ciências, e aumentar o interesse do público atendido por esse tema, o PBF expôs junto à unidade do BiblioSESC, para manipulação dos visitantes, pequenos equipamentos interativos e brinquedos científicos de Física e Biologia.

METODOLOGIA:

Entre os meses de julho e agosto de 2009 foram atendidas 4 comunidades - Gardênia, Anil, Rio das Pedras e Condomínio Bandeirantes - incluídas na itinerância do BiblioSESC. Cada uma recebeu 2 visitas, com um intervalo de 15 dias. Nos primeiros contatos em cada ponto, foram trabalhados equipamentos com conteúdos relacionados à energia mecânica, elétrica, cinética, potencial, eólica e solar, além de suas transformações. Na segunda visita, os dispositivos exploraram temas de ecologia geral, pressão, atrito e centro de massa. As ações foram conduzidas por um mediador, estagiário do SESCiência, responsável por estimular o público a interagir com os equipamentos, por fomentar os questionamentos e as conclusões, e por procurar estabelecer uma relação lógica entre o que estava exposto e o cotidiano do participante. Ao final das apresentações, os visitantes foram convidados a responder a um questionário que visou fazer um levantamento qualitativo do perfil do público. As questões versaram sobre escolaridade, idade e freqüência de visita ao BiblioSESC, As perguntas também procuraram saber qual foi o dispositivo exposto que mais despertou a curiosidade, se os conteúdos abordados já haviam sido trabalhados no ambiente escolar e se a iniciativa aumentou o interesse por livros de Ciências.

RESULTADOS:

Ao final da ação, do total de pessoas que participaram do PBF (número não estimado), 75 responderam ao questionário de pesquisa do perfil: 26 na Gardênia, 18 no Rio das Pedras, 17 no Anil e 14 no Condomínio Bandeirantes. Do ponto de vista do mediador, as maiores receptividade às atividades foram sentidas na Gardênia e no Anil, enquanto que no Rio das Pedras no Condomínio Bandeirantes a grande agitação das crianças teria gerado uma dificuldade maior em estabelecer conexão direta e um bom diálogo com elas. Por meio da analise qualitativa dos dados, algumas observações foram feitas e apontaram peculiaridades. Cerca de 42,1% dos entrevistados não conheciam o BiblioSESC, mostrando que o PBF também teve o papel de atrair o público e divulgar as ações. A faixa etária predominante foi a 6 a 10 anos (68%)- correspondendo ao primeiro segmento do ensino fundamental-, seguida da faixa de 11 a 15 anos (28%). A ausência de entrevistados na faixa de 16 a 20 anos aponta a necessidade de se pensar em estratégias específicas para atração dos alunos do ensino médio. Do público que respondeu ao questionário, 70,6% eram do sexo masculino, 81% afirmaram jamais terem trabalhado em sala de aula os conteúdos discutidos e 64,3% declararam que a iniciativa aumentou o interesse pelos temas abordados.

CONCLUSÃO:

O PBF traduziu uma parceria exitosa entre o SESCiência, com seu knowhow em ações de popularização da ciência, e a logística de trabalho do BiblioSESC. Embora não tenham sido realizadas análises estatísticas, a continuidade do projeto e o aumento da casuística permitirão um estudo mais acurado dos resultados, inclusive com a avaliação de variações entre as comunidades. As perspectivas apontam para a ampliação do campo de atividades, tanto com a extensão do PBF a outras comunidades já atendidas pelo BiblioSESC, quanto com a aquisição de novos dispositivos. É importante também que a unidade móvel disponibilize em seu acervo mais livros de Ciências para suprir a demanda do público infanto-juvenil. Cabe registrar que o SESCiência e o BiblioSESC são projetos nacionais, com atuação em quase todos os estados. Portanto, o PBF pode ser visto como um Projeto piloto a ser replicado e implantado em outras regiões, com especial atenção aos interiores, que mais comumente carecem dessas iniciativas. Os resultados preliminares enfatizam o importante papel de ações educativas que ultrapassam os limites escolares - como em Museus de Ciência - complementando o conteúdo trabalhado, motivando para o estudo, aprofundando os temas e permitindo a assimilação de um olhar interdisciplinar das Ciências.

Palavras-chave: Educação não-formal, Brinquedos científicos, Trabalho em comunidades.