62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia
ADEQUAÇÃO DO ESTÁDIO DO GOYTACAZ FUTEBOL CLUBE AO ESTATUTO DE DEFESA DO TORCEDOR: ELEMENTOS DA CULTURA FUTEBOLÍSTICA EM CAMPOS
Gicéli da Silva Ribeiro 1
Elaine Holder da Cruz 1
José Maria Ribeiro Miro 1
Ricardo Pacheco Terra 1
Luiz de Pinedo Quinto Júnior 1
1. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense - Campos/RJ
INTRODUÇÃO:
A geografia apresenta profundas mudanças nas últimas décadas, incorporando novas perspectivas de análise e ultrapassando os limites do funcionalismo utilitário de forças demográfico-econômicas para operar com outras repletas de significados culturais. Os equipamentos esportivos podem ser tomados como "paisagem-marca", resultantes de valores que se materializaram num dado momento e lugar. Esse patrimônio histórico-cultural participa ativamente da vida cotidiana, no plano simbólico e de ação. Os estádios de futebol cumprem papel relevante na produção social urbana no Brasil, demarcando tempos e horizontes, sendo um lugar distinto de encontro coletivo e ritualizações que se repetem periodicamente, guardando para o torcedor algumas semelhanças com os santuários religiosos. A partir da Lei nº 10.671, de 15 de maio de 2003, o lazer passa a ser revalorizado e o Estatuto de Defesa do Torcedor, torna-se um instrumento regulador que garante os direitos dos consumidores na assistência aos espetáculos esportivos no país. O futebol como um produto de consumo de massa tem agora suas especificações claras; mas como os pequenos clubes estão enfrentando esse desafio? As observações no estádio Ary de Oliveira e Souza do Goytacaz Futebol Clube averiguou o cumprimento dessas novas determinações.
METODOLOGIA:

Para os geógrafos analisar um ambiente é reconhecer seus significados culturais, correlacionando processos e usos sociais dos espaços.  Mas o que o futebol tem haver com a geografia? Esse tema poderia ser melhor abordado pela Educação Física ou Sociologia? A linha metodológica adotada se iniciou com o levantamento bibliográfico sobre o assunto como ferramenta para entender as contribuições positivas e negativas a gestão desses espaços públicos a partir de ferramentas normativas como o Estatuto de Defesa do Torcedor. Foi usada também a fotografia como fonte de informações que além dos registros documentais pode relatar a visão do real, principalmente a movimentação e expectativa dos torcedores ao entrarem no estádio. Utilizou-se o método indutivo na pesquisa para aproximar a teoria aos fatos investigados, e através de análise fenomenológica particularizou-se o estudo de caso. Em campo o foco do trabalho foi verificar as alterações que o Estatuto de Defesa do Torcedor provocou no Estádio Ary de Oliveira e Souza. Para isso foram feitas entrevistas com o Presidente da Liga Campista de Desportos, com o presidente do clube, com torcedores comuns e organizados, além de proprietários de estabelecimentos comerciais no entorno do local.

RESULTADOS:

A reflexão acerca do planejamento e da gestão pública do esporte e do lazer nos estádios foi discutida a partir do momento que um consumidor (torcedor) compra seu ingresso para assistir a um evento, estabelecendo-se uma relação de compra e venda de um produto. O Estatuto de Defesa do Torcedor (EDT) não visa somente o conforto e a segurança do torcedor, mas a gerência daquele ambiente público. Por ser lugar de convívio e sociabilidade entre os diversos extratos da sociedade civil o Estado tem o papel de intervir na sua organização para melhor atender aos cidadãos. A adequação as normas estipuladas do EDT aparelha a administração pública e regulamenta a qualidade dos serviços prestados aos freqüentadores, esclarecendo seus direitos. No Ary de Oliveira e Souza a publicidade das informações referentes às competições esportivas é divulgada na Internet e em materiais impressos; a segurança do torcedor é garantida pela Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, ambulâncias, médicos, além da equipe de segurança particular contratada pelo clube; foram construídas rampas de fácil acesso aos portadores de deficiência física e novos banheiros; e balcão de informações disponibilizado ao torcedor para o serviço de atendimento ao público com serviços de orientação.

CONCLUSÃO:

A cidade sempre se revelou como o território onde mais se estabelecem relações entre as pessoas e onde se fazem necessárias regulamentações do poder público para os espaços privados, mostrando que nessas arenas o poder, a técnica, o trabalho, e a informação norteiam as decisões políticas. Por isso, parte da sociedade ganha visibilidade nas disputas existentes pelos espaços e sua apropriação se dá a favor de grupos mais bem articulados. No que diz respeito ao lazer, e ao futebol em particular em nosso país, a expectação se sofistica a cada dia. De um lado, ao subtrair à vista os setores subalternos, eliminando ou diminuindo as áreas anteriormente ocupadas pelos "geraldinos e arquibaldos", os privilegiados estádios viram palcos de coreografias contagiantes das torcidas organizadas e por outro, essa nova organização privilegia as relações de consumo capitalista, o que transforma uma ação cultural num produto de mercado. A estrutura do estádio representa um espaço construído que designa proteção ao público freqüentador e através deste artifício constatou-se as dificuldades que o Goytacaz Futebol Clube passa para atender as determinações do Estatuto de Defesa do Torcedor.

Instituição de Fomento: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense - Campos/RJ
Palavras-chave: Geografia, Estatuto de Defesa do Torcedor, Estádio Ary de Oliveira e Souza.