62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada
CRENÇAS SOBRE ENSINO DE INGLÊS DE PROFESSORES E DE ALUNOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA
Lúcia Regina Soares Melo 1
James Araújo de Vasconcelos 1
Leonardo Guimarães de Farias 1
Lorena Azevedo de Sousa 1
Patrícia Sayonara Lima de Araújo Pereira 1
1. Dep. de Letras, Ciências e Artes, Univ. Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
INTRODUÇÃO:

Este trabalho apresenta os resultados de pesquisa desenvolvida entre fevereiro e julho de 2009 com a disciplina Estágio Supervisionado de Formação de Professores I. A proposta da pesquisa surgiu do entendimento que tanto a língua, quanto os sujeitos são produtos sociais e que a relação professor-aluno é de complementaridade, ou seja, para que um se desenvolva, a presença do outro é imprescindível.
Assim, buscou-se pesquisar as crenças que alunos e professores em uma escola estadual de Natal possuem sobre ensino de inglês, objetivando a análise comparativa entre os dados fornecidos pelos alunos e aqueles fornecidos pelos professores, nos três turnos. Procura-se, dessa forma, observar se existe compatibilidade entre o que afirma o aluno e o que afirma o professor da escola pesquisada sobre os seguintes tópicos: aquisição de língua estrangeira; relação entre aluno e professor de inglês na sala de aula; conteúdos da língua inglesa com os quais eles possuem mais afinidade e dificuldade tanto de aprendizagem quanto de ensino; participação da diretoria no processo de ensino-aprendizagem e inserção desses alunos em universidades; por fim, a auto-avaliação do aluno e do professor quanto ao seu respectivo esforço para aprender e para ensinar uma língua estrangeira.

METODOLOGIA:

Esta pesquisa é um estudo de caso, que se desenvolveu em duas fases e se utiliza do referencial teórico de Barcelos (2001, 2006), Freire e Lessa (2003) e Moscocici (2003). A primeira fase foi voltada para os dados institucionais, para as adaptações da sala de aula de línguas, para o processo de ensino aprendizagem, e para a caracterização da dinâmica sócio-cultural da escola e de seus arredores. A segunda fase, a qual passa a ser apresentada aqui, ocorreu com aplicações de questionários e observações de aulas.

As entrevistas dos alunos de ensino médio ocorreram nos três turnos: foram quinze alunos da segunda série no turno matutino, treze da terceira série no turno vespertino e vinte e nove alunos do curso noturno (dez da primeira série, nove da segunda e dez da terceira série). Quanto ao número de questões, os alunos responderam cinco perguntas e os professores responderam vinte e cinco. Foram aplicados ao todo cinqüenta e sete questionários para os alunos e três para os professores de inglês. Além dos questionários, quatro funcionários (diretora, coordenadoras e porteiro) foram entrevistados com entrevistas semi-abertas.

RESULTADOS:

Devido à natureza de algumas perguntas, que admitem mais de uma alternativa como, por exemplo, o que os alunos acham que é saber inglês: "entender, falar, ler ou escrever", os dados serão apresentados sem percentagens. Para a maioria dos alunos, aprender uma língua estrangeira é ser capaz de "ler e entender"; apenas um marcou "escrever" e nenhum considerou "falar" como uma habilidade relacionada a saber uma língua estrangeira (LE). Quando perguntados sobre a relevância de estudar uma LE, eles foram unânimes respondendo "sim".

As perguntas dos alunos em relação aos professores visam à avaliação da conduta do professor em sala de aula e as repostas chamaram atenção quanto a sua natureza contrária, por exemplo, quando inquiridos sobre o horário de chegada do professor e sobre o fato de ele liberar os alunos antes do término da aula. Sete alunos disseram que "o professor é pontual e só libera no horário", mas dois disseram o oposto, "o professor não é pontual e libera mais cedo". Os alunos observaram que a diretoria poderia melhorar o acervo da biblioteca e que inexistem livros de literatura inglesa. Quanto ao material de multimídia, eles "não estão disponíveis". É por esses e outros motivos que apenas um entre nove alunos afirmou ser possível aprender inglês em escola pública.

CONCLUSÃO:

Percebeu-se que houve convergências quanto às crenças dos professores e às crenças dos alunos na escola pesquisada. Na primeira pergunta, por exemplo, "O que você entende por estudar uma língua estrangeira?", os três professores pesquisados responderam que as quatro habilidades anteriormente citadas são importantes, no entanto, as suas crenças não refletiram em suas ações, eles continuam priorizando leitura (reading) e escrita (writing), e esquecendo as habilidades de expressão e de compreensão oral (speaking e listening).

Cabe aos professores mostrar que o inglês é uma língua global e que está presente no cotidiano dos alunos, porque os resultados mostraram que a maioria deles acha que nunca teve contato com a língua inglesa antes de estudá-la formalmente na escola. Além disso, os alunos não consideram "falar" uma língua estrangeira importante e também não praticam listening em sala de aula, nem são avaliados quanto a sua compreensão oral.  Um dos professores disse que agia não de acordo com o que considerava correto, mas conforme as orientações que recebia da diretoria. Se esse modelo não se mostra eficaz, e os próprios alunos reconhecem isso, não tem sentido dar continuidade a esse ensino que pouco aprova em vestibulares, porque se mostra ineficaz. Precisa-se de mudança urgentemente.
Palavras-chave: Crenças de professores e alunos, Ensino de Inglês, Estágio Supervisionado I.