62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde
ALCOOLISMO: QUALIDADE DE VIDA E CRENÇAS.
José Adriano Gonçalves Sarmento 1
Diego Macedo Gonçalves 3
Nathália Lucena Diniz 2
Neuciane Gomes da Silva 4
1. Curso de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.
2. Curso de Psicologia, Bolsista de Iniciação Científica/CNPq - UFRN
3. Faculdade de Ciência, Cultura e Extensão do RN - FACEX
4. Profa. Dra./Orientadora - Departamento de Psicologia - UFRN.
INTRODUÇÃO:
Em todo o mundo, o abuso de álcool preocupa os sistemas de saúde, estima-se que na população mundial o número de dependentes esteja entre 10% e 15%. O uso prejudicial de álcool é associado a mais de 60 tipos de doenças, incluindo desordens mentais, câncer e cirrose, além de danos intencionais e não intencionais (beber e dirigir), comportamentos agressivos, perturbações familiares, e acidentes no trabalho. O alcoolismo é um transtorno causado por um complexo conjunto de fatores biológicos, psicológicos e socioculturais. O que implica em problemáticas de ordem biopsicossociais que prejudicam os usuários e seus familiares e apresentam um alto custo econômico social, portanto é importante conhecer melhor este fenômeno e melhorar seus tratamentos. A literatura aponta uma baixa adesão e eficácia dos tratamentos, aponta também uma relação entre consumo maior de álcool e expectativas positivas quanto aos seus efeitos. Perante tais fatos, pretende-se com este estudo trazer contribuições ao entendimento da dependência alcoólica, através de uma análise de crenças e comportamentos associados ao álcool, de sujeitos dependentes que estão em tratamento em um Centro de Atendimento Psicossocial na cidade de Natal - RN, bem como verificar como tais sujeitos avaliam sua qualidade de vida.
METODOLOGIA:
A amostra consiste em 66 sujeitos, sendo 62 deles do sexo masculino e quatro do sexo feminino, com idades variando entre 32 e 72 anos, que procuraram os serviços de um CAPS ad. Os pacientes foram abordados na própria instituição que funciona de forma ambulatorial. Em uma sala específica, arejada e com iluminação adequada, ocorreu a administração dos instrumentos. Após concordar em participar da pesquisa, os sujeitos leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, aprovado pelo Comitê de Ética da UFRN. Em seguida responderam a um questionário que aborda aspectos sócio-demográficos, que abarcam questões como sexo, idade, estado civil, escolaridade, média da quantidade de bebida ingerida, tempo em que está em abstinência, entre outros. Além do questionário sócio-demográfico, também foram utilizados o Inventário de Expectativas e Crenças Pessoais acerca do Álcool (IECPA). Composto por 61 itens este inventário avalia expectativas pessoais acerca dos efeitos positivos do consumo moderado de bebidas alcoólicas; e a Versão em português do Instrumento de Avaliação de Qualidade de vida (WHOQOL, abreviado) que conta com 26 questões em escala Likert.
RESULTADOS:
Os resultados foram obtidos através dos testes estatísticos: Anova quando as variáveis se dividiam em mais de dois grupos; e Teste T quando as variáveis se dividiam em apenas dois grupos. Quanto ao Instrumento de Qualidade de Vida, os dados obtidos apontam para uma diferença significativa entre o número de vezes em que o sujeito tentou parar de beber e sua pontuação no Domínio IV, relacionado a como avaliam o meio em que vivem (P < 1), no qual indivíduos que tentaram parar de beber mais de três vezes avaliam de forma mais negativa seu ambiente comparado a indivíduos que tentaram uma vez apenas. A avaliação dos dados do IECPA apontou para uma relação entre o número de vezes em que o indivíduo tentou parar de beber sem tratamento e a avaliação dos efeitos positivos do consumo moderado de álcool (Pontuação média no Instrumento) sendo que, sujeitos que tentaram parar até duas vezes avaliaram os efeitos do consumo de forma mais positiva (média = 197,5) que indivíduos que tentaram mais de três vezes (média = 141,8)(P < 5). Outro resultado bastante interessante e significativo (P=0) apontou que sujeitos que avaliam os efeitos do álcool de forma menos positiva (apresentam menores pontuações no IECPA) avaliaram como melhor sua qualidade de vida (obtiveram maior pontuação no WHOQOL).
CONCLUSÃO:
Considerando os resultados obtidos com a análise dos dados podemos inferir que o ambiente influencia nas chances de ocorrerem recaídas, uma vez que pessoas que avaliaram de forma mais negativa os meios que freqüentam tiveram mais recaídas. Tal dado corrobora para a concepção de o alcoolismo sofrer influência social, mostrando que as pessoas e os lugares de convívio têm relação com o comportamento de consumir o álcool. Pode-se inferir também que a forma como o sujeito avalia os efeitos do consumo de álcool está relacionada com o fato de procurar parar de beber, porém não se pode afirmar uma relação de causa-efeito em um estudo correlacional. Entretanto, pode-se especular que sujeitos que vêem o álcool de forma mais negativa tendem a buscar parar de beber com mais frequência. O IECPA é usado muito em triagem de alcoolistas, os indivíduos que pontuam um escore total superior a 136 apresentam uma tendência a dependência, os valores abaixo deste número são considerados como sujeitos que podem fazer uso abusivo do álcool. Nesta pesquisa os participantes que pontuaram abaixo de 136 (média = 110, 35) avaliaram como melhor sua qualidade de vida, comparados a indivíduos que tiveram uma alta pontuação (média=189,5), respaldando os possíveis prejuízos biopsicossociais do alcoolismo.
Palavras-chave: Alcoolismo, IECPA, Qualidade de Vida.