62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 8. Educação Matemática
ENSINO DE MATEMÁTICA, CIDADANIA E SITUAÇÕES COTIDIANAS: O CASO DO CONSUMO RACIONAL DE ÁGUA POTÁVEL
Marcelo Leon Caffé de Oliveira 1, 2
1. Depto. de Ciências Exatas, Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS
2. Centro de Educação Básica da UEFS - CEB-UEFS
INTRODUÇÃO:
Neste trabalho, a partir da análise de uma experiência realizada na Educação Básica, objetivo refletir sobre a utilização de situações cotidianas no ensino de Matemática com vistas à formação de um cidadão crítico e participativo. Nesta experiência, alunos do ensino fundamental, envolvidos em uma atividade de modelagem matemática construída a partir de uma situação cotidiana, se debruçaram sobre a questão do uso racional de água potável. A modelagem matemática, em linhas gerais, é entendida aqui como uma abordagem, por meio da Matemática, de problemas não matemáticos do cotidiano ou de outras áreas do conhecimento. A utilização de contextos não matemáticos nas aulas de Matemática e a necessidade de formar cidadãos críticos e reflexivos têm merecido destaque na literatura relativa à Educação Matemática, o que torna este estudo atual e relevante.
METODOLOGIA:
A experiência aqui analisada aconteceu em um evento realizado no 2° semestre de 2008 no CEB-UEFS, em que, durante uma semana, os alunos da escola escolheram participar de minicursos e oficinas abordando temas diversos. Neste evento, um grupo de aproximadamente 20 alunos participou do minicurso "Matemática, Cotidiano e Cidadania". Estes alunos, em sua maioria do 8°ano, tinham em média 13 anos e escolheram participar do minicurso por estarem curiosos para entender a relação entre as palavras que compunham o seu título. Para relacionar Matemática ao cotidiano e à cidadania propus discutirmos o tema "uso racional de água potável". Com a intenção de sensibilizar os alunos para a necessidade de utilizar água potável racionalmente, convidei-os a ler e analisar dois textos que abordavam o desperdício de água no Brasil e a possibilidade de escassez de água no mundo. Após a discussão dos textos, os alunos se organizaram em pequenos grupos e resolveram a seguinte situação-problema: Qual o gasto mensal, em reais, causado por uma torneira que fica gotejando sem parar? Para que fosse possível resolvê-la, apresentei os dados necessários (quantidade de água desperdiçada em uma hora por uma torneira gotejando sem parar; a taxa de esgoto e o preço cobrado por um metro cúbico de água na Bahia.
RESULTADOS:
Antes de propor a situação-problema acima, os dois textos que haviam sido distribuídos previamente foram lidos. À medida que a leitura avançou, os alunos estabeleceram relações entre Matemática, cidadania e cotidiano. Após o término da discussão dos textos, eles iniciaram a resolução do problema proposto. Para que as soluções fossem construídas, os grupos de alunos trataram os dados apresentados a partir da articulação dos seus conhecimentos prévios de Matemática, dos seus conhecimentos cotidianos relativos à situação-problema apresentada e dos entendimentos construídos a partir da leitura e discussão dos textos. Os grupos se depararam com pequenos obstáculos que foram superados em discussões internas nos próprios grupos ou com a minha orientação. As soluções construídas seguiram, em geral, a seguinte linha de raciocínio: cálculo da quantidade de litros de água desperdiçada em um mês, transformação dessa quantidade em metros cúbicos e cálculo do custo em reais da água desperdiçada. Estas soluções foram socializadas oralmente por cada grupo, que também as relatou por escrito. Durante a socialização das soluções alertei os alunos que dependendo da faixa de consumo de água o preço do metro cúbico e consequentemente o custo da água desperdiçada pela torneira gotejando iriam mudar.
CONCLUSÃO:
Neste trabalho, intentei refletir sobre a utilização de situações cotidianas no ensino de Matemática com vistas à formação de um cidadão crítico e participativo. Para tanto, analisei uma experiência realizada com alunos do Ensino Fundamental envolvidos na resolução de uma atividade de modelagem matemática. Esta atividade foi construída a partir de uma situação retirada do cotidiano escolar. A reflexão sobre esta experiência, bem como, sobre as demais experiências vividas na Educação Básica, me permite inferir que a problematização de situações retiradas do cotidiano dos alunos possibilita uma maior participação nas discussões ocorridas nas aulas, pois o conhecimento que eles possuem sobre a situação cotidiana problematizada é valorizado e utilizado conjuntamente com o conhecimento matemático necessário para resolver o problema proposto. Além disso, a possibilidade de problematizar, na sala de aula, situações oriundas do cotidiano permite que os alunos simulem circunstâncias, experimentem decisões, exercitem a cidadania utilizando a Matemática como um aporte teórico.
Palavras-chave: Ensino de Matemática, Cidadania, Situações cotidianas.