62ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 7. Oceanografia - 1. Oceanografia Biológica
FLORAÇÕES DE FITOPLÂNCTON DURANTE O VERÃO NO ESTUÁRIO DE SÃO VICENTE, SP E SUA RELAÇÃO COM AS MARÉS
Kleber Barrionuevo Baraldo 1
Elena Fukasawa Galvanese 1
André Francisco Bucci 1
Áurea Maria Ciotti 1
1. Lab. de Dinâmica Pelagial Costeira, Ciências Biológicas - UNESP São Vicente, SP
INTRODUÇÃO:
Sistemas estuarinos são fisicamente complexos, influenciados por aportes variáveis de água doce e por correntes de maré. A ocupação humana em torno de estuários gera despejos de esgoto doméstico e conseqüentemente eutrofização, como observado no complexo estuarino de Santos (CES) e São Vicente (Baixada Santista) por décadas. Florações (blooms) de fitoplâncton no CES tendem a ocorrer no verão e em marés de quadratura (Moser, 2002), associadas à maior disponibilidade de luz e maiores aportes continentais devido às chuvas, e conseqüentemente nutrientes e matéria orgânica dissolvida (MOD) que favorecem o crescimento de fitoplâncton. Como observado em outros estuários eutrofizados, as florações no CES podem incluir espécies potencialmente nocivas (Vilac, 2008), mas não existem levantamentos quantitativos sistemáticos durante o verão ou estudos de sua relação com as épocas de turismo mais intenso (i.e, maior aporte de esgotos). O objetivo deste trabalho foi quantificar variações de biomassa fitoplânctonica durante o verão no CES, discriminando os resultados como de "temporada" e "fora de temporada" bem como suas relações com as marés e entradas de água doce.
METODOLOGIA:
Coletas de água ocorreram em dias alternados em um ponto no canal estuarino de São Vicente, sempre durante a maré enchente, entre 23/12/2009 e 23/03/2010, divididos entre "temporada" e "fora de temporada". Durante os períodos de floração, as coletas foram realizadas diariamente, e cada coleta corresponde a duas amostras combinadas. Salinidade e temperatura foram medidas com uma sonda YSI. A biomassa do fitoplâncton foi estimada através da leitura de fluorescência natural (FN) da clorofila-a (Fluorímetro Trilogy, Turner Designs), após aclimatação prévia das amostras em escuro por 30 minutos. Teores de matéria orgânica dissolvida (MOD) foram estimados em um Fluorímetro (Trilogy, Turner Designs), após filtração em 0,2µm. As amplitudes de maré foram obtidas no endereço eletrônico: http://www.mar.mil.br/dhn/chm/tabuas/index.htm (Marinha do Brasil). Para a comparação entre os dados durante e fora da temporada foi utilizado o teste Mann-Whitney, com significância de 5%.
RESULTADOS:
Observamos quatro picos de fluorescência natural (FN), assumidos como florações de microalgas, e cinco grandes aumentos de MOD. Enquanto os últimos ocorreram nos dias de máximos da maré de quadratura, as florações se seguiram aos mesmos após cerca de 2 dias, exceto durante um período com salinidades muito baixas, o que sugere altas taxas de exportação da biomassa do estuário. Os valores de salinidade e MOD se correlacionaram positivamente como esperado, e de forma robusta (r²= 0.87), todavia, as salinidades foram maiores fora da temporada. Na comparação dos valores entre o período dentro e fora de temporada, eliminamos os resultados onde as salinidades foram menores do que 14.2 psu, valor mínimo da salinidade registrado fora da tamporada, para minimizar os efeitos das chuvas diferenciais nos dois períodos. Os resultados mostram que os valores de FN foram significativamente maiores (p<0.05) dentro do período de temporada, o que não foi observado para a MOD.
CONCLUSÃO:

No período amostrado, as marés foram decisivas nos valores FN, similar ao reportado por Moser (2002). A variabilidade da MOD mostrou que existe uma covariação com a FN que deve ser investigada. As análises estatísticas entre os valores de MOD na temporada e fora de temporada, entretanto, não são suficientes para associar as florações ao efeito das maiores descargas de esgoto no estuário, resultado da maior ocupação humana.

 

MOSER, G. A. O. (2002), Aspectos da eutrofização no Sistema Estuarino de Santos: distribuição espaço-temporal da biomassa e produtividade primária fitoplanctônica e transporte instantâneo de sal, clorofila-a, material em suspensão e nutrientes. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, Instituto Oceanográfico, São Paulo.

VILLAC, M.C., CABRAL-NORONHA, V.A.P. & PINTO, T.O. (2008). The phytoplankton biodiversity of the coast of the state of São Paulo, Brazil. Biota Neotropica 8(3)
Instituição de Fomento: FAPESP (bolsa IC E.F. Galvanese); Atlantis (bolsa técnica A.F. Bucci)
Palavras-chave: Florações de fitoplâncton, Estuário de São Vicente, Ocupação humana.