62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 2. Práticas Clínicas, Identidade e Relações de Gênero
PRÁTICAS CLÍNICAS DA PSICANÁLISE AMPLIADA: DA PASSAGEM DO UM AO COLETIVO
Renata Cristina Dantas da Silva 1
Isabella Cavalcanti Maia 1
Mariana Maranholi Zulianeli Andrade 1
Izabel Christina do Nascimento Feitosa 2
1. Psicologia, Fac. Natalense para o Desenvolvimento do Rio Grande do Norte / FARN
2. Profa. Msc./Orientadora - Fac. Natalense para o Desenvolvimento do RN / FARN
INTRODUÇÃO:
Este estudo tem como objetivo analisar as práticas da clínica psicanalítica em grupo fora do seu dispositivo habitual e em diferentes contextos institucionais e sociais (escolas, casas de acolhimento a crianças e adolescentes em situação de risco, instituições de saúde mental, etc), que ampliam as possibilidades de escuta para um setting dito coletivo, identificando suas motivações e posicionamentos frente às demandas da sociedade por acolhimento clínico. As instituições permitem uma "terceira via" (Zenoni, 2007), inventando um espaço onde a clínica se faz operar e o sujeito se faz acolher. Ao passo que o psicanalista conduz com ele um lugar que lhe permite intervir de uma forma diferenciada, através do manejo das transferências e da criação desses citados espaços de fala e reconhecimento. Baseando-se nisso, a prática da psicanálise ampliada para contextos institucionais e sociais tem sido muito refletida e exercitada, ao passo que vai ao encontro desses contextos, acolhendo suas demandas numa passagem de uma clínica individual para a que podemos chamar de coletiva.
METODOLOGIA:
Trata-se de uma pesquisa exploratória, de natureza qualitativa, cujos dados foram colhidos, inicialmente, por um levantamento bibliográfico sobre o tema "psicanálise ampliada" em artigos publicados em periódicos, bem como dissertações e teses. Em seguida, organizamos os textos em categorias: os que se tratavam de pesquisas apenas teóricas e os relatos da prática da psicanálise ampliada, no intuito de facilitar nossa análise. Tratamos os dados fazendo uma inter-relação entre os referenciais teóricos das pesquisas adotadas e os modelos da própria prática, averiguando como e onde ocorrem as intervenções e quais os principais objetivos para tais. Para tanto, priorizamos as práticas que se comunicavam entre si, ou seja, aquelas onde a psicanálise foi a campo vislumbrando a instauração de um grupo onde a fala e a escuta fosse possível. Desse modo, apesar de sua real importância, não citaremos aqui a "prática entre vários" na instituição de saúde mental, sugerida por Abreu (2008), visto que a mesma traz como peculiaridade a idéia da escuta psicanalítica ser oferecida ao sujeito por membros da instituição, não necessariamente psicanalistas, a partir de um contínuo estudo da teoria e construções coletivas de respostas clínicas.
RESULTADOS:
No contexto da educação, realizou-se o projeto "Grupos de Reflexão com Adolescentes", pelo NIPIAC (UFRJ) numa escola pública do município de Duque de Caxias-RJ, visando criar espaços de fala e partilha de experiências pelos adolescentes acerca das questões e tensões que eles vivenciam. Tal proposta entende o grupo como um "aparelho" facilitador da uma tarefa que não cessa no próprio grupo e, sim, possibilita um trabalho subjetivo que, também, é individual e singular. Partindo da mesma idéia, a Escola Brasileira de Psicanálise (EBP-RJ), através da ONG CEASM, realizou a prática junto aos moradores da favela da Maré, no Rio de Janeiro-RJ, num projeto denominado "Digaí Maré", formando grupos de crianças, adolescentes e adultos para um encontro com a psicanálise e não exatamente o trabalho de uma análise, inventando na própria favela esse espaço de fala e escuta. Para finalizar, citamos a clínica-escola da UNIFOR, em Fortaleza-CE, que formou grupos de intervenção psicanalítica para crianças no projeto "Conto e Traço" (oficina de contação de histórias e desenhos) no sentido de dar um direcionamento para as crianças que não encontravam vagas para os atendimentos individuais, gerando enormes listas de espera, quando demandavam urgência de acolhimento e escuta.
CONCLUSÃO:
Como podemos notar, são vastos os contextos em que a prática da psicanálise ampliada se realiza, o que nos faz pensar na demanda que as clínicas individuais não conseguem atender nos tempos atuais. A dificuldade em encontrar vagas nos CAPS, bem como em clínicas destinadas à população de baixa renda (clínicas-escolas, por exemplo), motivam vários psicanalistas do mundo todo na elaboração de estratégias capazes de amenizar essa carência, como as intervenções clínicas em grupo nos locais onde os sujeitos estão inseridos. Dessa forma, os projetos acima corroboram a idéia de que os psicanalistas têm, assim como todo cidadão, a função primordial de serem transformadores dos impasses da sociedade, debruçando-se em torno da questão do laço social, trabalhando na tentativa de repará-lo com o discurso da psicanálise junto aos sujeitos fragilizados. A criação desses espaços de intervenção, assim, carrega a preocupação de não almejar somente a revelação/diagnóstico dos sintomas, limitando todo o processo, mas focar na produção de novos significados e no deslizamento dos significantes, onde os sujeitos possam produzir um saber em nome próprio e mudar suas posições frente ao gozo que os perturbam.
Palavras-chave: Psicanálise ampliada, grupos, clínica do social.