62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 6. Nutrição - 4. Desnutrição e Desenvolvimento Fisiológico
AVALIAÇÃO COMPARAITIVA DA OFERTA CALÓRICA EM PACIENTES SUBMETIDOS À TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES (HUOL)-UFRN
Maria Nazaré Batista 1
Maria do Socorro Xavier 1
Danielle Damasceno Silvestre 1
Vera Lúcia Silva Bezerra 1
Lilian Resende de Lucena Marinho 1
Agnes Martins de Lima 1
1. Divisão de Nutrição e Dietética, HUOL-UFRN
INTRODUÇÃO:
A terapia por nutrição enteral (TNE) é um conjunto de medidas terapêuticas aplicadas à manutenção ou recuperação do estado nutricional dos indivíduos sob risco de desnutrição ou com comprometimento de seu trato digestivo. Apesar dos avanços da TNE, a desnutrição continua comum em pacientes hospitalizados com prevalência de 30 a 65% em vários estudos, podendo se dá no início da internação hospitalar ou no decorrer da mesma. Em estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE) observou-se que cerca de 30% dos pacientes hospitalizados tornavam-se desnutridos nas primeiras 48h da internação, chegando a 60% após 15 dias. Na desnutrição, a composição corporal e a função dos órgãos se alteram devido ao aumento do catabolismo e das necessidades de energia e proteínas, inserindo os pacientes sob TNE em risco de desnutrição, independente do estado nutricional (EN) prévio. A utilização da TNE tem inúmeras vantagens para o paciente hospitalizado, com melhora na resposta imunológica, diminuição da morbimortalidade, redução de custos e do tempo de internação, minimizando e/ou revertendo o impacto da desnutrição. Este estudo objetiva comparar a adequação da oferta calórica em pacientes sob TNE internados nas unidades de clínica médica e cirúrgica do HUOL.
METODOLOGIA:
Foi realizado um estudo observacional retrospectivo de pacientes de ambos os sexos, admitidos nas unidades de clínica médica e cirúrgica do HUOL recebendo TNE exclusiva, ou concomitante com via oral (VO) por, pelo menos, 72 horas, no período de agosto/2009 a março/2010. A infusão da dieta era contínua (22 horas/dia), por meio de sistema aberto, incluindo sonda nasoenteral, nasogástrica, gastrostomia e jejunostomia. Sua velocidade progrediu gradativamente até o alcance da meta nutricional, conforme protocolo pré-estabelecido, exceto nos casos em que as sondas eram retiradas antes de se atingir tal meta. A coleta de dados se deu com a introdução da TNE e o acompanhamento de sua evolução ocorreu até o momento de descontinuação desta, óbito, ou alta da unidade. Os participantes foram avaliados pela nutricionista, para estimativa das necessidades de energia, de acordo com parâmetros estabelecidos por cada diagnóstico, determinado pela fórmula de Gasto Energético Basal (GEB) e Gasto Energético Total (GET), baseada por Harris Benedict (1919). A avaliação antropométrica foi realizada através do cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC). Nos indivíduos acamados, as medidas de peso e altura foram estimadas, respectivamente, por Compleição Óssea e fórmula proposta por Chumlea (1985).
RESULTADOS:
Do total analisado (n=49), 37% (n=18) foi constituído por homens e 63% (n=31) por mulheres. A média de idade foi de 62 ± 17,38 anos. 65% (n=32) dos pacientes informaram seu peso usual, e destes, o percentual de perda de peso nos últimos 6 meses foi de 18 ± 16%, caracterizando desnutrição grave. O IMC foi de 23,64 ± 2,86 Kg/m², caracterizando eutrofia. O EN prévio ao período da TNE, por avaliação semiológica, foi de 75% (n=37) para risco de desnutrição e 12% (n=6) para desnutrição. Das alterações sofridas no trato gastrintestinal, 6% (n=2) apresentaram vômitos, 6% (n=2) diarréia, 4% (n=2) náuseas e 2% (n=1) distensão abdominal. 31% (n=16) dos casos diagnosticados eram de neoplasias, 12% (n=6) doenças do aparelho digestivo, 12% (n=6) cardíacas, 10% neurológicas, e os demais, outras patologias.  88% (n=43) utilizavam sonda nasoenteral, e as demais (nasogástricas, gastrostomia, e jejunostomia) 4% (n=2) cada. O tempo médio para atingir 73% do GET foi de 18 ± 48 dias e a média de volume infundido foi 1000 ± 334,60 mL. As médias do GET e VCT oferecidos foram, respectivamente, de 1813 ± 313,04 Kcal e 1500 ± 440,14 Kcal. Foi oferecida uma média de 25 ± 10 Kcal/Kg de peso, com 16 ± 2,0 % de proteínas e média de 1,91 ± 0,91 g/Kg de peso. O percentual atingido de GET foi de 72,56 ± 27,67.
CONCLUSÃO:
A população estudada foi caracterizada por uma média de idade de 62 anos, sendo 41% (n=20) composta por idosos. O diagnóstico predominante foi de neoplasia. O valor energético das fórmulas enterais atingiu em média 73% da necessidade média do VCT, que está de acordo a literatura. A principal alteração gastrintestinal foi vômito e diarréia, e a via de acesso, sonda nasoenteral. A maioria dos pacientes encontrava-se sob risco de desnutrição no período inicial da TNE. As necessidades energéticas estimadas por Harris & Benedict são maiores do que as sugeridas pela European Society for Clinical Nutrition and Metabolism (ESPEN), que é de 20 a 30 kcal/kg de peso/dia, havendo com seu uso risco de hiperalimentação. O presente estudo demonstrou que, por Harris Benedict, 75% (n=37) não atingiram o GET recomendado e 25% o alcançaram, demonstrando uma hiperalimentacão, segundo o consenso da ESPEN. Ao analisar com o padrão da ESPEN, a adequação se modifica e a energia prescrita e ingerida fica adequada em 59%, sendo 25% com hiperalimentação e 16% com inadequação de seu valor calórico. Verifica-se a necessidade de modificação no protocolo utilizado pela instituição para obtenção de uma avaliação nutricional mais fidedigna, tanto no início da TNE, quanto para o acompanhamento de sua evolução.
Palavras-chave: Desnutrição , Terapia de Nutrição Enteral, Oferta Calórica.