O Psidium araca conhecido, popularmente, como araçá-verdadeiro ou araçazeiro, pertence à família Myrtaceae, é utilizado na medicina popular no tratamento ao reumatismo, hemorragia e diarréia. Microrganismos endofíticos são aqueles que passam grande parte do seu ciclo de vida ou sua seu ciclo por completo, colonizando intra ou intercelularmente os tecidos saudáveis da planta hospedeira, sem causar sintomas de doenças. Eles não causam fitopatogenias aparentes ao seu hospedeiro. Ocorrem na maioria dos vegetais e sua diversidade tem conhecida nos últimos anos. As interações entre endofítico/planta ainda não foram muito bem elucidadas, mas podem ser neutras, simbióticas ou antagônicas. Os fungos endofíticos se mostram como importantes fontes de produção de metabólitos secundários que possuem atividade antimicrobiana, antitumoral entre outras. Além de atuar no controle biológico de doenças bacterianas. Desta forma, o objetivo do trabalho foi isolar, identificar e avaliar o potencial antimicrobiano dos fungos endofíticos de folhas sadias de P. araçá, frente a diferentes cepas bacterianas. Visto que, com o aparecimento de bactérias resistentes a antibióticos utilizados convencionalmente, se faz necessário cada vez mais, a busca por novos fármacos.

No isolamento dos endofíticos, as folhas coletadas na Região Metropolitana de Recife-PE, foram submetidas à esterilização superficial em etanol 70% por um minuto, hipoclorito de sódio 3% de três a quatro minutos e lavado em água destilada esterilizada. Posteriormente, discos foliares foram transferidos para placas de Petri, contendo o meio de cultura BDA acrescido de clorafenicol, 50 mg/l, e incubados a 28 ± 2°C. Com o desenvolvimento das colônias, as mesmas foram transferidas para placas de Petri contendo BDA e identificadas através da observação de macro e microestruturas comparadas com parâmetros da taxonomia convencional. Para atividade antimicrobiana, os fungos isolados foram cultivados em placas com Ágar Sabouraud,(SAB). Após sete dias, blocos de gelose de 5mm de diâmetro foram retirados e transferidos para placas, em triplicata, contendo o meio Müller-Hinton e inoculadas com os microrganismos testes Escherichia coli (UFPEDA 224), Klebsiella pneumoniae (UFPEDA 396), Bacillus subtilis (UFPEDA 86), Micrococcus luteus (UFPEDA 100), Pseudomonas aeruginosa (UFPEDA 416) e Candida albicans (UFPE1002). Após 24 horas, foram realizadas leituras dos halos de inibição. Os controles positivo e negativo utilizados foram clorafenicol (50 mg/L^-1) e bloco de gelose de SAB, respectivamente.

Para o isolamento dos fungos endofíticos foram analisados 60 fragmentos de folhas de P.araca e foi observada uma freqüência de colonização de 56% para espécie Colletotrichum dematium e os 44% à espécie Colletotrichum gloeosporioides. Ainda são bastante escassos trabalhos que demonstrem a diversidade endofítica das plantas. Recentemente, intensificaram-se as pesquisas buscando microrganismos endofíticos e maiores esclarecimentos de sua interação com seus hospedeiros. Na atividade antimicrobiana o controle positivo apresentou uma média de halo de inibição de 13 mm e o negativo não apresentou formação do halo. O fungo C. dematium apresentou uma média de halo de 18 mm, 17 mm, 18 mm, 26 mm, para as cepas E. coli, K. pneumoniae, B. subtilis, M. luteus, respectivamente. O endofítico C. gloeosporioides revelou uma média de halo de 19 mm, 17 mm, 14 mm, 26 mm para as cepas E. coli, K. pneumoniae, B. subtilis, M. luteus, respectivamente. Ambos os microrganismos endofíticos não exibiram halo para as cepas P. aeruginosa e C. albicans. Alguns trabalhos demonstram atividade antimicrobiana dos óleos essenciais e extratos de folhas de araçá-do-campo. Outros, afirmam que as bactérias E. coli, K. pneumoniae e P. aeruginosa, se apresentaram resistentes a extratos de Psidium guajava.

Neste trabalho verificamos que ambos os fungos endofíticos apresentaram resultados similares na atividade antimicrobiana, os mesmos revelaram atividade inibitória significativa para as mesmas cepas bacterianas e os microrganismos P. aeruginosa e C. albicans se mostraram resistentes aos endofíticos. Com base nestes resultados podemos evidenciar a abertura de novas perspectivas sobre o potencial biotecnológico dos microrganismos endofíticos.