62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 1. Gerontologia
MEMÓRIA AUTOBIOGRÁFICA EM IDOSOS COM DEMÊNCIA DE ALZHEIMER NAS FASES LEVE E MODERADA
Luana Cristina Fernades de Lara Andrade 1
Beatriz Mosca Rivera 1
Sara Salsa Papaleo 1
Caroline Araújo Lemos 1
Jacqueline Abrisqueta-Gomez 2
Izabel Hazin 1
1. Departamento de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ UFRN
2. Departamento de Psicobiologia, Universidade Federal de São Paulo/ UNIFESP
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho oferece conjunto de dados oriundos de investigação da memória autobiográfica em idosos com Demência de Alzheimer (DA) nas fases leve e moderada, especificamente em termos de eventual diferenciação dos grupos no que se refere à especificidade e intensidade vivencial da recordação. A DA é uma doença neurodegenerativa progressiva que implica no comprometimento de conjunto de funções cognitivas, repercutindo sobre atividades de vida diária e ocasionando sintomas neuropsiquiátricos. Dentre as funções cognitivas afetadas pela DA, a memória é aquela em relação à a qual detecta-se precocemente prejuízos, notadamente em relação à memória autobiográfica (MA), a saber, o sistema de memória que permite ao sujeito a evocação de fatos do passado, circunscritos no tempo e no espaço, no interior de vivência de cunho pessoal e subjetivo. Nesse sentido, o comprometimento da MA é um dos declínios mais graves da DA, visto que tal sistema de memória se relaciona com a construção e manutenção do senso de identidade (self). Dessa forma, busca-se contribuir para a compreensão do curso evolutivo do declínio deste sistema específico de memória em subgrupo clínico particular, objetivando subsidiar o diagnóstico e estratégias de reabilitação na DA.
METODOLOGIA:
Participaram do estudo 10 idosos, de ambos os sexos, atendidos no Centro Especializado de Assistência a Saúde do Idoso (CEASI), Natal/RN. Os idosos foram agrupados a partir do diagnóstico de DA em dois grupos: grupo 1, constituído por idosos com DA leve (n=6), o grupo 2 por idosos com DA moderada (n=4). A constituição dos grupos também foi feita com base no desempenho dos idosos nos instrumentos: Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) e Escala de Depressão Geriátrica (GDS-15). Na etapa de investigação da MA, foram utilizados instrumentos baseados em dois níveis de evidência, o comportamental - Teste de Memória Autobiográfica - TMA, e o fenomenal/existencial - Questionário de Memória Autobiográfica - QMA. Uma versão reduzida do TMA foi desenvolvida a partir de estudo piloto, esta é constituída por 6 palavras-estímulo (de valências positivas, negativas e neutras). Para cada palavra apresentada o idoso deveria evocar uma recordação específica. Em seguida, foi aplicado o QMA, instrumento que possibilitam a investigação das características fenomenais da recordação. Os dados obtidos através da aplicação destes instrumentos foram organizados com auxílio do programa SPSS for Windows, versão 17.0, seguido de formatação, armazenamento de informações e tratamento estatístico apropriado.
RESULTADOS:
A idade média dos sujeitos com DA leve foi de 78,8±3,1 anos e com DA moderada igual a 81,3±4,3 anos. Os idosos com DA leve apresentaram escore médio no MEEM igual a 21,9±2,8, e os idosos com DA moderada igual a 14,4±2,5. Quanto ao índice de depressão, os idosos com DA leve apresentaram média de 5,4±2,1 e os com DA moderada de 4,4±1,1. Esses resultados corroboram com os de outros estudos, na medida em que se percebe um declínio cognitivo maior na fase moderada em comparação com a leve, assim como um índice maior de depressão nos pacientes com DA leve, visto que possuem maior consciência das perdas envolvidas com a doença. A respeito da avaliação da MA, os resultados do TMA permitem evidenciar uma dificuldade dos idosos de ambos os grupos para recordar "Memórias Específicas", visto que para as 6 palavras apresentadas, os participantes fizeram referência a apenas um evento categorizado como "específico". Com relação às características fenomenais da recordação (QMA), percebe-se alguns pontos de aproximação entre os dois grupos (sentimentos de reviver o evento conforme o original e o caráter emocionalmente importante do evento recordado), divergindo, por outro lado, quanto às características da forma como o evento está sendo recordado (através de palavras, imagens, sons).
CONCLUSÃO:
Através do exposto, pode-se concluir que a recordação autobiográfica de idosos com DA encontra-se prejudicada, sobretudo, no que diz respeito à dificuldade de circunscrever no tempo e no espaço os eventos recordados, consequentemente, evocando um maior número de memórias genéricas do que específicas. Por outro lado, percebe-se que os grupos diferem quanto às características fenomenais da recordação, sobretudo no que diz respeito as característica dessa lembrança. Tal constatação permite a reflexão a respeito de outras questões acerca da MA, notadamente, o gradiente temporal da recordação e a perseveração característica dos idosos com DA, ilustrada pela manutenção de um mesmo evento recordado, mobilizado para todas as palavras do TMA apresentadas, independentemente da valência das mesmas.Espera-se com este estudo oferecer elementos teóricos acerca do desenvolvimento e declínio da MA na doença de Alzheimer, e assim contribuir para o desenvolvimento de técnicas de reabilitação neuropsicológicas que possibilitem o retardo da doença e a manutenção por mais tempo da noção de "eu", diretamente relacionada à memória autobiográfica, e marca característica da existência humana.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Demência de Alzheimer, Memória Autobiográfica, Avaliação Neuropsicológica.