62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Arquitetura e Urbanismo - 5. Arquitetura e Urbanismo
O TRAÇADO URBANO RESULTANTE DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE MOÇAMBIQUE E BRASIL
Khiusha Kiener Uaila 1
Lis Moreira Cavalcante 1
Vera Helena Moro Bins Ely 2
Maristela Moraes de Almeida 2
1. Bolsista PET/Arquitetura e Urbanismo - UFSC
2. Profª. Drª./Orientadora - Depto. de Arquitetura e Urbanismo - UFSC
INTRODUÇÃO:
Portugal, nos séculos XV e XVI, conquistou vários territórios pelo mundo. Para assegurar e dar suporte a sua colonização nas novas terras implantavam-se assentamentos, os quais estavam sujeitos a algumas condicionantes que variavam de um local para outro, como características do clima, relevo, tipo de solo ou povos nativos. Busca-se, nesta pesquisa, investigar se a ocupação de mesma origem em diferentes locais condicionou traçados urbanos semelhantes. Para isso, foram escolhidos como objetos de estudo dois países de colonização portuguesa, cujos descobrimentos foram contemporâneos: Brasil, em 1500 e Moçambique, em 1498. Focou-se o estudo nas cidades de Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina, no sul do Brasil e Maputo, capital do país africano, devido às semelhanças nas características geográficas e bioclimáticas. Ambas estão em latitudes próximas (entre os paralelos 27°10'S e 27°50'S, e entre 25°49'S e 26°05'S respectivamente), suas temperaturas médias anuais são de 20° e a umidade relativa anual está entre 70 e 85%. Suas situações são litorâneas e, embora uma seja banhada pelo Atlântico e outra pelo Índico, ambas estão voltadas para o mesmo lado do oceano. Os dois sítios físicos iniciais se localizavam às margens de baías, em parcelas insulares do território.
METODOLOGIA:
A pesquisa se constitui de três etapas. A primeira, de revisão bibliográfica, permitiu fazer um resgate histórico do processo de colonização portuguesa e do surgimento e crescimento das cidades escolhidas, além da compreensão das características bioclimáticas de cada local. Nesta etapa também identificaram-se critérios nos quais se baseou a comparação das duas ocupações e que nortearam as análises: intenções de ocupação; características do sítio físico; e características e evolução do núcleo urbano. Na segunda etapa, utilizaram-se documentos iconográficos para a análise morfológica de cada cidade separadamente. Escolheram-se mapas de Florianópolis - dos anos de 1774, 1868 e 1916 - e de Maputo - dos anos de 1876 e 1892 -, contendo informações que permitiram o estudo da configuração inicial da ocupação e da evolução destes núcleos urbanos através do desenvolvimento da malha, da construção de novas edificações, entre outras características. Também foram feitos croquis para sintetizar o conteúdo abordado e complementar o texto, facilitando a leitura e compreensão dos aspectos analisados. Já a terceira etapa consiste no cruzamento dos dados levantados na análise realizada na etapa anterior, resultando numa comparação de caráter conclusivo, buscando responder as questões da pesquisa.
RESULTADOS:
Em Florianópolis, a colonização foi tardia, já que somente a partir do progresso da Colônia de Sacramento (atual Uruguai), no século XVII, que a localização da Ilha se tornou estratégica: era um ponto de abastecimento antes da Bacia do Prata. Portugal, para assegurar o seu domínio, ocupou o local. O sítio da ocupação inicial se localizava na baía sul da Ilha, numa área plana, protegida pelo relevo ao norte, de frente para o mar, permitindo o domínio visual da baía. Os primeiros traçados eram perpendiculares à linha da praia enquanto que os seguintes eram paralelos, resultando numa malha ortogonal. Com a expansão da cidade os arruamentos passaram a se adaptar à topografia. Em Maputo, houve um desinteresse inicial dos portugueses, sendo que eram feitas apenas trocas comerciais na área até 1781, quando, com a ameaça de ocupação de outras nações, Portugal se estabelece visando o domínio sobre o local. A ocupação inicial foi na "Ilha dos Portugueses", sendo esta uma pequena porção de terra plana, entre o mar e uma área pantanosa, num ponto que permitia o domínio visual da baía. Os arruamentos iniciais eram paralelos à linha do mar e definiram quadras alongadas que, posteriormente, subdividiram-se com o surgimento de pequenas ruas transversais, configurando uma malha ortogonal.
CONCLUSÃO:
Através da comparação realizada, dentre outros aspectos, percebe-se que em ambos os locais, Portugal só demonstrou interesse de fixação a partir do momento em que havia a ameaça de invasão de suas terras. Portanto, nos dois casos a intenção de ocupação visava garantir o domínio sobre o território. Portugal estabelecia diretrizes semelhantes para ocupação de suas colônias, porém como cada local apresentava características típicas, era necessário modificar a estratégia para alcançar o mesmo objetivo. Nota-se que os portugueses procuravam terrenos planos e protegidos por alguma barreira física, no caso de Florianópolis havia o relevo e em Maputo, a área pantanosa. Buscava-se também um domínio visual dos possíveis acessos para evitar ataques. Quanto ao traçado urbano, buscou-se implantar a malha ortogonal até onde o relevo permitia. Porém, enquanto em Florianópolis a expansão se deu em cotas mais altas e os arruamentos se adaptaram ao relevo, em Maputo o crescimento ficou restringido pelos muros até o final do século XIX, quando houve um planejamento de sua expansão, garantindo a ortogonalidade da malha.
Instituição de Fomento: Programa de Educação Tutorial - PET/Arquitetura e Urbanismo/UFSC - Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação - SESu/MEC
Palavras-chave: Ocupações portuguesas, Urbanismo, Colonização de Moçambique e do Brasil.