62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 5. Antropologia Urbana
SOCIABILIDADES POPULARES: QUANDO O MERCADO DE CONSUMO, O LAZER E O GLBT SE CRUZAM NA NOITE DO CENTRO DE FORTALEZA
Cristovam Colombo Cirqueira Ferreira Filho 1
Antonio Cristian Saraiva Paiva 2
1. Departamento de Ciências Sociais, Universidade Federal do Ceará - UFC
2. Prof. Dr. / Orientador - Departamento de Ciências Sociais - UFC
INTRODUÇÃO:

A pesquisa aqui apresentada tem como objeto de investigação as sociabilidades juvenis, no contexto das práticas de lazer e consumo de jovens de classes populares. Nessa população, fazemos um recorte: elegemos jovens LGBTs e suas "sociações homoeróticas" (Paiva, 2009, 2007) associadas às práticas de lazer e consumo das camadas populares. Destacamos, a partir de uma revisão bibliográfica, a lacuna de estudos sócio-antropológicos que tratam dessa parcela da juventude brasileira. Nesse sentido, os meios de comunicação e divulgação, quando se referem às práticas de lazer e consumo das populações LGBTs, geralmente retratam, parafraseando Magnani (2007, 2002, 1996), "circuitos" de lazer característicos do segmento classe média e classe média-alta, dando pouca ênfase às práticas de lazer das classes baixas. Objetivando promover uma incursão etnográfica e perceber a importância de um estudo sob a ótica da antropologia, a pesquisa possui um caráter essencialmente qualitativo, uma vez que busca descrever e acompanhar as práticas de lazer/consumo dos jovens LGBTs no "território relacional" do Centro de Fortaleza no Estado do Ceará com freqüência predominantemente homossexual de classe social baixa, palco para a expressão de Néstor Perlongher (1993, 1987) "homossexualidades populares.

METODOLOGIA:

As estratégias metodológicas empregadas na pesquisa estão diretamente ligadas aos objetivos descritos acima. Nesse sentido, destacamos que a pesquisa possui um caráter essencialmente qualitativo, uma vez que buscou descrever e interpretar alguns dos elementos fundamentais das interações juvenis LGBTs, no contexto do mercado de consumo e do lazer "popular" na noite do centro de Fortaleza. Para atingir essa finalidade, realizamos trabalho de campo com observação participante, entrevistas (informais e semi-estruturadas), com registro em diário de campo. Elegemos como recorte empírico da pesquisa o entorno da boate Divine, no trecho da Rua General Sampaio, entre a Avenida Duque de Caxias e a Rua Pedro I, especificamente o bar Metanol, situado ao lado da referida danceteria. Além dessa incursão etnográfica, realizamos um levantamento bibliográfico, uso de documentos e legislação sobre lazer homossexual na cidade de Fortaleza. Também foi pertinente conhecer associações do movimento homossexual que reúnem o segmento jovem aqui focalizado, freqüentamos Conferências LGBT, de Juventude, além de acompanhar eventos, tais como a Parada pela Diversidade Sexual do Estado do Ceará, os Dias da Visibilidade Lésbica e Trans. Também foi oportuno abordar dados sobre segurança e policiamento.

RESULTADOS:

A sigla GLS, altamente voltada ao mercado consumidor, nasceu na década de 1990, seria uma abreviação para Gays, Lésbicas e Simpatizantes, havendo assim, uma "apropriação da popularíssima sigla que qualificava certos modelos de carros nas categorias GL (Gran Luxo) e GLS (Gran Luxo Super)" (Trevisan, 2007, p. 376). Alguns autores falam que espaços, com público predominantemente GLS, divididos com simpatizantes (heterossexuais), ajudam de certa forma a "estimular a auto-estima dos homossexuais fazendo com que não se sintam excluídos ou repressivos" (Trevisan, 2007 p. 409). Já os gueis mais afeminados, as lésbicas mais masculinizadas, e todos os atores desta pesquisa, que não representam uma norma de padronização cujo maior valor é a descrição, não fazem parte deste seleto grupo, tendo que procurar outros espaços para suas socializações identitárias (Trevisan, op. cit.). Na região do centro, na cidade de Fortaleza, considerado hoje área de risco, encontram-se hoje, espaços que se distanciam de uma cultura patriarcal. Esse sistema de classificação/distinção mediado pelo consumo repercute nos estilos de lazer dos "coletivos" homossexuais, aqui observados, servindo, como fonte de intolerância e preconceito entre populações LGBTs situadas em classes sociais diferentes.

CONCLUSÃO:

O centro é a alternativa que abraça um público de menor poder aquisitivo. Suas relações de lazer e consumo fazem intersecção com as territorializações homossexual juvenil, no contexto da sociabilidade urbana, mediadas pela esfera do lazer e do consumo. O consumo é uma das práticas que fundamentam as classificações dos sujeitos na vida cotidiana, gerando hierarquias e segmentações sócio-espaciais cujo usam os bens para tornar visíveis os processos de classificar pessoas e eventos (Douglas, 2009, p.16). Nesses territórios relacionais, produzem-se interações sócio-afetivo-sexuais que ajudam a consolidação de estilos de lazer. Faz sentido, então, pensar que as categorias de geração e classe social, associadas às culturas de lazer interferem no ordenamento da ocupação dos espaços de sociabilidade noturna, produzindo distinções e apartações espaciais, segundo "uma nítida separação de pessoas e lugares que leva a redefinição constante e cotidiana de fronteiras sociais e sexuais" (Guimarães, 2002, p. 69).  As atividades de lazer e consumo das camadas populares com identidades homossexuais aqui apresentadas formam um contexto de interações aos quais mobilizam identificações grupais que desvelam processos de exclusão e vulnerabilidade social a que estão submetidos esses jovens.  

Instituição de Fomento: Universidade Federal do Ceará
Palavras-chave: Lazer, Classe Social, Identidade.