62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 6. Enfermagem Psiquiátrica
ADESÃO AO TRATAMENTO PSICOFARMACOLÓGICO ENTRE EGRESSOS DE INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA
LUCILENE CARDOSO 1
Rafael Braga Esteves 1
Beatriz Marques Maia 1
1. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP
INTRODUÇÃO:
Em muitos casos os transtornos psiquiátricos possuem evolução crônica e costumam comprometer a vida do paciente, notadamente marcada por reinternações consecutivas. Nesse sentido, a manutenção do tratamento psiquiátrico comunitário é um elemento fundamental na vida dos doentes mentais crônicos e baseia-se principalmente no tratamento psicofarmacológico e psicossocial, com a finalidade de prevenir as recaídas e promover uma melhor qualidade de vida ao doente e seu grupo social. Na psiquiatria, o tratamento psicofarmacológico possibilita, além do controle dos sintomas psiquiátricos, um melhor manejo da doença evitando-se inúmeras internações e uma melhor convivência social do doente em seu meio. No tratamento dos transtornos mentais a não adesão à medicação é observada em cerca de 50 % das pessoas e é responsável por inúmeros prejuízos. A permanência dos sintomas frente à pobre adesão dificulta abordagens terapêuticas, psicossociais, interação entre equipe de saúde e paciente, além de prejudicar a reintegração social do paciente. Diante destas considerações, o objetivo do estudo foi identificar o grau de adesão ao tratamento psicofarmacológico dos pacientes egressos de internação psiquiátrica e seu conhecimento quanto a sua prescrição e diagnóstico.
METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, prospectivo, realizado em um Núcleo de Saúde Mental na cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo/Brasil. Foram entrevistamos todos os clientes deste serviço que tiveram alta de internação psiquiátrica e passaram por consulta médica. A coleta foi realizada individualmente na consulta de enfermagem com esclarecimento e preenchimento do termo de consentimento livre e esclarecido. Para a coleta de dados utilizamos Questionário abordando variáveis sócio-demográficas e o Teste de Adesão de Morisky-Green, que avalia o comportamento do paciente em relação ao uso habitual do medicamento, através de quatro perguntas com respostas dicotômicas sim/não. Esta pesquisa faz parte do projeto regular/FAPESP "Sistematização da coleta de informações relevantes a manutenção do tratamento extra-hospitalar de pessoas com transtornos mentais graves", aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Saúde Escola "Joel Domingos Machado" da FMRP-USP -(protocolo 320/CEP-CSE-FMRP-USP). A análise dos dados foi realizada através de medidas de tendência central no programa estatístico SPSS, versão 10.0.
RESULTADOS:
Fizeram parte da amostra 48 egressos de internação psiquiátrica que concordaram participar da pesquisa.  Nessa, 62,5% eram do sexo feminino, a idade média foi de 39 anos, 35% deles possuíam primeiro grau incompleto e apenas 21% deles relataram exercer alguma atividade laboral. Foram prevalentes os diagnósticos classificados no grupo da Esquizofrenia e Transtornos Esquizotípicos, em 33,3% da amostra. Em relação à adesão observou-se que 70,8% apresentavam baixo grau de adesão ao tratamento psicofarmacológico. Outro dado importante foi que apenas 43,8% souberam dizer corretamente nomes e dosagens dos medicamentos que estavam utilizando, porém, quando questionados acerca da importância da manutenção do tratamento psicofarmacológico, 81,2% consideraram o tratamento medicamentoso importante. O perfil sócio-demográfico é característico ao de pacientes com transtornos mentais crônicos e evidencia a severidade destas doenças. Nesse contexto, a baixa adesão e o baixo conhecimento destes sobre seu tratamento representa um fator de risco à recaídas frente a constante manifestação dos sintomas que dificulta as relações do doente mental com sua família e meio social.
CONCLUSÃO:
A cronicidade dos transtornos mentais leva estas pessoas a conviverem com o processo de internação-reinternação e suas as atividades cotidianas se organizam em torno das possibilidades de tratamento do transtorno mental. Nesse sentido, a adesão é um importante aspecto na manutenção do tratamento do doente mental fora do regime de internação. Nesse trabalho nos limitamos a apenas identificar o comportamento de adesão ao tratamento considerando sua relevância e a necessidade de maiores estudos frente a complexidade do desenvolvimento de estratégias de intervenção na área. Entendemos a adesão ao tratamento psicofarmacológico como um comportamento a ser estimulado e compreendido no cotidiano da assistência se estimulado um atendimento mais humanizado entre profissional, paciente e família e suportado por tecnologias adequadas. O baixo grau de adesão manifestado na maioria dos pacientes neste estudo reforça a importância do tema e a necessidade de uma abordagem profissional mais qualificada em relação a este comportamento, com a utilização de instrumentos sistematizados que possam identificar sinais de risco e exacerbação dos sintomas, a fim de melhorar a assistência oferecida nos serviços de saúde mental.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)
Palavras-chave: Tratamento psicofarmacológico, Adesão a diretivas antecipadas, Internação psiquiátrica.