62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 2. Biologia - 1. Biologia da Conservação
IMPACTO DE TRILHAS EM FRAGMENTOS FLORESTAIS: ESTUDO DO EFEITO DE BORDA
Aleksander Ribeiro Hada 1
Viviane Alves 1, 2
1. Centro Universitário São Camilo
2. Profa. Dra. / Orientadora
INTRODUÇÃO:
O Estado de São Paulo sofreu intenso processo de supressão e fragmentação de seus ecossistemas, passando dos iniciais 80% de cobertura florestal para atuais 8%. As áreas remanescentes se apresentam em fragmentos florestais, ou seja, áreas de vegetação natural contínua, interrompidas por barreiras antrópicas ou naturais capazes de diminuir significativamente o fluxo de animais, pólen e/ou sementes. A fragmentação de habitats é a mais séria ameaça à biodiversidade e a principal causa de extinção de espécies, pois age fundamentalmente reduzindo e isolando as áreas propícias à sobrevivência das populações. A região mais próxima da borda com o exterior fica mais iluminada, quente e seca, elevando a mortalidade de árvores e permitindo o estabelecimento de espécies não-florestais. Essas alterações são chamadas de "efeitos de borda". O objetivo deste estudo foi verificar a existência de efeito de borda a partir de uma trilha inserida em um fragmento de Mata Atlântica litorâneo, através de levantamento de dados fitossociológicos. A hipótese sugerida é: as árvores existentes mais próximas da trilha terão menores valores médios de comprimento e altura, e maior porcentagem de indivíduos mortos quando comparados aos indivíduos mais distantes da mesma.
METODOLOGIA:
O estudo foi realizado em um fragmento de Mata Atlântica inserido na Estação Ambiental São Camilo (EASC), Itanhaém/SP. O clima é caracterizado, segundo Köppen, como Tropical Úmido Chuvoso, com pluviosidade e temperatura médias anuais de 2440mm e 22°C, respectivamente. O fragmento é entrecortado por diversas trilhas, sendo a "Trilha da Toca do Tatu" escolhida como objeto de estudo. Em um trecho retilíneo da trilha foram sorteados 4 pontos, de onde partiram transectos retangulares (50x2m) perpendiculares à trilha. Todos os indivíduos arbóreos (inclusive mortos em pé) inseridos nos transectos, com CAP (Circunferência à Altura do Peito = 1,30m do solo) maior ou igual a 8cm, foram amostrados. Foi registrado o CAP, altura estimada e número da placa afixada. O trabalho de campo foi realizado entre julho e novembro de 2006. Para estudar o efeito de borda, cada transecto foi subdividido em cinco parcelas de 10 metros (parcelas "A", "B", "C", "D" e "E" referem-se, respectivamente às distâncias de 0 a 10m, 10,1 a 20m, 20,1 a 30m, 30,1 a 40m e 40,1 a 50m da trilha) e então foi analisada a distribuição dos indivíduos arbóreos ocorrentes a partir do gradiente borda/ interior da mata.
RESULTADOS:
Foram amostrados 111 indivíduos, sendo encontrados 6 indivíduos mortos em pé, 6 lianas (cipós), 2 samambaias e apenas 1 palmeira. Em média, cada transecto incluiu 24 indivíduos, sendo que, no transecto 4 foi amostrado um número menor de indivíduos, com média de CAP e altura inferiores aos demais transectos. Quanto às parcelas, os últimos 10 metros amostrados (parcela "E", de 40,1 a 50m) possuem os dados mais elevados (densidade de 27 indivíduos, médias de CAP 24,5cm e altura 4,75m) quando comparado à parcela "A", 0 a 10m de distância da trilha (densidade de 25 indivíduos, médias de CAP 21,5cm e altura 4,25m). Todos os indivíduos mortos em pé (6) se encontram nas parcelas "D" e "E" (3 em cada), das 6 lianas amostradas, 3 se encontram na parcela "A" (das restantes, 1 em cada das parcelas "C", "D" e "E"), as 2 samambaias se encontram nas parcelas "D" e "E". Segundo a literatura pesquisada, seria esperado encontrar, próximo à borda, maior densidade de lianas e árvores mortas, enquanto que, no interior, espera-se encontrar maior densidade de samambaias e altura média das árvores. Os resultados corroboram todas as expectativas, exceto a alta densidade de indivíduos mortos em pé encontrados no interior da mata.
CONCLUSÃO:
1. Considera-se a hipótese confirmada, visto que a parcela "A" apresentou menores valores médios de comprimento e altura, quando comparados aos valores encontrados na parcela "E"; 2. A amostragem de indivíduos mortos em pé apenas nas parcelas mais distantes da borda ("D" e "E") pode ser explicada pelo método de inclusão da metodologia, em que apenas indivíduos com valor de CAP igual ou superior a 8cm são amostrados, excluindo qualquer tronco caído ou desenraizado que não atingisse 1,30m de altura, estes sim encontrados em abundância; 3. A disposição das lianas (concentradas na borda) e das samambaias (concentradas no interior) está de acordo com outros estudos de fragmentação, evidenciando o efeito de borda advindo da trilha inserida no fragmento florestal em questão; 4. O trabalho apresentado pode ser considerado inovador, visto que a maioria dos trabalhos propostos para estudar o efeito de borda são realizados a partir da borda exterior do fragmento, e não de trilhas e/ou clareiras inseridas no mesmo; 5. Ao fim do trabalho realizado confirmou-se que a trilha em questão causa distúrbio na comunidade estudada. Distúrbio este observado através do estudo do gradiente borda/ interior da mata.
Palavras-chave: Mata Atlântica, Ecoturismo, Fitossociologia.