62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística
OLIPÍADAS DE LÍNGUA PORTUGUESA: BABEL ENTRE DUAS TEORIAS E UM MATERIAL DIDÁTICO
Leandro Silva Bezerra 1
Daniella de Souza Bezerra 2
Calixto Júnior de Souza 1
1. Universidade Federal de Goiás/UFG
2. Profa. Dnda. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás
INTRODUÇÃO:

Embuídos da missão de contribuir para a melhoria do conhecimento  e aprimoramento da escrita de alunos de escolas públicas brasileiras,  o Ministério da Educação e a Fundação Itaú Social vem realizando ações de formação de professores bem como um concurso de produção de texto, qual seja,  Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. Para tal,  em 2008, foi distribuído um material composto por sequências didáticas para os professores com orientações para a produção de textos acerca do tema O Lugar onde vivo, nos gêneros 1) poesia (quarta e quinta séries ou quinto e sexto anos), 2) memórias (sétima e oitava séries ou oitavo e nono anos), e 3) artigo de opinião, para a segunda e a terceira séries do ensino médio.Não obstante a babel teórica entre gêneros textual e gêneros  do discurso, o caderno do professor para o terceiro gênero, intitulado Pontos de vista (GAGLIARDI; AMARAL, 2008), incorpora  ambas nas suas referências bibliográficas ao utilizar o  posicionamento tanto de Bakhtin quanto de Marcuschi. Diante disso, este trabalho verifica e discute as concepções de gêneros adotadas e diluídas nesse material com vistas a entender se o trabalho proposto é a produção de um dado gênero textual ou de um gênero do discurso.

METODOLOGIA:

Nosso corpus, Pontos de Vista,  contém doze oficinas organizadas em sequências didáticas.Ainda há no fim deste material  as seguintes seções: Critérios de avaliação, Textos recomendados, Recado final, Para saber mais ainda e  Referências bibliográficas. Contudo, este trabalho se centra na penúltima  seção vez que ela traz as concepções de Língua, discurso, texto, papel da escola, sequência didática e mais nove passos a serem trabalhados consonantemente com as oficinas. Ademais,   selecionemos três das doze oficinas, a saber, a 3ª,a 4ª  e  a 7º. A partir, de uma leitura panarômica de todas oficinas, hipotetizamos que as  três juntas formavam a base primária do gênero do discurso. A partir de uma análise de cunho interpretativista, discutimos a (não) presença da teoria do gêneros textuais e/ou dos gêneros do discurso. Vale assinalar que entendemos que o gênero textual transcreve-se paralelamente a vida, por outro lado, no gênero discursivo, a vida é imbricada nos textos. Esse último se difere também do primeiro pelos seguintes quesitos, tema; aforma composicional;  marcas linguísticas; apreciações valorativas;  condições e produção diretamente ligadas as situações sociais e não ao lugar propriamente dito.

RESULTADOS:

Na terceira oficina, o tema da Olimpíada foi empregado em coêrencia com a teoria do gênero do discurso bakhtiniano, bem como há, na quarta oficina, evidências da estrutura composicional da mesma teoria vez que objetiva-se expor aos alunos as formas existentes no gênero artigo de opinião. Na quinta oficina, cujo objetivo é "conhecer e usar expressões que articulam o artigo de opinião", constata-se um hibridismo teórico entre as teorias de gêneros textuais e gêneros do discurso. Diferentemente das outras oficinas, essa propõe atividades em vez de etapas e ambas as atividades utilizam quadros, um com uma tabela de atividades e o outro com elementos articuladores. Um dos quadros traz apenas traços estritamente linguísticos presentes no gênero artigo de opinião, fato que está ligado ao estilo, mas esse é mais do que marcas linguísticas. Por outro lado, na seção Para saber mais ainda,  não há convicentes especificações da teoria de gêneros norteadora  das concepções subjacentes ao caderno.  Exceções são evidenciadas no final da subseção O papel da escola, na qual há uma marca bakhtiniana  que relaciona as esferas cotidianas de interaçã,o relacionando-as a discurso e na subseção Sequências didáticas, na qual é explicitado que o material seue a teoria de gêneros textuais.

CONCLUSÃO:

Com o próposito de dicotomizar as teorias de gêneros (não) diluídas em Pontos de vista (GAGLIARDI; AMARAL, 2008),  nos apoiamos nas compreensões de Bakhtin e Marcushi, os quais encabeçam os estudos de gêneros textuais e  gêneros do discurso, respectivamente. A análise das oficinas aqui priveligiadas mostrou que apesar do material se declarar partidário  da primeira teoria, há em seu contéudo e organização evidências marcantes dos atributos da segunda. Tal confluência pode se justificar pela relação de complementariedade de ambas principalmente no que tange a dimensão linguagem, a qual é concebida como indissociável às questões sociais.Bakthin adentra mais e fala que ela é  também ideológica e histórica, que está como uma malha dissolvida em toda sociedade humana e suas inter-relações ocorrem em âmbitos mais complexos ou mais simples. Tal dependência sócio-linguística faz com que surjam uma infinidade de formas de interação, ou seja, uma infinidade de gêneros discursivos. Assim como Pontos de vista, vários outros são produzidos em contexto brasileiro sem obter êxito no que tange a elaboração de um material didático que realmente materialize a teoria que se propõe.

Palavras-chave: Caderno do professor da Olímpiada de LP, Gêneros textuais, Gêneros do discurso.