A docência em Educação Física no Brasil vem sendo caracterizada historicamente por uma prática técnico-biológico-esportiva. Diferentes autores retratam esta visão tecnicista que permeia a prática da Educação Física brasileira. Em Marinho (2005), encontramos um referencial para análise da Educação Física brasileira baseada na pedagogia do consenso e do conflito. A partir dos anos 80, surgiram formas de abordagens pedagógicas de Educação Física escolar pautadas em referenciais como Oliveira (1983), Bracht (1989), Kunz (1994), que demarcaram a história da Educação Física no Brasil. As discussões das questões trazidas por estes e outros autores são importantes para explicar os pressupostos teórico-metodológicos que estão trás do ato de ensinar, estreitando a relação entre o pensar fazer e o ato de fazer. Dessa forma, o presente estudo propõe-se a investigar elementos que permitam identificar o referencial teórico-metodológico presente na condução de aulas de Educação Física escolar por professores do ensino fundamental. O objetivo é verificar se a proposta pedagógica utilizada está aproximada da pedagogia do Consenso ou do Conflito. A pesquisa torna-se relevante, na medida em que pode contribuir com o debate para uma prática pedagógica crítica transformadora na Educação Física.

Inicialmente, foi realizada uma revisão de literatura sobre o tema proposto para investigação. Daí, a delimitação em investigar os referenciais teórico-metodológicos presentes na prática docente do professor de Educação Física do Ensino Fundamental, na Rede Pública da Cidade de Campo Grande-MS. Para tanto, adotamos o referencial teórico-metodológico da Pedagogia do Consenso e do Conflito, discutido por Marinho (2004), para análise dos dados obtidos. Diante do Problema de Investigação estabelecemos os seguintes procedimentos metodológicos: 1) Seleção de vinte professores, de ambos os sexos, que atuam com a disciplina Educação Física no Ensino Fundamental em escolas da Rede Pública da cidade de Campo Grande - MS. Os professores foram selecionados mediante convite e posterior interesse de participação. 2) Realização de entrevista com os professores selecionados, baseada em um roteiro elaborado pelos pesquisadores, com perguntas abertas e fechadas sobre a prática pedagógica docente. 3) Observação de cinco aulas ministradas por cada um dos professores selecionados para a pesquisa, com base em um roteiro comum de observação elaborado pelos pesquisadores.

A maior parte dos professores entrevistados ainda cultiva uma visão técnico-esportiva no ensino de Educação Física que se reduz a ensinar modalidades esportivas para os alunos participarem de jogos interclasses e com outras escolas, com objetivo de ganharem medalhas e troféus. Ao escolherem por temas relacionados ao esporte e brincadeiras em forma de jogo, demonstram que seus interesses estão voltados mais para a técnica esportivista ou para a recreação. Percebemos que as aulas de Educação Física observadas nas escolas públicas pesquisadas não produzem questionamentos sobre a ordem social vigente, prioriza-se seguir um planejamento para alcançar a meta de conteúdos estipulados para aquele ano letivo. O conteúdo a ser ministrado é somente esporte, sendo em cada bimestre uma modalidade esportiva. Os alunos não são orientados para uma formação crítica e participativa na sociedade. Não se observa uma prática docente com compromisso educativo para a formação do homem cidadão - crítico, participativo e consciente do seu papel interventor na realidade social em que se encontrar inserido.

Com base na análise dos dados e resultados apresentados, conclui-se que a prática pedagógica docente em educação física de escolas públicas de Campo Grande/MS está mais aproximada da pedagogia do Consenso. Não há uma preocupação em preparar indivíduos críticos aos conceitos da ideologia dominante. A pedagogia do Consenso está pautada na aceitação e afirmação em torno das idéias dominantes, de modo a reforçar a manutenção do sistema político-social vigente. Dessa forma, a tarefa do consenso como pedagogia utilizada é ensinar o exercício da tolerância. Tolerância às injustiças sociais, a exploração do homem pelo homem, promovendo às classes e grupos excluídos uma noção de impossibilidade à mudança reforçando a manutenção da ordem social vigente e/ou adptação/adequação dos indivíduos na sociedade.