62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 3. Microbiologia
CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE CALICIVÍRUS HUMANO EM AMOSTRAS FECAIS DE CRIANÇAS ATENDIDAS EM UM POSTO DE SAÚDE DE BELÉM, PARÁ ENTRE OS ANOS DE 1998 E 2000
Jones Anderson Monteiro Siqueira 1
Inaê Santiago do Nascimento 1
Darleise de Souza Oliveira 1
Luana da Silva Soares 1
Glicélia Cruz Aragão 1
Yvone Gabbay Mendes 1
1. Instituto Evandro Chagas
INTRODUÇÃO:
Os norovírus (NoVs) juntamente com os sapovírus (SaVs) pertencem à família Caliciviridae e são os mais importantes patógenos associados a surtos de gastrenterite ocorrendo principalmente em locais fechados como escolas, navios-cruzeiro, creches, entre outros. Acometem todas as faixas etárias, sendo mais virulentos em crianças e idosos. A alta infecciosidade destes patógenos sugere uma grande quantidade de rotas de transmissão, sendo a principal delas a fecal-oral, pelo consumo de água e alimentos contaminados, contato pessoa-a-pessoa, fômites, aerossóis e vômitos. A infecção é caracterizada pelo aparecimento de diarréia, vômitos, náuseas e cólicas abdominais que duram geralmente cerca de 48 horas. Baseados em informações genéticas de seqüenciamento, os NoVs são divididos em cinco diferentes grupos genéticos (GI, GII, GIII, GIV e GV), estando os genogrupos I, II e IV associados à gastrenterite humana. O GII também contém cepas suínas, o GIII foi apenas detectado em gado e o GV em roedores. Os NoVs GII têm sido descritos como principais causadores de surtos mundialmente. O objetivo da presente pesquisa foi a detecção e caracterização gênica de calicivírus humano (HuCVs) em crianças menores de 5 anos atendidas no Posto de Saúde do Marco, localizado na cidade de Belém, Pará.
METODOLOGIA:
As amostras fecais foram coletadas de maio/1998 a maio/2000. Suspensões a 10% foram preparadas em Tris Ca++ e utilizadas na extração do RNA viral, pelo método da sílica, como descrito por Boom e col. (1990). Em seguida, foram submetidas à técnica de Reação em Cadeia mediada pela enzima Polimerase (RT-PCR), utilizando os iniciadores 289/290 que detectam a presença de ambos os gêneros de HuCVs. As amostras que apresentaram bandas de 319 e 331 pb, quando visualizadas em gel de agarose (1%), foram consideradas positivas para NoVs e SaVs, respectivamente. O material genético foi purificado com kit comercial e em seguida seqüenciado com uso do Kit Big Dye Terminator (v.3.1) em eletroforese capilar de seqüenciador automático. A análise filogenética foi realizada usando o programa MEGA 3.1, método de Neighbor-Joining, teste de bootstrap, sendo as seqüencias obtidas comparadas às outras do GenBank. Todas as amostras classificadas no gênero Norovirus foram retestadas por RT-PCR/seqüenciamento utilizando-se os iniciadores MON 432/434 e 431/433 que detectam os genogrupos GI e GII de NoVs, respectivamente. A metodologia empregada na análise com esses iniciadores foi a mesma usada com os primers para detecção dos HuCVs.
RESULTADOS:
Das 276 amostras testadas, 8,3% (23/276) foram positivas para os HuCVs, sendo 65,2% (15/23) classificadas como Norovirus, genótipos GII-4D (93,3%-14/15) e GII-b (6,7%-1/15), considerada uma nova variante. Sapovírus foram detectados em 34,8% (8/23) das amostras positivas, caracterizadas como genótipo GI-1 (87,5%-7/8) e GII-1 (12,5%-1/8). O resultado do seqüenciamento com os iniciadores específicos para NoVs, referentes a outra região do genoma do vírus, são similares aos alcançados com o par 289/290, com duas exceções. A distribuição por faixa etária demonstrou que as crianças mais acometidas foram as >18 a 24 meses (11,5%-3/26) e a maior incidência de infecção foi observada em outubro/1999 (3/10-30%). O resultado encontrado no posto de saúde (8,3%) foi similar ao observado no Hospital Infantil Santa Terezinha (8,9%-24/271), com espécimes coletados no mesmo período. Com exceção de uma amostra, considerada uma nova variante de NoVs, todas foram classificadas como GII-4D, demonstrando a ampla circulação desta cepa em âmbito hospitalar e ambulatorial entre 1998 e 2000. Este mesmo genótipo foi registrado em outras localidades do Brasil, como São Paulo (1995-1999) e Rio de Janeiro (2004). Enfatiza-se a presença dos SaVs nas amostras do posto, o que não foi observado nos espécimes provenientes do hospital.
CONCLUSÃO:
Diversos estudos já foram realizados mundialmente, demonstrando a importância desses agentes nos quadros de gastrenterite, porém, a maioria refere-se a pesquisas conduzidas em hospitais, sendo escassos os dados concernentes à sua detecção em ambulatórios. Devido a isso, constituiu-se um achado de extrema importância a detecção dos HuCVs, especialmente dos SaVs, por demonstrar pela primeira vez no norte do país a presença desses vírus nesses estabelecimentos de saúde. Acredita-se que em Belém esse genótipo começou a circular provavelmente a partir do ano de 1998, pois em um estudo realizado no período de 1992/1994 em outro hospital da cidade, esta cepa não foi observada, sendo também encontrado o genogrupo II, porém tipos 3, 8, 12, e algumas indeterminadas entre os tipos 1 e 4. No Brasil ainda são limitados os estudos em relação à prevalência, diversidade genômica e epidemiológica destes vírus. Por isso, todas as pesquisas que visam obter informações acerca destes patógenos são de extrema importância para a concepção de estratégias de intervenção terapêutica e vacinas que poderão minimizar a morbidade, ocasional mortalidade e extensos encargos econômicos associados às gastrenterites, especialmente na região amazônica, cujos dados são muito escassos.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Calicivírus, Sapovírus, Norovírus.