62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 6. Serviço Social do Trabalho
O TRABALHO DAS FACCIONISTAS DE FORTALEZA: UMA REFLEXÃO SOBRE GÊNERO E TRABALHO
Renata Gomes da Costa 1
Helena Maria de Paula Frota 1
Janaina de Sousa da Silva 1
Myllene Ramalho de Oliveira 1
Thaís Cristine de Queiroz Costa 1
Willyan Mitterrand Belmino da Silva 1
1. Universidade Estadual do Ceará/UECE
INTRODUÇÃO:
O processo de reestruturação produtiva brasileira introduziu mudanças nas organizações empresarias, seja no tocante a adoção de tecnologia, na reorganização espacial e utilização de novas formas de gestão da força de trabalho. Atendendo as exigências impostas por uma nova organização da produção, impulsionadas pela necessidade de atrair investimentos, alguns estados no Nordeste do país, especificamente o Ceará, vêm trabalhando em parceria com grandes empresas, no formato de facções, que tem como objetivo difundido, o fortalecimento de sua economia a geração de emprego e de renda. Este estudo se propõe investigar a saga das costureiras - mulheres trabalhadoras na indústria de confecção no Ceará - frente às inúmeras mudanças havidas no processo produtivo com o desmonte das grandes fábricas deste ramo e a retomada de novas organizações de trabalho, dando outra conotação às relações produtivas. Como decorrência do estudo, ressalta-se o registro do aumento do uso da força de trabalho feminino no setor no estado. Compreender os motivos dessa mudança e o significado para esta categoria especialmente no que diz respeito às relações de gênero, trabalho doméstico, divisão sexual do trabalho e suas configurações dentro das relações trabalhistas, são as preocupações essenciais desse projeto.
METODOLOGIA:
Os procedimentos metodológicos foram: levantamento bibliográfico e estatístico sobre facções; pesquisa bibliográfica e documental; pesquisa exploratória; observação simples; aplicação de quarenta e quatro questionários com mulheres faccionista. As questões norteadoras do questionário aplicado foram: perfil das entrevistadas; renda mensal; vínculo empregatício; condições de trabalho; organizações da produção; questões atinentes ao trabalho autônomo e ao trabalho doméstico; perspectivas futuras; relações de gênero no âmbito doméstico. Realizou-se estudo de caso a fim de aprofundar implicações nas relações de gênero com as faccionistas entrevistadas.
RESULTADOS:
As faccionistas são trabalhadoras domiciliares que realizam acabamento de peças contratadas por pequenas, médias e grandes empresas como mão-de-obra terceirizada, visando essa forma de contrato, a redução de custos com a mão-de-obra e o aumento da lucratividade. As faccionistas estão emersas nessa relação de contrato desdobrando-se, em sua maioria, em duplas jornadas de trabalho, costurando e realizando as tarefas domésticas. Aplicou-se quarenta e quatro questionários com faccionistas, colhendo os seguintes dados: a media de idade das entrevistadas é de 31 a 40 anos; 46,7 % são solteiras; 40% não concluíram o ensino fundamental; 46,7% a renda advém do trabalho na facção; 64,4% gastam a renda com as despesas domésticas; 93,3% não possui vínculo empregatício; 57,8% trabalham a mais de dois anos na facção; 33,3% elencaram como vantagem do trabalho autônomo não ter patrão; 33,3% mencionaram como desvantagem a ausência dos direitos trabalhistas; 53,3% além de trabalharem na facção realizam o trabalho doméstico; 77,8% trabalham oito horas diária; 55,6% trabalham seis dias na semana; referente as perspectivas futuras 22,2% desejam possuir a própria facção e 6,7% aspiram ter carteira assinada; 40% se sentem como mulher felizes e realizadas.
CONCLUSÃO:
A terceirização constitui-se como elemento central dos novos modelos produtivos, em que as empresas enxugam seus custos transferindo a provisão dos serviços, antes desenvolvidas por ela, para uma terceira parte que assume a responsabilidade da execução destas atividades. A terceirização é muito comum nas indústrias de confecção, por ser um ramo industrial baseado no uso intensivo de mão-de-obra barata. Atrelado a esse fator, tem-se a maciça entrada das mulheres no mercado de trabalho, seja por motivos de garantia de sobrevivência, incremento de renda familiar ou emancipação financeira. Essa inserção feminina se dá em termos de uma divisão sexual do trabalho, em que as funções femininas são vistas como não exigência de grande esforço físico e desprestigiadas socialmente, isto é, o homem se apropria da tecnologia e as tarefas não-qualificadas ficam reservadas às mulheres que geralmente estão relacionadas ao cuidar com os filhos e o trabalho doméstico. As faccionistas se inserem nesse contexto da divisão sexual do trabalho, da atividade laboral terceirizada, em que as mulheres trabalhadoras mesmo almejando a emancipação financeira continuam como trabalhadoras do lar sem proteção social, necessitando, assim, de uma mudança estrutural e cultural em prol de uma real igualdade gênero.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: gênero, terceirização, trabalho doméstico .