62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 12. Educação Física e Esportes - 1. Educação Física e Esportes
EDUCAÇÃO REFLEXIVA: CONCEPÇÕES DISCENTES SOBRE O PAPEL DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
Robson Gonçalves Félix 1
Gilson Batista Machado 2
1. Professor na Rede Estadual de Ensino, MG. Doutorando em Educação, UFMS.
2. Professor da Educação Básica na Rede Municipal de Ensino de Uberlândia, MG.
INTRODUÇÃO:
A organização de um ambiente educativo favorável à aprendizagem relaciona-se a um conjunto de fatores que determinam e, ao mesmo tempo, são determinados pela sociedade e suas instituições. Na escola pública brasileira tais condicionantes remetem à gestão do trabalho pedagógico, à conexão entre o local e o global, às estratégias de planejamento e avaliação e à mediação entre os interesses, práticas e expectativas da comunidade. A Educação Física escolar, componente curricular historicamente desarticulado dos ideais de formação crítica, enfrenta atualmente os efeitos dessa falsa autonomia. Rumo à superação do tradicional pragmatismo reprodutivista, o convite à participação dos alunos por meio de uma educação reflexiva abre novos horizontes para o redimensionamento da relação indissociável entre prática e teoria na Educação Física escolar. Essa pesquisa, realizada como uma experiência de ensino-aprendizagem, teve o intuito de investigar entre estudantes do ensino médio de uma escola pública periférica de Minas Gerais as concepções sobre os objetivos e finalidades da escola, da educação e da educação física, subsidiar análises e abordagens sobre as noções e práticas reproduzidas na escola pública, bem como debater as expectativas e contradições expressas no cotidiano.
METODOLOGIA:
A partir dos pressupostos da pesquisa-ação, considerando que a mesma implica planejar, registrar, agir e refletir de maneira mais consciente, sistemática e rigorosa do que é habitual na experiência corriqueira (KEMMIS; MCTAGGART, 1988), foram aplicados, no primeiro semestre letivo de 2007, 87 (oitenta e sete) questionários abertos a alunos do ensino médio de uma escola pública da rede estadual de ensino, situada em região periférica da cidade de Uberlândia, Minas Gerais. A aplicação ocorreu após acordos coletivos com as turmas interessadas, preestabelecendo horários, datas e as respectivas atividades a serem realizadas. As respostas foram analisadas e agrupadas em eixos de ideias ou expressões com características comuns. Conforme a elaboração expressa em cada questionário as respostas foram incluídas em um ou mais dos eixos destacados. Após a sistematização inicial foi realizada uma releitura dos questionários com a finalidade de estabelecer melhores níveis de associação e reduzir a dispersão.
RESULTADOS:
As análises revelaram expressiva frequência de respostas que consideraram a Educação Física como sinônimo de esporte (36%) e a Educação Física escolar como atividades corporais realizadas pelo e para o esporte (39%), ou ainda como atividade compensatória do desgaste provocado pela imobilidade e tensão dos demais componentes curriculares (10%), apesar de haver aqueles que a consideraram como um componente curricular com formas diferenciadas de abordagem (12%). Após a aplicação dos questionários e as reflexões sobre os dados coletados verificou-se que parte da resistência inicial expressa pelos alunos para o desenvolvimento desse tipo de trabalho foi amenizada. Na medida em que grande parte desses alunos não possuía experiências que se aproximassem da abordagem proposta, foi marcante a estranheza e o repúdio ao exercício teórico-reflexivo nas aulas de Educação Física. Após muitas negociações, o processo de discussão coletiva permitiu vislumbrar alguns impactos das práticas mecanicamente reproduzidas e das novas proposições de reflexão crítica, tanto na especificidade da sala de aula quanto na vivência extraescolar.
CONCLUSÃO:
A abordagem realizada sugeriu que os níveis de aprendizado em uma instituição pública de ensino não se relacionam exclusivamente aos conteúdos inscritos no currículo oficial. Parte das lições advém das estratégias de planejamento, organização e abordagem temáticas, sob o impulso do trabalho conjunto dos sujeitos envolvidos no processo educativo. Nessas condições a Educação Física assume a mesma centralidade das demais áreas do conhecimento na medida em que permita, por meio de dinâmicas, práticas e reflexões diferenciadas, provocar na comunidade questionamentos sobre experiências reproduzidas rotineiramente. Para isso urge tanto articular os conteúdos curriculares ao projeto político-pedagógico quanto subsidiar a constante reflexão sobre os papéis, objetivos e condições da escola pública no atual contexto social, político, cultural e ideológico. Muitas ainda são as questões levantadas sobre o tema, tendo em vista que as experiências educacionais são, em grande parte, herdeiras e reprodutoras das práticas tecnicistas, esportivizadas ou higienistas. Promover transformações nesse quadro exige tanto superar as lacunas na formação docente quanto nas subjetividades e expectativas de pais, alunos, gestores e demais sujeitos e instituições que interferem na educação social.
Palavras-chave: Educação, Participação, Educação Física.