62ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 6. Geociências - 1. Climatologia
VARIAÇÃO DA TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DO MAR NO OCEANO ATLÂNTICO DURANTE O EVENTO DE YOUNGER DRYAS
Felipe Viana Pimentel 1
Alexandre Araújo Costa 2
Tyhago Aragão Dias 1
Francisco Franklin Sousa Rios 1
1. Departamento do Curso de Física, Universidade Estadual do Ceará - UECE
2. Prof. Dr./Orientador - Mestrado Acadêmico em Ciências Físicas Aplicadas - UECE
INTRODUÇÃO:
A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) é o principal fenômeno responsável pela formação de precipitação sobre o Nordeste Brasileiro (NEB). A variabilidade interanual do posicionamento da ZCIT é fortemente governada pelas condições superficiais dos oceanos tropicais. Diversos trabalhos já identificaram a importância da configuração do chamado Dipolo do Atlântico como modulador da precipitação sobre o NEB. Se o controle climático dos oceanos tropicais tiver prevalecido no passado, já que a configuração oceano/continente permanece praticamente a mesmo, flutuações nos campos de temperatura da superfície do mar (TSM) no Oceano Atlântico deve ter influenciado o clima sobre essa região, eventualmente determinando a ocorrência de períodos mais úmidos ou mais secos do que o atual. O trabalho aqui apresentado analisa as variações de TSM no Atlântico Tropical no final do Quaternário, o que inclui o Holoceno (período interglacial corrente) e o final do último período glacial. Entre tais períodos, ocorreu o evento de Younger Dryas, a cerca de onze mil e quinhentos anos antes da data presente, caracterizado por sua semelhança com os anos de glaciação. Também são discutidas possíveis implicações para o clima regional sobre o NEB face as variações na TSM desse período.
METODOLOGIA:
Foram analisados dados de reconstrução climática a partir de colunas de coral extraídos ao longo de todo o Oceano Atlântico, com o intuito de cobrir a maior área possível dessa bacia oceânica, incluindo o Mar Glacial Ártico e a região Circumpolar Antártica. Esses dados estão disponíveis no site do "National Climatic Data Center (NCDC)", vinculado ao "National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA)". As séries selecionadas são de períodos diversos sendo proposto a análise apenas dos últimos vinte mil anos, no qual se encontra o último máximo glacial, ou dentro desse período. Neste trabalho, enfatizaremos a evolução temporal da série de TSM nos sítios localizados no interior ou próximo à região do dipolo do Atlântico. Os sítios escolhidos são: ao norte, Cariaco e Tropical; e ao sul, Equatorial Leste e Sudeste. A partir desses dados interpolados, sabendo-se que os padrões de distribuição meridional da TSM são fundamentais na determinação da variabilidade climática sobre o Nordeste Brasileiro, com o aquecimento da porção setentrional ou austral da bacia favorecendo o posicionamento da ZCIT em latitudes mais ao norte ou mais ao sul, estimou-se um Índice do Dipolo do Atlântico para todo o Período estudado
RESULTADOS:
Os resultados relativos à evolução temporal da TSM nos quatro sítios indicados mostram que as águas eram significativamente mais frias em todos os sítios entre dezesseis e vinte mil anos atrás. Entre onze e treze mil anos atrás, as temperaturas oscilaram fortemente, com indícios de mudanças climáticas abruptas. É visível o efeito do evento de Younger Dryas na TSM, principalmente no sítio "Cariaco", ocorrendo variações de TSM menos abruptas nos outros sítios. Tais flutuações foram seguidas, nos últimos onze mil anos, por uma relativa estabilização da TSM no Atlântico. As anomalias médias ao norte e sul da Bacia e o índice de dipolo proposto também foram calculados. Foi verificado um índice de dipolo positivo entre quinze e vinte mil anos atrás, sugerindo um possível período mais seco sobre o NEB. Entre doze e quinze mil anos houve uma relativa estabilização no dipolo com oscilações de dimensão relativamente pequena. O índice de dipolo apresentou grande queda em seus valores durante dois e doze mil anos, sugerindo que o NEB pode ter sido favorecido com períodos úmidos especialmente entre cinco e nove mil anos. Entre mil e dois mil anos atrás, configurou-se a situação atual do clima na bacia do Atlântico com o dipolo favorecendo o clima mais seco no NEB.
CONCLUSÃO:
Durante os últimos vinte mil anos houve mudanças significativas na configuração do dipolo do Atlântico, o que pode ter alterado sensivelmente o comportamento climatológico do NEB. Os dados permitem especular que essa região nem sempre foi semi-árida ao longo de todo o final do Quaternário ou que, pelo menos a área correspondente ao semi-árido foi anteriormente significativamente reduzida, o que foi sugerido por Cane (Cane et. al. 2006), através de registros de pólen, onde encontrou indícios de expansão de vegetação característica de climas mais úmidos para o que é hoje o semi-árido baiano. Na verdade, os dados sugerem a ocorrência, nos últimos vinte mil anos, de um período mais úmido e de um período mais seco que o atual.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Paleoclimatologia, Oceano Atlântico, Younger Dryas.