62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História do Brasil
Açudes: testemunhos da história, patrimônios do Nordeste.
Adriano Wagner da Silva 1
Angela Lúcia de Araujo Ferreira 2, 3
1. Universidade Federal Do Rio Grande do Norte - Departamento de História
2. Universidade Federal Do Rio Grande do Norte - Departamento de Arquitetura e Urba
3. Orientadora
INTRODUÇÃO:
O processo de implantação de açudes e sua utilização nas terras brasileiras remontam ao período colonial onde foram construídos ao longo do espaço geográfico que hoje corresponde ao Nordeste, constituindo-se como uma das principais medidas para neutralizar os efeitos das estiagens e permitir a exploração das novas terras de domínio português. No Rio Grande do Norte, a edificação de obras hídricas pelo viés técnico e científico de cunho positivista de forma sistemática e continuada a partir da fundação da Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS), em princípios do século XX, desempenharia um papel de fundamental importância no processo de integração do território, formação do espaço urbano e no desenvolvimento sócio-econômico das regiões flageladas pelos efeitos das secas. Diante deste processo histórico, este estudo contempla a importância e significação presentes neste conjunto de edificações, percebendo os mesmos como elementos que se caracterizam como importantes testemunhos do passado do sertão Norte-riograndense. Este trabalho busca compreender o papel do "complexo natural e edificado" na constituição do patrimônio histórico e cultural e na promoção da identidade local, procurando identificar os elementos históricos que favorecem o tombamento e preservação destas obras.
METODOLOGIA:
Dentro de uma abordagem da história cultural urbana e do patrimônio cultural e ambiental, a leitura de caráter teórico, a discussão conceitual e metodológica se deu na perspectiva de contemplar os açudes como elementos simbólicos, que pelo seu caráter e importância histórica, de certa forma, contribuem para a construção da identidade de um povo, de um lugar, cuja cultura e sociedade começam a se consolidar no decorrer do século XX. Para a efetivação deste estudo realizou-se o levantamento bibliográfico e de dados empíricos nos acervos do Grupo de estudo História da Cidade e do Urbanismo (HCURb-UFRN), Laboratório de documentação Histórica (LABORDOC), no Campus do CERES em Caicó, sites relacionados com o tema como: www.iphan.org.br, entre outros. Os dados empíricos utilizados foram: cartas patrimoniais produzidas em encontros internacionais no trato sobre a conservação e restauração de monumentos, informações dos relatórios do Ministério da Viação e Obras Públicas, Revistas do Clube de Engenharia, Ilustração Brasileira, obras da Coleção Mossoroense, artigos de jornais da época estudada e discursos de Governo do Rio Grande do Norte produzidos em fins do século XIX inicio do XX.
RESULTADOS:
O estudo partiu de discussões do conceito de patrimônio cultural e das práticas relativas à preservação/conservação do mesmo. Na busca pelo controle e organização do território, havia a necessidade de planejamento, estudo, projetos e execução destas obras, as quais se dariam sobre a perspectiva científica positivista vigente. Desta forma, estas estruturas são a tradução concreta, o "testemunho" da efetivação das formas de saber e agir dos engenheiros que atuaram naquele período na construção de um território preparado para suportar os efeitos dos flagelos. Construções como "Gargalheiras" em Acari, chegam até a abrigar casas pertencentes à "vila operária" edificada durante a sua construção (um relevante conjunto edificado), a qual abrigava funcionários que iam de operários (como serventes e pedreiros), a mestre de obras e engenheiros. Constituindo-se como uma forma de reter e aglutinar a força de trabalho, estas foram erguidas segundo as concepções modernas de "vila operária", utilizando-se de novos equipamentos e estruturas espaciais que modificaram as relações entre os moradores e a área urbana. Estes pontos substanciam a discussão inicial da relevância de uma política de preservação destas construções como patrimônio histórico, objetivando a salvaguarda deste testemunho histórico.
CONCLUSÃO:
O processo de edificação de obras hídricas como o Gargalheiras na cidade de Acari e o Itans em Caicó, abriga uma estreita relação histórica com a estruturação do espaço geográfico semiárido, seus impactos sócio-econômicos, sua concepção pelas elites políticas locais e pelo saber e técnica da engenharia positivista. Sua significação histórico-cultural dentro da formação da sociedade seridoense e seu valor ambiental e turístico para a região são elementos que se somam a necessidade de uma reflexão sobre uma política de preservação (e até mesmo o tombamento, salvaguardando sua história) destas obras pelas instituições responsáveis. Estas grandes barragens se destacam em meio à paisagem local, se confirmando como um "testemunho do passado" que merece ter a sua história preservada, principalmente nos dias atuais em que tanto se discute a importância da água nos sertões do país. Estas questões iniciais visam contribuir com a historiografia local, na medida em que buscam ampliar a discussão sobre o processo de formação do espaço semiárido potiguar a partir da implantação de açudes públicos, em princípios do século XX.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Secas, Patrimônio Histórico, Obras Hídricas.