62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 8. Fisioterapia e Terapia Ocupacional - 1. Fisioterapia e Terapia Ocupacional
INFLUÊNCIA DO CICLO VIGÍLIA-SONO NA FUNÇÃO COGNITIVA E NA QUALIDADE DE VIDA APÓS ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
Débora Carvalho de Oliveira 1
Paula Regina Aguiar Cavalcanti 1
John Fontenele Araújo 1
Tania Fernandes Campos 1
1. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
INTRODUÇÃO:
O ciclo vigília-sono (CVS) é um ritmo biológico determinado endogenamente e influenciado por agentes externos e que envolve três processos básicos: homeostático, circadiano e ultradiano. São poucos os estudos investigando o CVS de pacientes que tiveram um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Esta é uma patologia que provoca danos às funções neurológicas. As lesões hemisféricas modificam a arquitetura do sono e os pacientes tendem a ficar mais tempo na cama, apresentando baixa eficiência do sono e no estágio crônico do AVC ocorre uma fragmentação da fase de vigília, com vários episódios de cochilos em diferentes turnos e qualidade do sono ruim. A necessidade de realizar um estudo em pacientes com AVC se deu em função da alta incidência e frequente morbi-mortalidade e de uma melhor avaliação da qualidade de vida dos pacientes. Nesse sentido, verificar a influência do CVS na função cognitiva e na qualidade de vida pode contribuir para identificar um preditor da evolução e prognóstico do paciente, definindo mais precocemente a melhora do paciente quanto aos aspectos temporal, social e de saúde. Este trabalho teve como objetivos: analisar as características homeostáticas e circadianas do sono e vigília; comparar a qualidade de sono e a qualidade de vida entre os pacientes e saudáveis; identificar o grau neurológico dos pacientes e correlacionar a qualidade do sono com os componentes da qualidade de vida.
METODOLOGIA:
A amostra foi composta por indivíduos de ambos os sexos, distribuídos em dois grupos, sendo o grupo 1 composto por 22 indivíduos (12 mulheres e 10 homens) que sofreram AVC e o grupo 2, de 20 indivíduos saudáveis (7 mulheres e 13 homens). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN. Os instrumentos de avaliação aplicados aos pacientes foram: o NIHSS para avaliar o comprometimento motor, sensorial, e cognitivo e determinar o grau neurológico; o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (IQSP), para qualidade do sono (QS) e SF-36, para a avaliação da qualidade de vida (QV). Na avaliação do padrão de sono-vigília, foi realizado estudo de actimetria. A análise dos dados foi realizada através do programa SPSS 15.0. Para comparação entre os grupos quanto às variáveis circadianas e homeostáticas foi utilizado o teste t`Student não pareado, o teste de Mann Whitney foi aplicado para comparação entre os grupos quanto à QS e QV. Utilizou-se o teste de correlação de Spearman para verificar correlação entre a QS e a QV, e as variáveis circadianas e homeostáticas. As variáveis da actimetria foram analisadas pelo Software Actiware Mini Mitter Version 3.4.
RESULTADOS:
Quanto ao IQSP observou-se diferença significativa entre pacientes e saudáveis, no qual os pacientes em média tiveram uma qualidade ruim do sono (pacientes: 8,4 ± 3,4; saudáveis: 6,2 ±2,5; p= 0,0001). A análise do controle circadiano do sono-vigília determinou que não houve diferença significativa na hora do pico da atividade entre pacientes e saudáveis (t= 1,61; p= 0,108); porém houve diferença significativa quanto à soma da atividade (t= 6,248; p= 0,0001), com valores menores para os pacientes . Na análise do controle homeostático foi possível observar que os pacientes tiveram maior duração do sono, maior latência e índice de fragmentação e menor eficiência do sono. Em relação à análise da QV, foi encontrada diferença significativa entre os pacientes e saudáveis para todas as variáveis (p< 0,001). A análise de correlação apontou associação entre todos os componentes da QV e a QS. Maiores coeficientes de correlação foram encontrados entre a QV com a soma da atividade dentre as variáveis circadianas. Com relação às variáveis homeostáticas, a correlação com a eficiência foi a que apresentou maiores coeficientes. Os resultados ocorreram provavelmente porque esses pacientes se encontravam no estágio crônico do AVC que foram submetidos à tratamento fisioterapêutico recebendo estimulação sensorial e realizando exercícios físicos, favorecendo portanto, a organização temporal.
CONCLUSÃO:
Em conclusão, os resultados encontrados no estudo apontaram estabilidade da expressão circadiana do sono-vigília com alteração apenas na amplitude do ritmo. Entretanto, foram encontradas alterações homeostáticas significativas relacionadas com maior duração do sono, latência e fragmentação do sono, assim como menor eficiência. Dados adicionais mostraram comprometimento da qualidade do sono. Os resultados observados indicam comprometimento da interação do controle circadiano e homeostático do sono-vigília desencadeado principalmente pelo homeostático e diminuição do nível de atividade consequentes da lesão cerebral ocorrida, influenciando a qualidade de vida dos pacientes que se apresentou comprometida.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Ciclo vigília-sono, Acidente Vascular Cerebral, Qualidade de Vida.